Economistas da FGV veem cenário melhor, mas grau de investimento ainda longe

Armando Castelar apontou um momento de transição, no qual as incertezas domésticas estão sendo resolvidas de maneira favorável

Estadão Conteúdo

(Shutterstock)
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No dia seguinte ao anúncio da S&P Global de melhora na perspectiva, agora positiva, para a nota de crédito do Brasil, pesquisadores da Fundação Getulio Vargas (FGV) relacionaram a revisão à herança das reformas realizadas nos últimos anos e apontaram uma melhora de ambiente tanto doméstico quanto internacional. Porém, mostraram ceticismo quanto a possibilidade de o Brasil recuperar o grau de investimento.

Durante o II Seminário de Análise Conjuntural, evento promovido em parceria com o Estadão, Silvia Maria Matos, coordenadora do Boletim Macro do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), observou que houve uma diminuição do risco de o governo investir em políticas equivocadas, bem como dificuldade de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reverter reformas como a autonomia do Banco Central (BC) e o marco do saneamento.

Ela acrescentou que vê um viés positivo nos mercados globais, dado o maior otimismo de que os Estados Unidos conseguirá combater a inflação “sem tanta dor”. Silvia Matos, porém, ponderou que com a tendência de crescimento da economia brasileira inferior a 2%, baixa taxa de investimentos e déficits primários, será difícil o Brasil voltar a ter “investment grade”. “Melhorou um pouco, mas estamos muito distante”, comentou.

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Em avaliação parecida, Armando Castelar, pesquisador associado do Ibre/FGV, apontou um momento de transição, no qual as incertezas domésticas estão sendo resolvidas de maneira favorável, enquanto Estados Unidos e Europa se aproximam do fim do ciclo de alta dos juros.

Para Castelar, o governo assumiu com uma herança favorável de redução da dívida bruta e autonomia do BC, que permitiu ao País resistir à pressão de Lula por corte dos juros. “A notícia de ontem reflete muito as reformas dos governos anteriores. A gente está se beneficiando de coisas feitas no passado que não foram alteradas, apesar da pressão do governo atual”, avaliou o pesquisador.

Em sua intervenção, José Júlio Senna, chefe do centro de estudos monetários do Ibre, considerou que a revisão de perspectiva pela S&P serve para mostrar a eficiência da ortodoxia na política econômica.

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Ele citou o fim dos subsídios das taxas de financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e a privatização da Eletrobras entre as iniciativas que começam a ter efeitos na percepção de risco, ao mesmo tempo em que o governo teve derrota na tentativa de mudar o marco do saneamento e o BC resiste aos ataques contra sua autonomia.

“Está ficando claro que funciona. É nisso que o governo tem que focar”, afirmou Senna.