Economistas alertam que o PIB cresce acima do potencial e defendem BC vigilante

Especialistas admitem que projeções para o ano hoje estão mais próximas de uma alta de 3,5%, mas que a força da demanda interna carrega risco inflacionário e que ciclo de alta da Selic deve ser mantido

Roberto de Lira

Funcionários de fábrica em Socorro, São Paulo  (Foto: Rahel Patrasso/Reuters)
Funcionários de fábrica em Socorro, São Paulo (Foto: Rahel Patrasso/Reuters)

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O crescimento de 0,9% do produto interno bruto brasileiro no 3º trimestre, divulgado nesta terça-feira (3) pelo IBGE, comprovou a manutenção do aquecimento da demanda interna no período, mas renovou os alertas dos economistas para os sinais de que a economia pode estar crescendo acima do seu potencial, com o natural risco inflacionário embutido.

As casas de investimentos que ainda não tinham revisado para cima suas projeções de PIB em 2024 estão atualizando as contas e, mesmo quem já havia feito essa correção, admite que o viés é de alta. Assim, as previsões estão agora mais perto de uma alta de 3,5% do que de 3,0%.

Claudia Moreno, economista do C6 Bank, por exemplo, comenta que o dado do 3º trimestre mostrou uma atividade econômica mais resiliente do que a projetada inicialmente e que esse comportamento reflete, em parte, o aquecimento do mercado de trabalho.

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“Os dados fortes de atividade registrados até agora adicionaram viés de alta para nossa projeção de crescimento do PIB de 2024 de 3,2%. Para 2025, nossa projeção é que a economia avance 1,5%, agora com viés de alta”, destaca.

A economista, no entanto, alerta que, embora positivo, para que seja mantido esse ritmo de crescimento de maneira sustentável é necessário que o país tenha ganhos de produtividade, o que não está sendo visto por ora.

“Esse cenário leva a um aquecimento da economia para além da sua capacidade [hiato positivo] e torna o controle de preços mais desafiador”, analisa Claudia.

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Na opinião de Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter, o maior impulso fiscal desde 2023, via aumento de gastos do governo, vem contribuindo para o forte crescimento do PIB nos últimos dois anos.

“Esse crescimento mais acelerado da economia já está no radar do Banco Central e não deve mudar a trajetória de nova alta na Selic esperada nas próximas reuniões do Copom e mantemos nossa expectativa de alta de 75 bps na Selic na reunião de dezembro, encerrando o ano em 12%”, projeta.

Rafaela lembra que, nos comunicados anteriores, o BC já comentou sobre o hiato estimado positivo sendo um ponto de atenção. Nesse cenário, o crescimento do consumo mantém a inflação de serviços pressionada, o que, por sua vez, gera a necessidade de maior aperto monetário via juros”, explica.

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A economista-chefe do Inter destaca que uma alternativa ao maior aperto monetário seria a redução dos gastos fiscais, mas que isso ainda está em dúvida, mesmo após o anúncio do pacote de medidas do governo, que ainda é insuficiente.

O Inter manteve sua projeção de crescimento de 3,2% para o PIB do ano.

Força do consumo das famílias

Na XP, essa projeção já foi revisada para cima desde a semana passada, com estimativa de alta de 3,4% no anos, embora o economista Rodolfo Margato alerte que o viés é de alta, por conta dos detalhes da divulgação de hoje.

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“Ainda persiste a avaliação de solidez da demanda interna, o que reflete o mercado de trabalho apertado, com a taxa de desemprego nos menores patamares desde 2012 e com aumento substancial dos rendimentos reais do trabalho no período recente”, comenta.

Margato destaca ainda o aumento das concessões de crédito no ano e diz que a demanda permanece firme, explicada tanto pela força do consumo das famílias quando por investimentos. “Ainda não observamos qualquer sinal de desaceleração nessas métricas de atividade econômica”.

A estimativa preliminar da XP para o PIB do 4º trimestre indica crescimento mais moderado, de 0,3% em relação ao 3º trimestre, e de 3,8%, ante o 4º tri de 2023. “Isso é consistente com nossa projeção atual de crescimento de 3,4% para o PIB de 2024 como um todo. Aos olhos de hoje, vemos um balanço de riscos inclinado um pouco para cima. Ou seja, há maior probabilidade de crescimento acima de 3,4%”, afirma.

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Para 2025, a projeção é de um crescimento econômico mais moderado. “Nosso número é de 2% para o PIB do ano que vem, em linha com o aperto das condições financeiras, como inflação e taxa de juros, depreciação cambial, redução do impulso fiscal e o fim da ociosidade nos fatores de produção.”

Na avaliação de Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, os dados divulgados hoje mostraram um crescimento bem disseminado, tanto pela oferta quanto pela demanda, mesmo diante do recuo da agropecuária e da piora nas exportações líquidas.

Ele antecipa que irá revisar para cima a estimativa de crescimento do PIB deste ano e, provavelmente, a de 2025 também. “O PIB de 2024 está mais com cara de 3,3%/3,5% do que 3,0%. Por outro lado, essa força da atividade reforça o desafio para o BC, o que deve manter a parte curta da curva de juros pressionada”, comenta.

Para o Bradesco, a demanda doméstica continua crescendo em ritmo acelerado, sugerindo que a economia está operando acima do potencial. “O aumento da taxa de juros irá desacelerar a economia, assim como a desaceleração dos gastos do governo, mas esse movimento deve ser gradual. Esperamos que a economia cresça 3,5% em 2024 e 2,4% em 2025”, diz o banco em relatório.

Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital, avalia que o PIB do 3° trimestre manteve a fotografia do trimestre anterior: os serviços, o consumo das famílias e as importações cresceram significativamente acima das estimativas. “Com isso, a demanda doméstica segue acima do potencial, com variação de 1,4% [na comparação trimestral].”

“Revisamos nossa estimativa para o PIB de 2024, de 3,0% para 3,3%. O carrego do 3° trimestre para 2025 é de 0,8%, significativamente maior que o carrego de 2023 para 2024. Esta é outra sinalização de que a economia está mais aquecida, reforçando a preocupação do Banco Central com as pressões inflacionárias à frente e a precificação de juros do mercado, de Selic no final do ciclo em quase 14%”, estima.

A expectativa da Galapagos para a decisão de política monetária na próxima semana é que o BC acelere o ritmo de alta de juros, de 50 pontos-base para 75 pontos-base, levando a taxa Selic para 12% ao ano.

Já Daniela Lima, economista chefe para Brasil da Kinea Investimentos, diz seguir com o “call” de PIB de 3,4% para o ano. Ele alerta que os números reforças a percepção de uma economia que está em superaquecimento.

“Com a taxa de desemprego nas mínimas históricas e o mercado de crédito aquecido, vimos aceleração no consumo. Refletindo os excessos da política fiscal, temos uma demanda doméstica crescendo no ritmo de 6% anualizado – muito acima do potencial”, adverte.

“O número de hoje reforça a necessidade de termos uma política monetária mais contracionista. A depreciação adicional que vemos no real após a frustração com o pacote de gastos encontra uma demanda extremamente aquecida, e irá levar a reajustes maiores e mais rápido nos preços. Em nossa visão, o Banco Central deve acelerar o ritmo de alta para 75 bps na próxima reunião, entregando uma Selic mais próxima dos 14% nesse ciclo”, prevê.

Arnaldo Lima, economista e RI da Polo Capital, por sua vez, comenta que o aumento do impulso fiscal registrado pela elevação do gasto do governo, de 1,7% para 3,8% em 2023, levaram a um crescimento revisado de 3,2% no ano passado, o que gerará um carregamento estatístico maior, o que deve influenciar positivamente as expectativas do mercado, aproximando a projeção do PIB de 2024 para 3,5%.

“Contudo, esses sinais de crescimento acima do potencial econômico levantam preocupações sobre o aumento das expectativas de inflação e crescem as apostas de um ciclo mais longo de elevação da Selic, o que pode reduzir o nível de crescimento projetado para 2025”, afirma.

Na avaliação de Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad, em conjunto com os dados do mercado de trabalho, que segue bastante apertado, os números do PIB do terceiro trimestre não deixam dúvidas de que a atividade econômica segue em ritmo forte no país.

“No entanto, existe um consenso de que nada garante que manteremos esse cenário daqui para frente. Temos uma dinâmica preocupante relacionadas à pressões inflacionárias e juros ainda mais altos em 2025”, alerta.

“Além disso, incertezas sobre o quadro fiscal deverão pesar sobre a confiança de agentes econômicos por algum tempo. Temos que comemorar, mas com bastante moderação. Dá para ver nuvens carregadas formando no horizonte.”

Segundo Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos, a dinâmica da demanda, no acumulado em quatro trimestres, mostra forte avanço do consumo das famílias, de 4,5%, com o governo apresentando alta de 2,9% e os investimentos, de 3,7%. Enquanto isso, as exportações subiram 4,8% e as importações aumentaram mais de 10%.

Mas o economista alerta que o crescimento puxado pela demanda tende a arrefecer. “Os dados da atividade econômica indicam que, até o encerramento de setembro, a economia ainda apresentava desempenho bastante robusto. Esse quadro deve se alterar entre o fim de 2024 e o próximo ano. O ciclo anterior da política monetária, que havia viabilizado taxas de juros menores, pode ajudar a explicar o bom desempenho”, diz.

 “Tendo em vista a pressão das expectativas de inflação e o dólar elevado, o Banco Central deve endereçar uma política monetária mais contracionista, com alta expressiva da Selic, propiciando um período de desaceleração da atividade”, projeta Saito.

“Até o final de 2024, entendemos que o PIB deverá crescer acima de 3% e, para 2025, a economia deve sustentar um desempenho ainda positivo, mas mais próximo dos 2%.”

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