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Apesar da menção à manutenção do ritmo atual de cortes 0,50 ponto percentual nas “próximas reuniões” como o mais apropriado a ser adotado – o que pode ser considerado como um tom mais leve (“dovish”) por parte do Copom – os economistas encontraram sinais mais duros “(hawkish”) na comunicação do BC nesta quarta-feira (1). Comentários sobre a piora do cenário externo e uma ajuste marginal, porém para cima, nas projeções de inflação de 2024 e 2025, justificam essa leitura.
Leonardo Costa, economista da ASA Investments, por exemplo, destaca que o Copom comentou mais detidamente, em seu balanço de riscos, sobre a piora do cenário externo, com elevação da curva longa nos Estados Unidos e com a escalada do conflito no Oriente Médio.
Outro ponto de atenção, segundo ele é que o BC não celebrou os dados correntes de inflação, que vieram mais baixos na medida dos núcleos, especialmente nos serviços, e que isso pode ser lido como mais “hawk”.
Nas projeções de inflação, Costa cita a elevação para 2024 (de 3,5% para 3,65), baseada na alta dos administrados, e para 2025 (de 3,1% para 3,2%) baseada em alta nos livres. “Em resumo, foi pouco mais hawk que o esperado nas projeções, mas nada muito grande”, analisa.
Marco Antonio Caruso, economista chefe do PicPay, comenta que havia uma dúvida se haveria mudança no “guidance” para sinalizar cortes de mesma magnitude na próxima ou nas próximas reuniões. Como o Comitê preferiu o plural, mantendo a sinalização de pelo menos mais dois cortes de 50 pontos base, esse comentário cumpriu o papel “dovish” do comunicado, afirma o economista.
No entanto, Caruso destaca que as demais mudanças tiveram um quê mais “hawkish”, especialmente a parte do cenário internacional. “O comunicado avalia que o cenário lá fora exige atenção e cautela por parte de países emergentes.”
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“O comunicado mostra que, se havia um certo orçamento na cabeça de cortes total, ou seja, um ponto final de Selic, dado esse cenário, é preciso ser mais cauteloso. Eles podem estar discutindo internamente ou repensando uma possibilidade do ponto final da Selic ser mais alto do que era imaginado anteriormente”, pondera Caruso. “Se houver uma piora adicional desse IPCA projetado para 2025, vai sacramentando a ideia de que talvez esse orçamento total de cortes da Selic seja menor.”
Matheus Spiess, analista da Empiricus Research, aponta como risco uma demora prolongada na desaceleração da economia americana. Isso faria com que as taxas de juros continuem pressionando. “Se tivermos problemas no controle da inflação local, que tem convergido, ou pior, no fiscal brasileiro, que é o nosso calcanhar de Aquiles.”
Mensagem de cautela
Já Débora Nogueira, economista chefe da Tenax Capital, alega que balanço de riscos ganhou uma nova frase no final, destacando o ambiente internacional desafiador. “Isso não chega a desequilibrar o panorama de riscos, mas transmite a mensagem da necessidade de cautela.”
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Na comunicação, ela destaca que os dois primeiros parágrafos foram os mais alterados. “No que diz respeito ao cenário internacional, a menção à abertura de juros nos EUA foi acompanhada de uma ênfase na necessidade de atenção e cautela. No âmbito doméstico, houve uma pequena mudança na frase sobre a atividade, ressaltando a desaceleração consistente”, afirma.
O chefe de renda fixa da Suno Research, Vinicius Romano, por sua vez, comenta que o Copom reafirmou a importância da firme persecução das metas fiscais, citadas essenciais para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária.
Daniel Cunha, estrategista-chefe da BGC Liquidez, observa que o BC endureceu o tom ao atualizar o balanço de riscos, que absorveu maior incerteza advinda do cenário externo. “Quanto aos desdobramentos domésticos, o Copom sinalizou que atividade e inflação estão se desenrolando em linha com o esperado.”
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Segundo sua avaliação, a nova rodada de deterioração nas projeções de inflação mostram uma menor confiança quanto à extensão total do ciclo de cortes de juros.
Para Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, o Copom reforçou a percepção de uma atividade que lentamente desacelera e a noção de um processo cada vez mais consolidado de desinflação, ainda que as medidas de inflação subjacente sigam pressionadas.
“O Copom também voltou a falar sobre a importância de perseguir as metas fiscais, sem entrar na discussão recente sobre a possibilidade de mudança da meta estabelecida pelo governo”, cita.
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Segundo o economista, a principal novidade foi a ênfase dada para a abertura da curva nos EUA, que é entendida como um dos grandes desafios para a continuidade do processo de corte de juros no ano que vem. “Essas pequenas mudanças, entretanto, não mudam nosso panorama para o restante do ano, e acreditamos que o BC deve dar prosseguimento ao relaxamento monetário no ritmo imposto até aqui, de 50 bps por reunião.”
A opinião de Adriana Dupita, economista sênior na Bloomberg Economics é que a única mudança no comunicado do BC para essa reunião foi a esperada menção à elevação dos ‘yields’ americanos e às tensões geopolíticas, com a indicação de que isto pede uma especial cautela na política monetária. “Este comentário abre espaço para que o BC desvie do seu plano de cortar meio ponto a cada uma das próximas reuniões, caso o cenário internacional se deteriore”, pondera.
A visão de Tatiana Pinheiro, economista chefe da Galapagos, é que o comunicado manteve a avaliação do cenário inflacionário otimista, com destaque para o arrefecimento da inflação subjacente e a expectativa de arrefecimento da atividade econômica nos próximos trimestre. “Contudo, a autoridade monetária ressaltou cenário global desafiador e a importância do cumprimento da meta primária definida para 2024 nas decisões de juros”, diz.
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A avaliação da Galapagos é que o atual nível de aperto monetário permite ao BC manter o ritmo de cortes em algumas decisões, aguardando a redução das incertezas no ambiente internacional. “Também vemos o desequilíbrio primário e o cenário internacional como a principais restrições para o tamanho da flexibilização monetária”, completa.
Diante disso, Tatiana diz que a projeção de Selic em 11,75% a.a em dezembro de 2023 está mantida, mas estimativa para a taxa terminal subiu de 8% para 8,75%, devido à piora do cenário internacional e ao aumento das incertezas quanto ao reequilíbrio das contas públicas em 2024.