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Os dados considerados mistos do Payroll divulgados nesta sexta-feira (2) pelo Departamento do Trabalhos dos Estados Unidos acrescentaram mais uma dose de incerteza sobre a decisão de política monetária do Federal Reserve em sua próxima reunião no dia 14 de junho, segundo a opinião de analistas. Foram criadas 339 mil vagas em maio, dado bem acima do esperado, mas a taxa de desemprego subiu de 3,4% para 3,7% em um mês.
A probabilidade de o banco central americano manter inalterada sua taxa da atual banda entre 5,0% e 5,25% caiu de 79,6% ontem para 71,3% nesta sexta-feira, segundo o Fed Watch, ferramenta do CME Group. A probabilidade de o Fed optar por uma nova alta de 25 pontos-base, por sua vez, subiu de 20,4% para 28,7%.
Raone Costa, economista-chefe da Alphatree Capital, diz acreditar que essa diferença de opiniões cair até a reunião de junho do Fomc, o comitê de política monetária dos EUA. “Acredito que deve chegar próximo de meio a meio de probabilidade. Não acho que o mercado vai tomar o cenário de aumento de juros na próxima reunião como majoritário, mas certamente vai ganhar probabilidade”, comentou.
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Sobre os dados aparentemente díspares divulgados hoje, Costa lembra que eles são fruto de pesquisas diferentes. Uma delas e similar ao Caged brasileiro e mensura a criação de vagas de emprego na economia. A outra, se assemelha à PNAD Contínua, fazendo a mensuração da taxa de desemprego.
A primeira é considerada um dado mais preciso sobre a economia porque as empresas precisam reportar toda contratação formal realizada. Já a taxa de desemprego é medida a partir de amostragem, com questionário que pergunta se as pessoas estão procurando emprego ou não. Portanto, costuma ter uma volatilidade um pouco maior, explica o economista da Alphatree Capital.
“Normalmente, quando acontece essa dissonância entre as duas pesquisas, uma mostrando um resultado mais forte que o esperado e outra um pouco mais fraca, a pesquisa de geração de empregos acaba ganhando mais peso dentro do Fed”, destaca.
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Ele afirma que o dado deve ser interpretado como levemente altista para as taxas de juros americanas. “O Fed não vai gostar de chegar na sua reunião com o mercado tão dividido porque não importa qual a decisão, os impactos de reprecificação de ativos são grandes”, comenta.
Ele cita ainda que outros dados corroboram a visão de que o mercado de trabalho está um pouco mais forte, como o relatório Jolts, que veio com um número de procura por emprego bastante forte.
Como os diretores do Fed costuma afirmar que as decisão são dependentes dos dados, Costa lembra que a inflação do consumidos (CPI) de maio ainda não foi divulgada e que ela pode ser importante para decidir o atual cabo-de-guerra de manutenção de juro ou alta.
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Temperatura alta
Claudia Rodrigues, economista do C6 Bank, também afirma que os dados de hoje confirmam um mercado de trabalho americano ainda aquecido. Além da criação de vagas que se mantém acima da média de 2019 (164 mil vagas mensais), o período pré-pandemia, ela destaca que os ganhos por hora trabalhada continuam elevados em 4,3% no comparativo com o mesmo mês do ano passado.
A despeito dos sinais mistos das pesquisas de hoje, o dado de criação de emprego tem menos volatilidade e, portanto, é um termômetro mais preciso do mercado de trabalho e a temperatura segue alta, comenta Claudia.
Ela ainda cita outro dado divulgado essa semana, que revelou uma nova alta em abril de vagas abertas e ainda não preenchidas, contrariando as expectativa. “Com isso, a razão vagas disponíveis por desempregado subiu de 1,7 em março para 1,8 em abril, indicando contínua pressão sobre salários”, adverte
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No entanto, apesar de o mercado de trabalho estar aquecido, a economista do C6 Bank acredita que o Fed deve optar por uma pausa na reunião em junho, para observar os efeitos da transmissão da política monetária já implementada até o momento. “Isso não significa, no entanto, o fim do ciclo de alta. Acreditamos que o Fed ainda deve subir os juros à frente, em razão da inflação persistente em meio a um mercado de trabalho aquecido”, pondera.
Ele também diz não acreditar que os juros comecem a cair antes de meados de 2024. “Reconhecemos, no entanto, que os cortes podem ser antecipados caso haja um aperto de crédito decorrente do colapso de alguns bancos regionais nos EUA, o que parece pouco provável no momento.”
Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, também afirma que os dados do Payroll mostram que o mercado de trabalho dos EUA segue dando sinais de força. “Ele continua sendo um dos principais desafios do Fed, já que a sua resiliência tem sustentado a demanda, principalmente de serviços, o que torna mais lenta a queda da inflação”, analisas
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Para ele, com esse dado, a perspectiva de fim do ciclo de alta de juros na próxima reunião do Fomc diminui. “Em nosso cenário, a batalha da autoridade monetária deve continuar e é possível termos mais uma alta de juros até o fim do ano”, prevê.
Parada estratégica
Francisco Nobre, economista da XP, avalia que, mesmo que os sinais mistos apontem para um quadro geral de um mercado de trabalho rígido e resiliente, a expectativa é que o Fed não aumentará as taxas de juros na próxima reunião. Mas, dadas surpresas de alta nos dados recentes, a possibilidade de aumentos adicionais nas taxas até o final do ano não pode ser descartada, afirma.
No mês, o Payroll mostrou ganhos notáveis de emprego em Serviços de Educação e Saúde (97 mil), Serviços Profissionais e Comerciais (64 mil), Governo (56 mil) e Lazer e Hospitalidade (48 mil). Ainda assim, o aumento foi generalizado, com apenas a categoria de Informação a registar perdas de postos de trabalho (-9 mil), destaca Nobre. “Além disso, os números de março e abril foram revisados e o emprego combinado em ambos os meses é 93 mil maior do que o relatado anteriormente”, acrescenta.
O economista estima que o emprego nos EUA permanece cerca de 2 milhões abaixo de onde estaria se a pandemia não tivesse acontecido. “Esperamos que as pessoas retornem gradualmente à força de trabalho à medida que a poupança acumulada durante a pandemia começa a secar”, prevê.
Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital, também avalia que os dados divulgados hoje ratificam a tenacidade do mercado de trabalho norte-americano, sendo o setor de serviços o principal responsável pelos fortes resultados dos dados de mercado de trabalho. Ele destaca que, apesar do crescimento surpreendente das novas vagas, o setor de serviços mostra alguma desaceleração frente os 12 meses anteriores em claro processo de normalização pós-covid.
Sobre o impacto disso nas próxima decisões do Fed, Carla acredita que a autoridade monetária irá manter o comportamento atual de avaliar a evolução dos dados da economia. “As decisões serão feitas de reunião a reunião até que o mercado de trabalho dê sinais mais concretos de desaquecimento e a inflação de convergência para a meta de longo prazo”, diz.
O analista de investimentos Rodrigo Cohen, co-fundador da Escola de Investimentos, por sua vez, afirma que a criação de vagas bem acima do esperado proíbe o Fed de diminuir os juros tão cedo. “Ao mesmo tempo, o lado bom é que a taxa de desemprego veio mais alta e o ganho médio por hora subiu pouco, abaixo do esperado, o que acalmou os mercados”, comenta.
Para ele, os sinais mistos mostraram que agora será necessário esperar os próximos indicadores, já que o Payroll não trouxe uma leitura muito clara do que pode acontecer nas próximas reuniões. “O consenso ainda é de juros estáveis na próxima decisão e depois podendo voltar a subir as taxas mais para frente se necessário”, analisa.