Copom deve subir Selic para 9,25% e analistas divergem sobre próximos passos

Expectativa é de elevação dos juros para 1,5 ponto na reunião desta quarta e na próxima, enquanto algumas casas já veem alta prolongada com maior inflação

Lara Rizério

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A última decisão de 2021 do Comitê de Política Monetária (Copom) será conhecida na próxima quarta-feira (8), trazendo uma expectativa quase unânime de elevação da Taxa Selic em 1,5 ponto percentual, encerrando 2021 a 9,25% ao ano.

Se, por um lado, a inflação corrente segue muito pressionada, por outro a atividade perdeu fôlego antes do esperado, indicando que em 2022 será bem mais difícil o repasse da alta de custos ao consumidor o que, a princípio, pode sinalizar a necessidade de um ritmo de aperto mais lento da política monetária. Enquanto isso, no exterior, os preços das commodities dão sinal de recuo, com a perspectiva de uma política monetária global menos expansionista.

Assim, além da decisão da próxima quarta, os investidores ficarão de olho nos próximos passos do Banco Central, que deve trazer em comunicado junto à sua decisão mais sinalizações sobre as suas expectativas para a inflação já de olho no horizonte de preços para 2023.

A última edição do Relatório Focus, divulgada na segunda-feira (6), mostrou que a expectativa para a Selic em dezembro de 2022 está em 11,25%. O prognóstico para 2023 subiu para 8%, ante 7,75% na semana passada e frente a 7,50% há quatro semanas. Assim, conforme destaca a Levante Ideias de Investimentos,  expectativa dos investidores é de juros mais altos se se estendendo por muito mais tempo do que se esperava anteriormente.

Inflação

Já para o IPCA, a projeção para 2021 subiu para 10,18% ante 9,33% há 4 semanas, enquanto avançou de 4,63% para 5,02% para o ano que vem e de 3,27% para 3,50% para 2023.

Enquanto isso, os prognósticos para o desempenho da economia também vêm piorando. A estimativa para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2021 foi reduzida para 4,71%, ante 4,93% há quatro semanas. Essa não é a única redução. A projeção para 2022 caiu para 0,51% ante 1% por cento há quatro semanas. E até mesmo a expectativa para o PIB de 2023 recuou levemente. A projeção agora é de um crescimento de 1,95%, levemente abaixo dos 2%.

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Para a equipe da Levante, a política monetária parece estar “atrasada” em relação ao comportamento da inflação e da economia real. Devido à pandemia, apontam os analistas, o BC manteve os juros em 2% ao ano por vários meses, além de ter lançado mão do dispositivo do “forward guidance” no Brasil. Isso pode ter impedido uma queda maior da economia devido à pandemia, mas também parece ter desancorado as expectativas de inflação.

O quadro foi agravado pela alta dos preços das commodities e do petróleo, e pela escassez hídrica que vem pressionando para cima os preços dos alimentos. Ou seja, olhando apenas para os índices de inflação, que devem ficar acima do teto da meta em 2022, o Copom deveria prosseguir em sua tarefa “nada agradável” de elevar a taxa de juros e apertar a política monetária.

Porém, se fosse observado apenas o comportamento esperado da economia real, o BC poderia até mesmo afrouxar a política monetária para conter a desaceleração esperada do PIB. Até porque a economia fraca poderá retirar energia dos índices de inflação. “Assim, a atividade econômica poderá desacelerar antes de a política monetária fazer efeito. Essa distorção temporal coloca o Copom em um dilema, que provavelmente só começará a ser resolvido em 2022”, avalia a Levante.

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Mas, para o BC, a preocupação com os preços deve seguir sendo o destaque.

Previsões para a Selic

Neste cenário, os economistas do Credit Suisse revisaram para cima as suas projeções para a Selic ao final do ciclo, ajustando a previsão para a taxa de 11,5% para 12,25% ao final do próximo ano.

“Mantivemos nossa projeção de que o Copom elevará a taxa básica de juros Selic em 1,5 ponto, para 9,25% na próxima reunião em 8 de dezembro e vislumbrará outro ajuste de mesma magnitude (1,5 ponto) em fevereiro de 2022, dado que o processo inflacionário ainda é desfavorável, com destaque para a desancoragem das expectativas de inflação
para 2023 e 2024”, avaliam.

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Solange Srour e Lucas Vilela, economistas do banco suíço, esperam agora um aumento da Selic de 1,5 ponto em fevereiro, 1 ponto em março e 0,5 ponto em maio de 2022, em relação à expectativa anterior de 1 ponto em fevereiro, 0,75 ponto em março e 0,5 ponto em maio.

Os economistas apontam que o Comitê provavelmente continuará a enfatizar que, em seu cenário de base, os fatores de risco permanecem nas duas direções. Por um lado, uma possível reversão da recente alta dos preços internacionais das commodities em moeda local levaria a uma trajetória de inflação menor.

Nesse ponto, o surgimento da nova variante do coronavírus (a ômicron) provavelmente será visto inicialmente pelo Banco Central e parte do mercado como deflacionário. Porém, por outro lado, persiste a incerteza fiscal, que deve seguir no balanço de riscos, ressaltando que essas questões foram responsáveis ​​por parte da desancoragem das expectativas de inflação para 2023 e 2024.

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Para Solange e Vilela, provavelmente o Copom dirá que, apesar da deterioração do balanço de riscos e do aumento de suas projeções e das expectativas do mercado ara a inflação, o ritmo de aperto de 1,5 ponto percentual ainda é o mais adequado para garantir a convergência da inflação ao longo do horizonte relevante. Eles ainda esperam que o Banco Central continue afirmando que o ano de 2022 ainda tem maior peso na decisão de política monetária, mas que nos próximos meses o ano de 2023 poderá ganhar maior peso.

Sem mudanças na estratégia

A XP aponta em relatório que, em meio ao cenário ambíguo de dados, o Copom fará poucas mudanças em sua estratégia. Fará a sinalizada elevação de 1,5 ponto, e continuará sinalizando “outro ajuste da mesma magnitude” para fevereiro, avalia a equipe de análise econômica.

O cenário base dos economistas da casa é, assim, de mais duas altas de de 1,50 ponto na Selic em dezembro e fevereiro e uma final de 0,75 ponto em março, levando a taxa Selic para 11,50%.

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Os economistas da casa também traçaram cenários alternativos. Uma decisão mais dura poderia ser acelerar o passo, diante da alta de expectativas de inflação, especialmente para 2023. Neste caso, o Copom faria uma elevação de 1,75%, e deixaria as portas mais abertas para a reunião seguinte.

Uma outra possibilidade, esta para o lado menos duro, seria sinalizar que o Copom está menos preocupado com a inflação de 2022, e passará a focar mais em 2023. Neste caso ele flexionaria esta frase do comunicado: “…é compatível com a convergência da inflação para as metas no horizonte relevante, que inclui os anos-calendário de 2022 e 2023”; inserindo um “principalmente” antes de 2023.

“Dadas as conhecidas defasagens com as quais a política monetária atua, é normal o BC rolar o horizonte relevante. Mas, pelo padrão histórico, é cedo para isso (normalmente faz no início do ano). Este seria, em nossa visão, um sinal desnecessário de acomodação, em momento de elevação das expectativas de inflação”, avaliam.

João Leal, economista da Rio Bravo, por sua vez, além das duas altas de 1,5 ponto na reunião de quarta e de fevereiro, levando a taxa para 10,75%, projeta mais uma alta de 1 ponto em março, levando a Selic a 11,75%, permanecendo nesse nível até o fim de 2022. “O comitê deve destacar a inflação disseminada e comunicar que a alta nos preços não é mais essencialmente temporária. O foco também será nas projeções de inflação, tendo em vista a queda nas expectativas para crescimento econômico”, avalia.

Para Newton Rosa, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, o Copom deve reforçar a intenção de avançar ainda mais no território contracionista e projetam, além da alta de 1,5 ponto da Selic nesta quarta, mais duas altas, de 1,5 ponto em fevereiro e 1,25 em março, elevando para 12%. O economista vê as altas como necessárias para garantir a convergência da inflação às metas ao longo do horizonte relevante para a política monetária, compreendendo tanto 2022 quanto 2023.

Assim, enquanto é praticamente visto como unânime a visão de que o Copom seguirá o ritmo de aperto monetário na reunião de quarta e sinalizará um aumento da mesma magnitude para fevereiro, os próximos passos do BC ainda são vistos como incertos, dependendo ainda da persistência da alta de preços. Mais altas de juros estão no radar, mas a magnitude delas em um cenário de atividade mais fraca leva à disparidade de visões entre os analistas de mercado.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.