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SÃO PAULO – Neste domingo, os argentinos foram às urnas e elegeram presidente o candidato Alberto Fernández, peronista que tem como vice a ex-presidente Cristina Kirchner. A possível volta do intervencionismo já provocou sustos no mercado e deixou investidores em alerta.
Depois de Fernández aparecer 15 pontos percentuais à frente do liberal Mauricio Macri nas primárias, em agosto, a bolsa da Argentina caiu 30% e o dólar disparou 35,6%. No ano, a depreciação cambial é de 58,2%.
O resultado da eleição deverá gerar impactos significativos para o Brasil, na opinião de especialistas consultados pelo InfoMoney.
Em um artigo recente, o economista Alexandre Schwartsman mostrou o impacto que a recessão argentina gerou na economia brasileira, especialmente na indústria. Segundo ele, há pouco mais de um ano, a Argentina era o destino de cerca de 20% das exportações brasileiras de manufaturas. Hoje, a fatia caiu para 12%.
Em relatório, o Bradesco destaca que a recessão prolongada na Argentina contribuiu para que, nos últimos 12 meses, as exportações brasileiras para o país acumulassem queda de 40%, uma perda de US$ 7 bilhões, com destaque para o complexo automotivo, que representa mais de 30% da pauta.
Em outubro, a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), revisou suas projeções para as exportações de automóveis em 2019, de uma queda de 6% para uma retração mais elevada, de 33,2%.
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“É o nosso mercado externo mais importante, que sozinho representa 175 mil veículos exportados a menos em 2019”, disse Luiz Carlos Moraes, presidente da entidade.
Segundo Margarida Gutierrez, professora do Coppead, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, “há estudos apontando que o PIB brasileiro poderia ser 0,5 ponto percentual mais alto se não fosse a crise argentina.”
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Além do impacto sobre as exportações brasileiras, Margarida destaca dificuldades no âmbito do Mercosul. “É preciso uma convergência na união aduaneira e o presidente Jair Bolsonaro já avisou que não negociaria com eles. Pode ser um grande problema até para o acordo do bloco com a União Europeia”, avalia.
Um impacto ainda maior no setor pode ser visto caso o Brasil decida sair do Mercosul. Estudos preliminares da Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostram que uma eventual saída poderia gerar uma perda de 2,4 milhões de empregos e R$ 52 bilhões de massa salarial.
Como ficam os investimentos
A vitória de Fernández já estava precificada nos preços de títulos, ações e taxa de câmbio, afirmou à Bloomberg, antes do resultado deste domingo, Carolina Gialdi, estrategista-sênior de renda fixa do BTG Pactual.
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Segundo ela, há tempo para os investidores digerirem os planos de Fernández antes de ele assumir o cargo, em dezembro.
“A rejeição populista à agenda de Macri já provocou um impacto lá: renegociação da dívida, o peso sob pressão, menos investimentos. A população nas primárias rejeitou Macri e o que ele representa”, afirma Tom Wilson, diretor de renda variável para mercados emergentes da Schroders.
Sobre o novo governo de Fernández, Wilson avalia que ainda é muito cedo para riscar a Argentina do mapa dos investimentos. “Será interessante saber como vai ser a agenda dele. Vamos esperar para ver o quanto ela será pragmática.”
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Uma pesquisa do banco suíço UBS com 125 investidores e 51 empreendedores argentinos com pelo menos US$ 1 milhão em ativos mostrou que 65% deles planejam aumentar sua alocação em ativos seguros.
Realizado entre 20 de setembro e 8 de outubro, o levantamento revelou ainda que apenas 40% estão otimistas com a economia e com as ações locais.
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Na Bolsa brasileira, o investidor também deve acompanhar de perto o impacto das eleições nos papéis de companhias com exposição no país, seja por meio de braços de subsidiárias na Argentina, seja pela grande representatividade das exportações nas receitas.
É o caso de empresas como CVC, Mahle Metal Leve, Randon, Marfrig, Minerva, Banco do Brasil, Usiminas, Grupo Pão de Açúcar, Alpargatas, Ambev e Marcopolo. Leia mais clicando aqui.
Já Paulo Clini, diretor de investimentos da Western Asset no Brasil, descarta o risco de contágio, que poderia levar os investidores a tirar dinheiro do Brasil com medo de que tenha o mesmo destino da Argentina. Para ele, os investidores já enxergam os países como duas economias com características particulares e específicas.
No passado, lembra, ambos os países estavam em fases semelhantes de ciclo de ajustes, com problemas de crescimento e grande necessidade de fluxo de capital estrangeiro.
Mas, enquanto Brasil adotou um caminho de reformas, com disciplina fiscal e controle mais rígido de inflação, a Argentina continuou vivendo muitos dos problemas que já tinha.
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