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O diretor-geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Ngozi Okonjo-Iweala, deu hoje sua receita sobre como os países precisam repensar sua abordagem comercial em meio a desafios de protecionismo e de fragilidades nas cadeias globais de suprimentos. “Dizemos que o futuro do comércio é serviços; é digital; é verde. E deve ser inclusivo”, afirmou durante o Fórum Econômico Mundial de 2023, que está sendo realizado em Davos, na Suíça.
Durante o painel “Relançando o Comércio, o Crescimento e o Investimento”, ele comentou que muitas nações têm feito um esforço para realocar a produção para mais perto da demanda dos consumidores, após choques de oferta associados a bloqueios de portos, a guerra na Ucrânia e a pandemia.
Além disso, as preocupações com a segurança nacional fizeram com que muitas nações questionassem sua dependência excessiva de certos países para bens e serviços críticos, como a dependência europeia da energia russa.
Para os Estados Unidos, o México provavelmente será um grande beneficiário da reconfiguração das cadeias de suprimentos dos EUA, dada a força de trabalho educada do México, baixos salários, transporte ferroviário e clima político pró-negócios, observou no debate Laurence D. Fink, presidente e CEO da BlackRock. “Mas o México não será o único beneficiário dessa mudança”, acrescentou, citando também o Leste Europeu, Turquia, Indonésia e outras partes do Sudeste Asiático.
Okonjo-Iweala repetiu que o futuro do comércio também deve priorizar a inclusão. Como muitos países priorizam a segurança nacional em sua política comercial, existe o risco de que o “friend-shoring” – como é chamada a priorização das redes de suprimentos a aliados e países amigos – distribua de forma desigual os ganhos do crescimento econômico. “Quando falamos de ‘compartilhar amigos’, não sei quem é um amigo”, disse. “Eu nunca ouvi países na África mencionados”, provocou.
Alexander De Croo, primeiro-ministro da Bélgica, afirmou que criar uma agenda comercial que priorize a inclusão e a descarbonização é uma grande prioridade e que muitos governos europeus receberam bem a recente adoção da sustentabilidade na política econômica dos Estados Unidos. “O mundo só pode estar feliz porque os Estados Unidos passaram para o lado certo do corredor” no clima, disse.
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Ele observou ainda que os líderes europeus estão preocupados com as especificidades da recente legislação dos EUA, mas, no geral, o passo positivo dá à Europa a oportunidade de se concentrar em suas vantagens específicas, como instalações de pesquisa e investimentos de longo prazo em energia eólica. Sem essa coordenação, existe o risco de a Europa e os EUA simplesmente competirem para fornecer mais subsídios e isenções fiscais para as empresas.
A política industrial tornou-se um foco importante para muitas nações repensando sua abordagem ao comércio. “Cinco anos atrás, [política industrial] não era um tema muito sexy. Hoje está no topo da agenda”, disse De Croo. Produtos médicos, painéis solares, chips e infraestrutura de digitalização estão entre os setores que estão sendo reformulados devido a novas pressões para aumentar a resiliência e a segurança nacional.
O vice-chanceler alemão, Robert Habeck, observou que a Alemanha está dizendo “sim” aos acordos comerciais bilaterais, mas, em última análise, “temos que nos ater à ideia de instituições multilaterais”.