Crescem as chances de o Fed optar por uma pausa estratégica nos juros na reunião da semana que vem

Acredita-se que há duas equipes no Fomc, uma querendo fazer uma pausa em junho e outra defendendo uma última alta de 25 pontos-base

Roberto de Lira

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Está crescendo entre os analistas de política monetária nos Estados Unidos a aposta de que o Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) pode “pular” (skip) uma alta de juros na reunião das próximas terça e quarta-feira (13 e 14) e ganhar tempo para observar os próximos dados econômicos antes de praticar em julho um novo – e talvez derradeiro – aumento de 25 pontos-base nos Fed Funds.

Os sinais são tão visíveis que o jornal Financial Times publicou artigo no início do mês dizendo que skip tinha virado a palavra do dia nos mercados. E foram os próprios integrantes do comitê que apontaram nessa direção, antes de entrarem no tradicional período de silêncio que antecede as reuniões.

Há duas semanas, durante sessão de perguntas e respostas no think tank Official Monetary anda Financial Institutions Forum (OMFIF), Patrick Harker, presidente do Federal Reserve Bank da Filadélfia, disse que estava em um “campo” do Fomc que preferia adotar a estratégia de apertar as taxas a cada duas reuniões, e não em sessões sucessivas. Ele argumentou que não é necessário “esmagar a economia” para retornar à meta do Fed de uma taxa de inflação de 2% ao longo do tempo.

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Philip Jefferson, que tem direito a voto e foi recentemente indicado pelo presidente americano Joe Biden a ser o próximo vice-presidente do Federal Reserve, foi na mesma linha em suas últimas declarações. “Pular um aumento de taxa em nossa próxima reunião permitiria ao Comitê observar mais dados ante de tomar decisões antes da extensão da firmeza adicional na política”, afirmou.

Christopher Waller, outro membro votante, não se comprometeu publicamente com nenhuma corrente, mas afirmou na mesma época que, se alguém estiver suficientemente preocupado com o risco negativo, uma gestão prudente sugeriria pular uma alta na reunião de junho.

Duas equipes

Mark Sobel, presidente da OMFIF e que representou os EUA no conselho executivo do Fundo Monetário Internacional até abril de 2018, escreveu em artigo que o Fomc parece ter hoje duas equipes estão defendendo decisões opostas.

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Um desses times acredita que outro aumento da taxa de fundos federais deve ser ignorado este mês. Essa equipe, além de Harker e Jefferson, incluiria até o presidente Jerome Powell. A outra equipe estaria argumentando que pelo menos outro aumento de 25 pontos-base deveria estar na mesa já em junho.

Ambas as equipes, entanto, parecem concordar que, uma vez que as taxas atinjam seu pico, devam permanecer lá por um bom tempo.

O “Skip Team”, como está sendo chamado na imprensa e no mercado dos EUA, defende que o Fed já aumentou as taxas em cerca de 500 pontos-base e que, como as altas das taxas de juros agem com defasagens, o Fomc deveria avaliar o impacto dos aumentos anteriores antes de possivelmente avançar novamente.

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“Mesmo que a inflação seja persistente, ela está diminuindo e o processo levará tempo. A paciência está na ordem”, escreveu Sobel.

Ele argumentou que alguns novos dados apontam para uma desaceleração econômica, especialmente na manufatura. A taxa de desemprego aumentou em maio e a média de horas trabalhadas diminuiu ligeiramente. Enquanto isso, as expectativas de inflação continuam bem ancoradas e As condições da cadeia de suprimentos estão melhorando. O crescimento do crédito está desacelerando, listou o presidente do OMFIF no artigo.

Na outra ponta da discussão, argumenta-se que a maioria dos dados são retrospectivos ou coincidentes, não prospectivos. E que esses dados não se prestam prontamente a apoiar um salto. Ou seja, a leitura é que, mesmo que a inflação plena tenha diminuído, os dados de preços subjacentes, inclusive para serviços, sugerem que o núcleo da inflação é rígido, teimoso e persistente na faixa de 4% a 5%, bem acima da meta de inflação de 2% do Fomc.

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Outro argumento é que o mercado de trabalho dos EUA continua robusto – as folhas de pagamento surpreenderam positivamente por mais de um ano e o fizeram novamente em maio. “O bom desempenho do mercado de trabalho deve apoiar a renda disponível e o consumo, o principal motor econômico dos EUA. A inflação não pode ser reduzida para a meta de 2% sem desaceleração significativa do mercado de trabalho”, diz o artigo.

A conclusão é que a declarada dependência de dados pode estar elevando a probabilidade de um salto nesta reunião de junho. “Os argumentos do ‘Skip Team’ podem estar corretos. A próxima decisão pode ser finamente equilibrada. No entanto, se o Fomc decidir pular, ele precisará reconhecer que os riscos podem justificar novos aumentos de juros e que está pronto para agir. Em outras palavras, um ‘salto hawkish’, descreveu Sobel.

Essa leitura é similar à de Michael Gapen, economista do BofA Securities. Em relatório assinado por ele, a previsão é que o Fed permaneça em espera na reunião de junho, enquanto avalia a defasagem nas políticas e os efeitos do recente estresse bancário.

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Ele diz que essa é uma decisão difícil e que Powell pode ter dificuldade em explicar na coletiva de imprensa por que a diretoria permanecerá em espera agora, mas que vê justificativas suficientes para sinalizar novas ações no futuro.

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