Publicidade
Sem ter um vínculo com grandes corporações de comunicação. Sem poder contar com o suporte de anunciantes de peso. O que um jornalista independente pode fazer para obter recursos para escrever uma reportagem que seja importante para a sociedade?
Em meio a um cenário de tanta transformação tecnológica, o financiamento coletivo tem sido uma opção para o surgimento de iniciativas jornalísticas de profissionais que se unem e que ajudam a dar voz às causas, como mostra o 36° episódio do podcast Aqui Se Faz, Aqui Se Doa.
Foi assim o começo da revista AzMina, criada em 2015 por um coletivo de jornalistas feministas para fomentar a informação e tecnologia pela igualdade de gênero. A campanha de financiamento coletivo reuniu R$ 50 mil de 603 doadores, e elas puderam escrever a reportagem sobre o trabalho precário em fábricas de roupas da China, realizado em sua maioria por mulheres.
Continua depois da publicidade
O projeto cresceu, e elas fundaram seu próprio instituto. Também lançaram campanhas de conscientização como #MachismoNãoÉBrincadeira, Carnaval Sem Assédio e #VamosMudarOsNúmeros.
O site da AzMina conta atualmente com mais de 170 mil visitas mensais. A gerente de produtos e comunicação do grupo, Verena Paranhos, destacou que os leitores, por aprovarem o trabalho, criaram uma relação com o projeto e passaram a apoiá-lo financeiramente. Há um elo de confiança.
“Se você consome [a notícia], se você acredita que o conteúdo é importante, por que você não vai financiá-lo? Por que não ajudar se você puder? Através do próprio conteúdo que a gente produz, a gente cria essa relação”, declarou Verena em entrevista ao Aqui Se Faz, Aqui Se Doa, podcast produzido pelo Instituto MOL e pelo Movimento Bem Maior, com o apoio do InfoMoney (ouça aqui).
Continua depois da publicidade
Segundo a gerente, o leitor contribui financeiramente justamente para que a equipe da AzMina possa ter condição de escrever o que considerar relevante.
“É muito importante poder falar sobre o que a gente acredita. Por exemplo, em 2019, a gente publicou uma matéria que era sobre aborto seguro com as orientações da OMS (Organização Mundial de Saúde). Não falamos em nenhum momento ‘faça aborto’ ou o ‘aborto é bom’. Só falamos das recomendações da OMS”, afirmou Verena.
Outra iniciativa independente, descrita pelo podcast, é a de O Joio e o Trigo, um site de jornalismo investigativo sobre alimentação, saúde e poder. Esse projeto foi criado em 2017 e conta com apoio de ONGs da área da saúde e de defesa do consumidor.
Continua depois da publicidade
“O jornalismo investigativo é algo importante para que valores democráticos, por exemplo, sejam mantidos e, no caso da alimentação, para que a gente tenha informações de qualidade para lutar por um sistema alimentar melhor, mais justo”, disse Moriti Neto, fundador e editor de O Joio e o Trigo.
Ideias de impacto social como a da AzMina e de O Joio e o Trigo surgem em meio à diversificação do acesso à notícia, com leitores migrando das folhas impressas para as telinhas do computador e do telefone. Segundo um mapeamento da Agência Pública, há no Brasil, no mínimo, cerca de 90 iniciativas de jornalismo independente, a grande maioria no digital.
O podcast trouxe dados informando que a média da circulação diária de jornais impressos em 2000 chegou a atingir 7,9 milhões ao dia. Mas, vinte anos depois, a quantidade de exemplares das dez maiores publicações do país somadas despencou para 1,4 milhão por dia, segundo o IVC (Instituto Verificador de Comunicação). A entidade também observou que os números de assinantes digitais desses mesmos dez jornais brasileiros subiram de 789.960 para 990.104, uma alta de 25,3%, nestes dois últimos anos (2019 e 2020).
Continua depois da publicidade
Além das dificuldades econômicas, no Brasil os jornalistas também se deparam com problemas de segurança ao trabalhar. O país aparece em apenas 111° lugar, na zona vermelha (situação difícil), no ranking da liberdade de imprensa de 2021 feito pela organização Repórteres Sem Fronteiras.