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A criação líquida de 142,7 mil empregos formais no Brasil em julho, divulgada nesta quarta-feira (30) pelo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), mostra que o mercado de trabalho continua aquecido, mas com sinais de desaceleração. Segundo analistas, a tendência deve permanecer nos próximos meses, com projeções de queda ante os dados de 2022 ou, no máximo,de estabilidade ante os 2,015 milhões de empregos formais criados no ano passado.
A desaceleração é nítida, de acordo com os dados oficiais do Ministério do Trabalho. Em fevereiro, por exemplo, a criação líquida de vagas estava positiva em 249,8 mil, número que encolheu em março, abril e maio, quando atingiu 155,4 mil. Em junho, houve ligeira alta, para 156,6 mil, mas o dado voltou a cair no mês seguinte.
No acumulado do ano até julho, a leitura é similar quando é feita a comparação com os dois anos anteriores. De janeiro a julho, a criação líquida de vagas estava em 1,786 milhão em 2021, recuando para 1,613 milhão em 2022 e para 1,166 milhão em 2023.
A análise da XP Investimentos, em suma, é que a tendência de desaceleração gradual do emprego formal brasileiro continua. “O balanço acumulado de 12 meses mostrou saldo de 1,567 milhão de ocupações em julho, ante 1,649 milhão em junho. Continuamos a antecipar uma criação líquida total de 1,350 milhão de empregos em 2023, após 2,015 milhões de empregos em 2022”, diz o economista Rodolfo Margato em relatório.
A XP revela que, em suas estimativas ajustadas sazonalmente, o saldo de empregos caiu de 135 mil em junho para 97 mil em julho. “Consequentemente, sua média móvel de 3 meses diminuiu para 128 mil, de 161 mil no período. As adições líquidas de empregos foram em média de cerca de 240 mil entre maio e julho de 2022.”
No que diz respeito à composição setorial, a XP destaca que as atividades de Serviços voltaram a ser destaque em julho, apesar da desaceleração na margem. O setor terciário apresentou uma criação líquida de 54 mil empregos em julho, ante 72 mil empregos em junho. “As categorias de Atividades Administrativas e Serviços Complementares (17 mil) e Serviços de Alimentação e Alojamento (14 mil) explicaram grande parte desta adição líquida global de empregos no período”, diz o economista da XP.
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Enquanto isso, a criação de ocupações na Indústria de Transformação enfraqueceu na margem (para 5 mil, de 13 mil), enquanto a Construção Civil (16 mil, ante 18 mil) e o Varejo (20 mil, ante 23 mil) ficaram praticamente estáveis na base mensal.
Rafaela Vitória, economista-chefe do Banco Inter, também observa que o dado de julho pode ser considerado robusto, mas que está se confirmando a tendência de desaceleração. “No ano, a geração de empregos formais acumula 1,166 milhão, abaixo do mesmo período do ano passado, que havia sido de 1,613”, compara.
“Com a geração positiva, ainda devemos ver queda marginal na taxa de desemprego, que pode ficar abaixo de 8% até o final do ano. O salário médio de admissão teve alta de 0,8% no mês, mas em 12 meses acumula +1,9% e não indica pressão inflacionária significativa”, comenta.
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Na avaliação de Rafaela, o emprego ainda forte deve impedir uma queda maior do consumo e contribuir para o alívio na inadimplência, apesar da redução no crédito e do impacto defasado da política monetária restritiva.
A leitura de Larissa Quaresma, analista da Empiricus Research, é similar. “A criação líquida de vagas acima da expectativa, com distribuição mais ou menos homogênea dentre os setores, sugere um mercado de trabalho ainda aquecido, com crescimento sólido. Apesar disso, a criação foi 36% menor do que o mesmo período do ano passado, o que sinaliza que, gradualmente, o mercado de trabalho se arrefece. Essa desaceleração acontece de forma mais lenta que o esperado, o que justifica um juro ainda restritivo.”
Na análise do Santander Brasil, os resultados do Caged de julho ainda são compatíveis com um mercado de trabalho superaquecido, embora seja possível ver sinais preliminares de reversão. “Olhando para o futuro, esperamos que a criação de emprego desacelere, especialmente tendo em conta os efeitos de uma orientação mais restritiva da política monetária”, segundo relatório assinado por Felipe Kotinda.
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O Bradesco, por sua vez, comenta que o resultado ainda aquecido no mês altera a leitura de desaceleração gradual do mercado de trabalho com carteira assinada, porém sem pressões salariais relevantes. “Para o ano, esperamos criação líquida de 2 milhões de empregos formais, o que sustenta nosso cenário de crescimento do PIB superior a 2% neste ano”, prevê o banco.
Sobre os dados específicos dos setores, o Bradesco destacou desvios de baixa em relação às projeções na indústria (-15 mil), construção civil (-6 mil) e comércio (-5 mil). “Por outro lado, o setor agropecuário surpreendeu positivamente (+11 mil), enquanto o setor de serviços seguiu como o mais dinâmico e alinhado com nossa expectativa.”
O banco cita ainda o salário médio de admissão em termos reais e dessazonalizados, que passou de R$ 2.003 em junho para R$ 2.024 em julho, ou seja, num patamar ainda inferior ao pré-pandemia.