Dólar “blue” dispara na Argentina por esperança do fim do “cepo”. Entenda

Com a recente aprovação da Lei de Bases no Congresso, mercado passou a ver o fim das restrições para a compra de dólares como medida iminente do governo

Roberto de Lira

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O dólar “blue”, a cotação paralela da moeda americana mais popular na Argentina, continua sua tendência de alta, fortalecida em junho. A divisa fechou cotada a 1.405 pesos na segunda-feira (1), com alta de 2,93% ante a semana passada. E já abriu a terça-feira apontando para um novo recorde, alcançado 1425 pesos, muito por conta da especulação.

Acredita-se que está cada vez mais próximo o momento que o governo vai levantar as restrições cambiais, conhecidas como “cepos”, rumor que a gestão de Javier Milei tem negado.

Mas o que é essa medida do mercado de câmbio?

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O “cepo” cambial é, basicamente, a restrição de compra de moeda estrangeira, embora também haja limitações aos movimentos de capitais fora do país, como na importação de bens e serviços.

Há um limite de compra de U$S$ 200 mensais para pessoas físicas, pela cotação oficial, sobre a qual incide imposto de 60%. A restrição inclui a impossibilidade de acesso aos dólares por quem recebe algum tipo de benefício do Estado. As empresas, por sua vez, não podem transferir dólares para o exterior, nem pagar dívidas financeiras com suas matrizes.

Esse controle rígido levou ao apelido de “cepo”, um instrumento de tortura no qual as pessoas condenadas ficavam presas à madeira, pela cabeça e braços ou pelos pés. A ex-presidente Cristina Kirchner, que instituiu o “cepo” em 2011, odiava o apelido, muito usado pela imprensa local e pela população até hoje.

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Ao limitar ao extremo a capacidade de compra de dólares e as transferência para fora do país, a medida acaba por afetar o investimento estrangeiro, impõe dificuldades às empresas e limita o acesso a bens e serviços importados.

Como as necessidades de recursos permanecem, a política também acabou por gerar um mercado paralelo de dólares com várias cotações diferentes, como o “blue”, o “poupança”, o “turista” e os financeiros MEP e CCL.

Recomendação do FMI

Em junho, quando o FMI anunciou que havia concluído mais uma revisão do acordo com a Argentina, a instituição comunicou que a política cambial do país deveria se tornar mais flexível para refletir os fundamentos e salvaguardar o processo de desinflação, bem como a acumulação de reservas, “especialmente à medida que as medidas de gestão dos fluxos de capitais são gradualmente aliviados”.

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Com a liberação de mais uma tranche de US$ 800 milhões pelo Fundo na ocasião e após as boas notícias vindas do Congresso, com a aprovação da Lei de Bases e do pacote fiscal, os agentes passaram a especular que a próxima fase do ajuste macroeconômico viria da liberação cambial, precedida de uma desvalorização semelhante à praticada em dezembro.

Além dessa especulação, houve nas últimas semanas um procura maior por dólares, devido às necessidades das empresas de fazer os pagamentos de metade dos bônus e gratificações de final de ano. Além disso, a taxa de juros real continua negativa na Argentina, com a cotação do dólar batendo a inflação.