Decepção com serviços em setembro reforça visão pessimista para a atividade no 2° semestre

Economistas destacam desaceleração constante do setor na segunda metade do ano e baixa contribuição para o PIB

Roberto de Lira

(NatanaelGinting/Getty Images)
(NatanaelGinting/Getty Images)

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A decepção com os dados do setor de serviços em setembro, após a divulgação de queda de 0,3% ante agosto – quando o consenso Refinitiv de analistas projetava uma alta de 0,3% – faz com que economistas projetem uma contração mais acentuada na atividade do que a antes estimada para o segundo semestre de 2023. A revisão para baixo dos dados de agosto, com retração de 1,3% ante um dado anterior de -0,9%, reforça essa visão mais pessimista.

Para Matheus Pizzani, da CM Capital, está se confirmando um processo intenso de desaceleração econômica, que tende a ser puxada justamente pelo setor de serviços. Em sua análise, ele argumenta que o desempenho atípico do setor observado no ano anterior e os espasmos de crescimento registrados no primeiro semestre deste ano já não possuem mais condição de se sustentar.

Pizzani destaca que, com exceção do grupo de serviços prestados às famílias, todos os demais grandes grupos que compõem a PMS registraram queda no período. “Vale notar que, ao contrário do que fora observado em outros momentos, as quedas não são simplesmente resultado de correções estatísticas, representando pioras efetivamente estruturais”, alerta.

Segundo ele, exemplos neste sentido podem ser vistos a partir dos resultados dos grupos como os serviços de informação e comunicação, que caíram 0,7% no mês, a terceira queda consecutiva. Ele cita ainda os serviços de transporte, que tiveram a segunda queda consecutiva na série recente, puxada tanto pelos recuos nos modais de transporte terrestre como transporte aéreo.

“O processo de desaceleração se torna cada vez mais nítido e está em linha com o que se espera em termos macroeconômicos, dados os efeitos defasados do forte aperto monetário praticado pelo Banco Central e a própria desaceleração, que já estava precificada após o crescimento expressivo de 2022”, analisa.

Laura Moraes, economista da Neo Investimentos, lembra que o setor de serviços foi o que mais sofreu durante a pandemia, com as restrições de mobilidade, e desde então vinha recuperando e contribuindo para o crescimento do PIB e fortalecimento do mercado de trabalho. Mas. no terceiro trimestre, há um quadro de estabilização, “mostrando que os impulsos do pós-pandemia estão perdendo fôlego”.

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“Olhando para frente, no curto prazo, vemos que essa perda de dinamismo deve continuar. Por trás disso, temos choques positivos se dissipando, efeitos defasados da política monetária, perda de impulso do pós-pandemia, além de um cenário externo que não deve jogar a favor. O pouso suave da economia vem com ajuda do mercado de trabalho que ajuda a sustentar o PIB.”

A XP Investimentos concorda que os resultados recentes do setor de serviços corroboram o cenário de enfraquecimento da atividade doméstica ao longo da segunda metade do ano.

Além do volume menor, a  receita real do setor de serviços também foi fraca, caindo 0,3% em setembro em relação a agosto, ante expectativas de uma lata de 0,5% pela XP e de 0,4% pelo consenso do mercado. E as receitas reais de serviços despencaram 1,2% em relação a setembro de 2022.

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Com isso, o indicador ficou praticamente estável no 3º trimestre, consideravelmente abaixo da média de 1,0% observada nos quatro trimestres anteriores. O efeito estatístico de transferência para o 3º tri aponta para uma queda de 0,6% em relação ao trimestre anterior.

A partir desses resultados, a XP projeta que o PIB de Serviços crescera 0,3% no 3º trimestre e apenas 0,1% no quarto trimestre de 2023, desacelerando ante o crescimento médio de 0,6% nos primeiros dois trimestres de 2023.

Com isso, o XP Tracker para o PIB do 3º trimestre piorou, de -0,27 para -0,32% na comparação com o trimestre anterior. “Projetamos que o PIB do Brasil crescerá 2,8% em 2023”, diz a XP.

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Perda de ímpeto

Para Nicolas Borsoi, economista chefe da Nova Futura, a dinâmica dos últimos meses e a performance dos indicadores antecedentes, principalmente a confiança dos empresários do setor, sugerem que a perda de ímpeto dos serviços deve continuar nos próximos meses, reforçando a projeção de estagnação do PIB no 3º trimestre e de uma recessão leve no 4º trimestre do ano.

O Bradesco também avalia que o dado de setembro da PMS foi fraco, uma vez que se esperava uma recuperação em setembro após o dado ruim de agosto. “Para o terceiro trimestre, esperamos PIB de -0,3%, encerrando o ano em 2,7%.”

O economista Rafael Perez, da Suno Research, destaca que, ao longo do ano, a expansão do setor de serviços vem desacelerando gradualmente, principalmente quando olhamos são observados os grupos de transportes e de serviços prestados às famílias.

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Para ele, o mercado de trabalho aquecido e o crescimento da massa salarial serão vetores importantes para amenizar uma queda maior dos serviços. “Ainda assim, tendo em vista o patamar ainda elevado das taxas de juros, o menor crescimento da economia nesse segundo semestre, o alto endividamento das famílias e a base de comparação elevada, a tendência é de uma continuidade da desaceleração do setor até o final do ano”, projeta.

Já Claudia Moreno, economista do C6 Bank, diz acreditar que o setor de serviços continuará “andando de lado até fim do ano”, impactado pelo efeito dos juros ainda altos na economia. “Nossa previsão é que serviços termine o ano com expansão de 2,6%”, estima.

Para ela, os últimos resultados da produção industrial, da Pesquisa Mensal do Comércio e da PMS corroboram a visão de desaceleração da atividade no segundo semestre. “Nossa previsão é que teremos uma contração de -0,1% no PIB do terceiro trimestre. Para 2023 e 2024, nossa projeção para o crescimento do PIB é de 3% e 1,5%, respectivamente, ambas com viés de baixa”, afirma

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Na análise do Santander Brasil, os sinais de perda de ritmo para a atividade devem ser mais nítido nos segmentos mais cíclicos, devido às condições financeiras altamente restritivas. “Além disso, esperamos contribuições negativas da produção agrícola para o 2º semestre, uma vez que o impacto positivo das safras recordes de verão foi limitado ao 1º trimestre e início do 2º tri”, diz nota assinada por Gabriel Couto.

Na opinião de João Savignon, chefe de pesquisa macroeconômica da Kínitro Capital, os serviços às famílias mostraram uma recuperação parcial da queda do mês anterior, mas a abertura do dado revelou uma dispersão relevante, com alta expressiva em outros serviços (+16,3%), enquanto serviços de alojamento e alimentação cresceram 0,5%.

“Nossa visão para os serviços permanece sendo de desaceleração e, consequente, acomodação da atividade, dada a base de comparação mais elevada, mas sem queda relevante. De qualquer forma, os dados de agosto e setembro aumentam as chances de uma desaceleração mais intensa que a esperada pela gente atualmente”, explica. O tracking da Kínitro para o PIB do 3º trimestre aponta para uma queda de 0,2% na comparação trimestral e uma lata de 1,9% na anual.