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Ana Paula Vescovi, ex-secretária do Tesouro Nacional e atual diretora de macroeconomia do banco Santander Brasil, afirmou que é preciso discutir qual é a capacidade do país de crescer no longo prazo e se isso mudou em razão de eventos recentes importantes.
Entre esses eventos, Vescovi citou as reformas após a crise econômica de 2015-2016 e o aumento da abertura comercial brasileira. “A própria mudança do perfil da dívida, da dinâmica macroeconômica. Nós tiramos o problema de restrição externa que tínhamos”.
Ela pondera, no entanto, que o Brasil ainda tem uma fragilidade fiscal e que o debate sobre o Produto Interno Bruto (PIB) de longo prazo, além de inconcluso, está ofuscado pelo excesso de estímulos lançados desde a pandemia, que agora estão sendo gradualmente retirados. “Não podemos negligenciar isso.”
O Santander Brasil projeta desaceleração do crescimento do PIB em 2024, para 1,0%, devido aos efeitos da política monetária contracionista sobre a atividade econômica. “O que vejo pra ano que vem é mais um fator cíclico. Ficamos mais de um ano com uma instância contracionista de política monetária visando controle da inflação”, afirma a economista.
Vescovi diz que os juros contracionistas devem perdurar ainda por algum tempo, apesar do início da queda do juros. “Nós ainda estamos no caminho de uma desinflação importante, de trazer a inflação para a meta, mas ainda não estamos convergindo para os 3,0%, que são o centro da meta de inflação”.
Ela destaca que os dados do primeiro trimestre de 2023 já mostram uma queda da demanda e da absorção doméstica, em uma análise excluindo os fatores exógenos ao ciclo, principalmente a supersafra, da surpresa de 1,9% de crescimento do PIB. “O que esperamos, ciclicamente falando, é que a instância contracionista chegue à atividade, e ainda tem os efeitos do carregamento estatístico.”
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As declarações foram dadas em um evento da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), em São Paulo, na quinta-feira (17).
Defesa da meta de inflação
A ex-secretária do Tesouro Nacional reiterou que foi correta a decisão do CMN (Conselho Monetário Nacional) de manter a meta de inflação em 3,0% ao ano e defendeu que a magnitude do alvo não é uma questão de meta apropriada, mas sim uma questão de escolha: “Qual é o nível de inflação que queremos ter enquanto país?”.
Para a economista, a meta é “boa para a sociedade” e “convergente com nossos pares” e não é correto o pensamento de que o Brasil precisa ter uma inflação maior. “Isso historicamente trouxe um nível de desigualdade impressionante para o país, que é uma grande desvantagem competitiva que nós temos. sem dizer a questão de coesão e justiça social”.
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Reformas ampliarão crédito
A ex-secretária do Tesouro Nacional também afirmou que há espaço para o aprofundamento do crédito ampliado no Brasil, mas esse movimento depende de reformas. “Depende de colocar todos esses fundos direcionados e recursos direcionados mais à disposição de uma disputa saudável dentro do setor bancário financeiro e do mercado de capitais”.
Ela destacou o efeito de dois fatores na relação entre juros e crédito no longo prazo: a Taxa de Longo Prazo (TLP), “que tirou parte dos subsídios cruzados de dentro do sistema de crédito”, e a expectativa do controle de gastos públicos. “Vimos o enfrentamento de uma melhor alocação de recursos públicos na sociedade e acho que isso ajudou a baixar o custo de financiamento do Tesouro de forma estrutural. Foi um fator para o aumento do crédito no Brasil”.
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