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Embora o índice de preços de consumo (PCE) dos Estados Unidos tenha mostrado desaceleração em fevereiro, alguns componentes do indicador ainda sofrem pressão da demanda aquecida pelo mercado de trabalho resistente, apontando para um processo lento de desinflação, opinam analistas. Com esse cenário, permanece mais provável a hipótese de o Federal Reserve ainda faça uma nova alta de 25 pontos-base em sua taxa básica de juros na reunião de maio.
Conforme divulgou o Departamento do Comércio americano nesta sexta-feira (31) a inflação de consumo foi de 0,3% em fevereiro na base mensal e de 5,0% na anual em fevereiro. O núcleo do PCE, um dos indicadores mais importantes para o Federal Reserve, subiu 0,3% em fevereiro ante janeiro e 4,6% na comparação com o mesmo mês do ano passado.
Francisco Nobre, economista da XP Investimentos, destacou em relatório que os preços na categoria de serviços apresentaram um aumento de 0,32% na comparação mensal, enquanto a variação anual aumentou ligeiramente, de 5,64% para 5,70%.
“Apesar dos números mais fracos em fevereiro em comparação com janeiro, o retorno anual ajustado sazonalmente de três meses para o núcleo do PCE aumentou de 4,56% para 4,88% e permanece bem acima da meta de 2%”, observou
Sobre o índice de bens, o economista comentou que houve uma alta de 0,15% no mês, recuperando parcialmente da tendência deflacionária no 2° semestre de 2022, embora a variação anual ainda tenha diminuído consideravelmente, de 4,72% para 3,63%.
Do lado da atividade, o rendimento pessoal aumentou 0,32% no mês, acima do consenso de 0,20, enquanto o rendimento pessoal disponível (DPI) se elevou 0,46% m/m. Além disso, as despesas de consumo pessoal (PCE) aumentaram 0,15%, abaixo das expectativas de 0,3%. A variação anual do PCE abrandou de 8,20% para 7,60%.
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Nobre afirmou que, apesar do crescimento ter moderado nas impressões anteriores em meio a uma política monetária mais apertada, o consumo continua robusto nos EUA, refletindo parcialmente os efeitos defasados dos estímulos relacionados à covid-19 e a resiliência da economia.
“No entanto, esperamos que a atividade diminua consideravelmente daqui para frente, refletindo as condições financeiras mais restritivas e o feedback negativo da turbulência no setor bancário. Seguindo a impressão de hoje, nossos modelos agora sugerem que os preços do núcleo do PCE terminarão 2023 mostrando um aumento de 2,79%”, projetou, lembrando que a estimativa anterior era de 2,86%).
O economista da XP comentou ainda que, dados divulgados desde o início do ano sugerem que as pressões inflacionárias persistem nos Estados Unidos e que o mercado de trabalho continua muito apertado. “Esses fatores podem pressionar o Fed a manter as taxas de juros mais altas por mais tempo”, analisou.
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Nobre admite que as preocupações com a estabilidade do sistema financeiro, após o colapso do Banco SVB, tornaram as perspectivas econômicas consideravelmente nebulosas. Por conta disso, ele disse acreditar que o Fomc adotará uma postura de política monetária mais moderada, visando amenizar o estresse no sistema bancário.
“Nosso cenário de caso base sugere que as preocupações com o sistema financeiro irão gradualmente desaparecer, embora o Fed deva encerrar seu ciclo de aperto monetário em breve.”
Demanda ainda forte
Andressa Durão, economista da ASA Investments, também viu no PCE de fevereiro uma “surpresa baixista” em relação ao que o mercado esperava, principalmente quando é observado o núcleo da inflação. Porém, ao analisar o dado aberto, a imagem é de um núcleo de bens um pouco mais pressionado nos últimos meses.
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“A inflação ainda permanece elevada e a surpresa baixista com o dado de hoje não deve mudar a cabeça dos membros do Fomc. Os dados de mercado de trabalho da próxima semana têm relevância maior para as próximas decisões de política monetária do Fed”, destacou Andressa.
O BTG Pactual analisou que houve uma desaceleração disseminada em todos os setores na inflação do PCE em fevereiro ante janeiro: em Bens (de 0,6% para 0,2%), Serviços (de 0,6% para 0,3%) e, principalmente, Energia (de 2,0% para -0,4%).
O banco destacou ainda que, na esfera de consumo, o indicador real registrou queda de 0,1% no mês, em linha com o esperado pelo consenso, mas com revisão altista em janeiro (de 1,1% +1,5%), apontando uma demanda mais resiliente no início do ano.
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“A leitura do PCE ainda suporta a análise de uma demanda doméstica forte no 1° trimestre, mas muito concentrada em janeiro, confirmando estabilização em fevereiro e perdendo força nos dados preliminares em março”, disse o banco em relatório.
“A despeito de um resultado melhor do núcleo no primeiro bimestre, ainda vemos um PCE próximo de 4% no final deste ano, com as expectativas ainda acima da meta também em 2024. Dessa forma, dado o resultado do deflator, somado ao primeiro trimestre mais forte no consumo e no mercado de trabalho, há expectativa é de mais + 25 bps por parte do Fomc em maio e sem cortes nesse ano”, previu.
Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, também disse que a inflação americana dá sinais de desaceleração, embora os serviços continuem pressionando o índice, porém em menor intensidade. “A desaceleração em serviços deve ser lenta, pois o setor continua sofrendo com o forte impacto do mercado de trabalho aquecido”, comentou.
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A economista disse que o C6 Bank mantém sua visão de que o Fed deve continuar com o ciclo de ajuste de juros, com mais um aumento de 25 pontos-base na próxima reunião, levando a taxa para o intervalo de 5% a 5,25% ao ano. “Este aumento seria necessário para combater a inflação num contexto de demanda forte. Também não prevemos cortes nos juros até meados de 2024”, antecipou.
Sobre o estresse no setor bancário, Claudia disse acreditar que as medidas regulatórias adotadas até aqui devem ser suficientes para conter um contágio no setor. Por isso, não devem levar a autoridade monetária a cortar juros no curto prazo.
“No entanto, reconhecemos que a incerteza segue elevada e, caso haja uma crise financeira no país, existe a possibilidade do Fed responder com cortes de juros”, ponderou.