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O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central anuncia hoje sua decisão sobre a taxa de juros, que deve ser mais uma vez de corte de 0,50 ponto percentual, num contexto de pouca alteração de expectativas e do balanço de riscos desde a última reunião, em dezembro. Com isso, os economistas só esperam para hoje um reforço na comunicação sobre a necessidade de manter o gradualismo da política.
Não há, no momento, muitas dúvidas de que o BC manterá seu ritmo de flexibilização por mais algumas reuniões. Mas a manutenção do atual quadro benigno para a inflação motiva esperanças de que o ciclo de cortes se estenda além do antes projetado.
A opinião da equipe de análise macroeconômica da XP, chefiada por Caio Megale, é que o fluxo de notícias desde a última reunião se mostrou balanceado para as perspectivas de inflação.
Por um lado, houve recuo nos preços das commodities, relativa estabilidade da taxa de câmbio e medidas de núcleo da inflação corrente com tendência benigna. Por outro lado, aumentaram as tensões geopolíticas e foi observada uma aceleração dos salários reais no mercado de trabalho doméstico.
“Acreditamos que não há motivos para mudança no atual ‘plano de voo’ de retirada gradual da restrição de política monetária”, diz o relatório da XP.
Pelos mesmo motivos, Claudia Moreno, economista do C6 Bank, não acredita que vai haver uma comunicação diferente nessa reunião. A opinião é compartilhada por Carlos Lopes, economista do banco BV, que ainda vê motivo para cautela, mesmo após os dados de atividade e do IPCA-15. “Essa desaceleração não está sendo tão intensa. As perspectivas de crescimento para o ano não tem piorado substancialmente. Ao mesmo tempo, a inflação se mostra bem resistente”, lista.
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A avaliação do Bradesco é idêntica. “Os dados efetivos de atividade estão confirmando o cenário de crescimento sustentado por consumo, com mercado de trabalho aquecido. Essa combinação confirma a postura de cautela que tem sido adotada pelo BC, especialmente em um ambiente em que as expectativas de inflação seguem desancoradas no médio prazo”, diz o banco em sua análise.
Nesse sentido, o Bank of America prevê que o BC deve manter no plural a expressão “próximas reuniões” para apontar o ritmo adequado de cortes de 50 pontos-base para os encontros futuros. O BofA acredita que o Copom vai destacar pontos de atenção como a incerteza fiscal e a intensificação dos riscos geopolíticos para justificar a manutenção do ritmo.
Qual a Selic final?
Se a análise sobre as decisões e a comunicação do BC são similares na opinião de bancos e casas de investimentos, o mesmo não acontece quando é estimada a Selic esperada para o final do ciclo de cortes. Como o ritmo seve ser mantido e boa parte do ano, especula-se até que ponto a flexibilização da política pode caminhar.
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A XP, por exemplo, já reduziu de 10% para 9% sua estimativa para a Selic em 2024, avaliando que a queda nos preços das commodities desde o 3º trimestre do ano passado ampliaria a desinflação global de custos, ajudando a reduzir o IPCA.
Embora os economistas da XP continuem a acreditar nisso, eles observam que o aumento das tensões geopolíticas e seu impacto sobre os preços do frete marítimo constituem um risco importante. E que isso pode se somar às despesas fiscais e parafiscais expansionistas e às pressões salariais, atrapalhando a plena convergência da inflação à meta.
“Se os riscos mencionados materializarem e as expectativas inflacionárias para 2025 começarem a subir, o Comitê poderá ser forçado a interromper o ciclo de flexibilização monetária antes do que projetamos”, alertam.
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O C6 Bank até enxerga o balanço de riscos um pouco melhor neste final de janeiro, o que abre espaço para o BC continuar cortando os juros no segundo semestre. Mas mantém a projeção de uma Selic de 9,25% ao final do ano. “A gente não acha que ele (o BC) vai acelerar, principalmente por causa de expectativas de inflação ainda desancoradas”, diz Claudia.
Carlos Lopes, do BV, concorda com essa visão. Para ele, o BC começaria a ter um conforto maior com a inflação quando o horizonte dele se estender mais para 2025 do que para 2024, quando poderia abrir espaço para um corte maior. “No entanto, conforme vai avançando nas reuniões e se aproximando do meio do ano, também vai se aproximando de um final de ciclo, o que torna menos provável uma aceleração do ritmo”, comenta.
O BV tem coo cenário hoje, na verdade, uma redução no ritmo para 25 pontos-base na parte final do ciclo, levando a Selic para 8,5%. “Se o BC tiver mais confiança nesse cenário de inflação e, de fato, o quadro se mostrar positivo, ele pode seguir com esses cortes de 50 p.p. por mais tempo ou fazer o ciclo todo mantendo esse mesmo ritmo”, argumenta.
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No Bradesco, a expectativa é que o Copom continuará a cortar a uma taxa de 50 pontos-base ao longo do 1º semestre. E que deverá mudar para um modo de ajuste fino de cortes de 25 pontos-base por reunião em julho, levando a Selic a 8,75% no final de 2024.