Economistas já têm certeza que juros vão cair nos EUA. A dúvida é o quanto

Para especialistas, o banco central americano já terá segurança para iniciar o ciclo de cortes na próxima reunião de setembro, mas a intensidade dessa flexibilização da política até o final do ano divide opiniões

Roberto de Lira

Sede do Federal Reserve em Washington (Foto: Kevin Lamarque/Reuters)
Sede do Federal Reserve em Washington (Foto: Kevin Lamarque/Reuters)

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O dado bem-comportado da inflação de julho nos Estados Unidos divulgado hoje – o índice cheio subiu 0,2%, dentro das expectativas dos analistas – solidifica as projeções de que o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) vai iniciar os cortes de juros em sua reunião de setembro, avaliam os economistas. A dúvida que permanece agora é sobre a intensidade dessa redução até o final do ano.

Segundo a plataforma FedWatch, do CME Group, as probabilidades de um corte de 0,25 ponto percentual nas taxas em setembro estão em 56,5%, enquanto 43,5% dos analistas acreditam que os juros possam cair 0,50 p.p. já na próxima reunião. As chances também estão divididas para as reuniões de novembro e dezembro.

Carla Argenta, economista chefe da CM Capital comenta que o 0,2% de inflação em julho, vindo de uma deflação de 0,1% no mês anterior, nem de longe representa um vetor de preocupação em termos inflacionários como era apontado nos meses anteriores.

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“Em basicamente todos os grupos que compõem o CPI, tivemos uma evolução inflacionária bastante comportada. Isso vai desde itens mais básicos, representados pelo grupo de alimentação, que apresentaram uma inflação de 0,2% pelo segundo mês consecutivo”, comenta.

Nos preços dos bens, ela cita o exemplo dos veículos novos, que apresentaram uma queda de 0,2%, a quinta deflação consecutiva. “Os movimentos que têm sido vistos sobre os produtos industriais  contribuem para a manutenção de uma inflação em um patamar mais baixo ao longo do tempo e já estão muito ancoradas ou muito próximas da meta inflacionária norte-americana”, explica.

Ela pondera que o grande ponto de interrogação, a grande incógnita em termos inflacionários na economia norte-americana, reside sobre os serviços.

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“Eles possuem uma característica muito mais rígida em termos de arrefecimento dos preços e a normalização da demanda aconteceu em um período posterior à dos produtos industriais”, comenta.

Para Marcos Moreira, sócio da WMS Capital, o fato de o núcleo da inflação ter subido em linha com a expectativa, embora ainda acima da meta do Fed, fortalece a tese de que “a porta para cortar juros em setembro não só está aberta, mas também escancarada”.

“Nossa projeção ainda é de um corte de 0,25 p.p. [em setembro], apesar de o mercado discutir a possibilidade de corte de meio ponto percentual. Mas permanecemos com nossa visão de rês cortes de 0,25 p.p. em setembro, novembro e dezembro”.

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Para Danilo Igliori, economista chefe da Nomad, apesar de mostrarem ajustes marginais e próximos das expectativas, os dados do CPI referentes ao mês de julho reafirmam a continuidade no processo de desinflação iniciada nos últimos meses, tanto no índice cheio como na medida de núcleo.

“As reações do mercado foram tímidas após a divulgação, mas os números ajudam a manter a visão de que o ciclo de cortes vai mesmo iniciar em setembro. Por outro lado, não oferece informação relevante para ajudar nas projeções sobre a velocidade e extensão do afrouxamento monetário”, alerta.

Ele lembra que, no momento, as apostas indicam que o ciclo abre com um corte de 0,25 ponto percentual em setembro, deixando mais 0,75 p.p. para as duas reuniões finais deste ano, com o Fomc levando a taxa básica para 4,25% em dezembro. “Se o início do ciclo está dado, as suas características permanecem em aberto”, avalia Igliori.

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Trajetória favorável

Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, também afirma que a composição do índice ilustra a trajetória de desaceleração da inflação americana. “Enquanto a inflação de bens segue negativa, a de serviços já apresenta tendência de queda. Em termos anualizados, a inflação de serviços dos últimos 12 meses recuou de 5% em junho para 4,9% em julho”, cita.

Na sua visão, ainda que acima da meta, o dado mostra uma inflação controlada e em tendência de queda. “Esse resultado, somado aos dados que indicam desaceleração do mercado de trabalho, reforçam nossa expectativa de que o Federal Reserve começará a cortar juros na reunião de setembro.”

Andressa Durão, economista do ASA, tem uma posição mais cautelosa. Para ela, o número de hoje não muda o cenário de início do ciclo de corte em setembro (de 25 bps), já que o núcleo de inflação ficou em linha com o esperado, numa taxa considerada baixa e favorável à queda de juros.

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Mas ela alerta que o CPI de hoje pode levar a revisões altistas das projeções da inflação do consumo (PCE) de julho, após o os preços industriais (PPI) de ontem. “Mas mais importante que este dado serão os de mercado de trabalho, a serem divulgados no início de setembro. Até a decisão de setembro, teremos a divulgação de mais um mês de dado de inflação e um de emprego.”

O Bradesco, por sua vez, destaca as métricas de inflação de 3 e 6 meses, que mantiveram a  tendência de queda. “Os dados divulgados hoje, em adição à surpresa positiva com o PPI de ontem (alta de 0,1%), reforçam a trajetória benigna de inflação nos EUA, em direção à meta de 2,0%”, comenta o banco em relatório.

“Esses números sugerem uma alta de 0,18% do núcleo do PCE em julho. Tal comportamento, portanto, contribui para que o Fed inicie o ciclo de cortes de juros em sua próxima reunião de política monetária, em setembro.”