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O IPCA de outubro divulgado nesta sexta-feira pelo IBGE basicamente só trouxe notícias ruins, segundo a análise dos economistas. A pressão dos alimentos no indicador não deu sinais de trégua no curto prazo, os núcleos aceleraram e os preços serviços continuam a sofrer impacto do mercado de trabalho aquecido. Além disso, os preços industriais devem experimentar forte interferência da taxa de câmbio.
Com isso, a projeção é que o Banco Central deve continuar a elevar a Selic na reunião de dezembro, em ritmo no mínimo igual ao praticado ontem, de 0,50 ponto percentual, embora as projeções de alta ainda maior estejam avançando.
Megale: Último trimestre é chave para saber se IPCA vai ou não ficar longe da meta
Economista-chefe da XP comentou ainda sobre a eleição de Trump e lembrou que ele é visto como inflacionário pelo mercado nos EUA
IPCA: inflação sobe 0,56% em outubro, acima do esperado, com pressão de energia
No acumulado de 12 meses até outubro, o IPCA teve alta de 4,76%, contra alta 4,42% do mês anterior
Na opinião de Claudia Moreno, economista do C6 Bank, além da continuidade da pressão exercida sobre os alimentos e a energia elétrica, itens que motivaram a alta do indicador em setembro, outro ponto de atenção em outubro foi a piora da inflação de serviços subjacentes, de 4,7% para 5,3% em 12 meses.
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Ela também destaca que os núcleos de inflação acompanhados pelo BC também aceleraram nessa mesma métrica, passando de 4% para 4,2%.
“Na nossa visão, a inflação de serviços deve continuar pressionada pelo mercado de trabalho aquecido. Nossa projeção é que o IPCA termine o ano em 4,7%, acima do teto da meta. Para 2025, revisamos nossa projeção, de IPCA de 4,8% para 5%, por conta da perspectiva de real mais desvalorizado”, estima.
Segundo ele, os dados do IPCA divulgados hoje reforçam a visão de que o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) precisará manter o ritmo de alta dos juros na reunião de dezembro.
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Na análise da XP, o IPCA de outubro foi marcado pelo acionamento da ‘bandeira vermelha 2’ nas tarifas de energia elétrica (que tiveram alta mensal de 4,7%), explicando parcialmente a aceleração em relação a setembro.
Ao mesmo tempo, os serviços básicos avançaram 0,76% no mês e a métrica trimestral anualizada avançou de 4,8% para 5,3%.
“Nosso cenário considera que a inflação de serviços registrará deterioração adicional à frente, refletindo a sólida demanda doméstica, o mercado de trabalho apertado e as expectativas de inflação desancoradas”, diz a XP.
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Sobre a inflação de bens industriais, a avaliação é que ela ainda tem se mostrado benigna, principalmente devido ao cenário desinflacionário global, mas as recentes leituras dos preços no atacado mostraram uma aceleração, devido à depreciação da taxa de câmbio nos últimos trimestres.
“Portanto, esperamos que a inflação de bens industriais acelere e atinja um nível próximo a 3% à frente”, mostra análise, que considera o nível ainda historicamente baixo.
Sobre os alimentos, foram destacadas as altas no item ‘carnes’ (5,8%), após reajuste nos preços do boi gordo. Produtos lácteos e bebidas, especialmente o café, também contribuíram para o aumento. “Dada a dinâmica dos preços das proteínas, projetamos uma inflação de alimentos acima de 8% em relação ao ano anterior este ano”, projeta a XP.
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A projeção não é das melhores. Para a XP, a leitura de hoje revela o cenário desafiador atual e prospectivo para a inflação brasileira, uma vez que todos os indicadores mais relevantes para a condução da política monetária estão próximos ou acima da meta.
“Além disso, os fundamentos – expectativas, dados do mercado de trabalho, demanda doméstica e taxa de câmbio – indicam que a inflação não convergirá sem uma resposta adequada da política monetária.”
Piora geral
Na análise de Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, o IPCA de outubro foi ruim, tanto porque, no acumulado em 12 meses ultrapassou o teto da meta de inflação (4,50%), mas também porque tivemos houve aceleração com relação ao mês anterior em todos os dados qualitativos. A isso, se somam os ‘serviços subjacentes’, que voltaram para níveis de janeiro deste ano.
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“Por fim, foi ruim porque reforça a ideia de que o BC vai ter que elevar os juros mais do que esperávamos anteriormente”.
Leal diz que, juntando o impacto da a eleição de Donald Trump nos EUA, o comunicado mais duro da reunião do Copom da última quarta-feira e o IPCA de outubro, fica a esperança de sair “algo de bom” no pacote fiscal do governo.
A previsão atual da G5 Partners ainda é de uma Selic de final de período em 12,50% a.a. e de 11,50% a.a. ao final de 2025.
Para o Itaú, oqualitativo de inflação vem piorando na margem, com aceleração em serviços subjacentes, puxado pela volta da deflação de cinema, alimentação fora e itens mais ligados à mão de obra, movimento esperado refletindo o mercado de trabalho apertado.
Já o Bradesco prevê que a inflação deve seguir pressionada nos próximos meses, já que há um aumento esperado do preço dos alimentos, que deve manter a inflação cheia próxima do limite superior da meta.
“Além disso, o câmbio mais depreciado deve elevar a inflação de bens industriais, respingando também para os núcleos. Para o final do ano, esperamos alta de 4,5% da inflação”, diz o banco.
Para Marcelo Bolzan, sócio da The Hill Capital, os grandes vilões do IPCA no mês foram Habitação e Alimentação, que puxaram para cima o indicador. “Na habitação, pesou a alta da energia elétrica devido a bandeira vermelha. Já no setor de alimentação, os vilões foram carne (+5,81%) e tomate (+9,82%), que tiveram altas relevantes”, destaca.
“Diante desse cenário de inflação corrente pressionada, acredito que o Copom certamente continuará subindo os juros. A dúvida é o ritmo de subida e crescem até mesmo as projeções de aumentar 0,75 p.p.”, estima.
Para Marcos Moreira, sócio da WMS Capital, a trajetória da inflação permanece em níveis elevados, dificultando o processo de reancoragem das expectativas futuras e fazendo com que seja necessário o BC continuar aumentando o ritmo de aperto monetário.
“Hoje o mercado já precifica com maiores probabilidades de alta de 0,75% na próxima reunião em dezembro.”
Para Leonardo Costa, economista do ASA, a despeito da volatilidade do núcleo de serviços neste ano, o grupo tem apresentado variação entre 5% e 5,5% na leitura trimestral anualizada, ou seja, ainda indicando inflação elevada e incompatível com a meta, além do qualitativo deteriorado. “Em novembro, espera-se IPCA mais próximo de 0%, efeito da deflação da energia elétrica, com núcleos ainda em patamar elevado. Projetamos IPCA de 4,6% em 2024 e de 4,5% em 2025, sem alteração após a divulgação de hoje.”
Igor Cadilhac, economista do PicPay, também comenta os sinais claros de piora nas leituras mais recente de inflação.
“Muitas das medidas subjacentes têm se estabilizado em níveis acima da meta. Além disso, as expectativas para a inflação futura continuam sendo um dos principais desafios. Diante disso, do ponto de vista da política monetária, o Copom deve manter o ritmo e optar por uma alta de 0,50 ponto percentual na Selic na reunião de dezembro, com viés de alta.”