“Eu tenho mandato até 2024, não vou abreviar”, afirma Campos Neto

"O que eu sempre disse é que não estava disposto a recondução. Já fiz bastante coisa, tem que passar o bastão para o próximo", disse o presidente do BC

Estadão Conteúdo

José Cruz/Agência Brasil
José Cruz/Agência Brasil

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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, garantiu que fica no cargo até o final do seu mandato, que tem prazo até o fim de 2024, em entrevista à Globonews. Com a indicação do secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Gabriel Galípolo, à Diretoria de Política Monetária, surgiram rumores de que seria uma “oferta casada” para a presidência do BC e, assim, temores no mercado financeiro de que Campos Neto deixasse a cadeira antes do fim do seu mandato.

“Eu tenho mandato até 2024, não vou abreviar. O que eu sempre disse é que não estava disposto a recondução. Já fiz bastante coisa, tem que passar o bastão para o próximo”, disse o presidente do BC, reforçando que sempre foi contra a recondução, desde a discussão da lei de autonomia.

Sobre uma possível transição com Galípolo, o presidente disse que não era possível antecipar o processo, já que quem decide o próximo mandatário é o governo. “Não sei, acho que ele vai chegar, tem o trabalho da diretoria de Política Monetária a ser feito. A gente vai discutir ao longo do tempo. Quem decide o novo presidente é o governo, pode decidir por alguém que está na casa ou não.”

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Campos Neto lembrou que a cadeira de Política Monetária exige um trabalho de mesa de operação e que Galípolo vai ter de aprender a parte técnica do dia a dia. “Vai ser um processo de aprendizado para ele, foi para mim quando cheguei”, disse, acrescentando que será enriquecedora a interação do atual número 2 da Fazenda com os outros diretores.

O presidente do BC ainda elogiou novamente as indicações de Galípolo e de Ailton Aquino, técnico da autarquia, para a Diretoria de Fiscalização. “Converso bastante com Galípolo desde o início do governo. Ailton é super querido dentro do BC. As indicações do governo fazem parte da regra do jogo da autonomia, foram boas.”

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Dinâmica do Copom

Sobre a dinâmica do Comitê de Política Monetária (Copom) com a entrada dos novos diretores, Campos Neto disse que não sabe como cada diretor vai votar, mas que o debate faz parte da institucionalidade.

Ele citou ainda que hoje já há diretores que pensam diferente, em referência à divergência de opiniões sobre a decisão de juros de setembro, quando dois diretores queriam uma nova alta para 14%.

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“Tenho certeza que os diretores que entrarem entenderão que o processo é tecnico”, afirmou ele, para quem o BC tem que ficar à parte das narrativas políticas.

Em meio à ofensiva do governo pela queda da taxa de juros, o presidente do BC ainda repetiu que a personificação das críticas em seu nome mostra uma falta de entendimento da autonomia do BC e do processo colegiado de definição da política monetária. “Dizer que o BC se guia por uma pessoa é falta de entendimento sobre o processo.”

Moeda digital

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O presidente do Banco Central afirmou ainda que os bancos estão “muito entusiasmados” com a Moeda Digital do Banco Central (CBDC, na sigla em inglês) porque vai facilitar o processo de digitalização.

Na quarta-feira, o BC anunciou 14 consórcios selecionados para participar dos testes do real digital, que, em sua primeira fase, vai avaliar as trocas com a moeda por meio da simulação de negociações de títulos públicos. A expectativa é de que a CBDC seja lançada no fim do ano que vem.

Para as famílias e empresas, o presidente do BC também acredita que vai ter um efeito de facilitação da vida, que ainda não foi percebido, assim como aconteceu logo no lançamento do Pix.

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Campos Neto argumentou que a moeda digital transforma a moeda em um contrato digital, que elimina riscos de transferência de titularidade em um processo de compra e venda, por exemplo. “Não faço o pagamento para uma pessoa, mas para um contrato, que gera um registro automático. Vai facilitar a intermediação financeira e baixar custos.”