Consumo das famílias volta a crescer e segura serviços em maio, dizem economistas

Serviços prestados às famílias avançaram 3% em maio, recuperando as perdas de 2,7% observadas em abril; especialistas mantêm expectativa de PIB mais aquecido no 2º trimestre

Roberto de Lira

Passageiros no aeroporto Santos Dumont, no Rio (Fernando Frazão/Agência Brasil)
Passageiros no aeroporto Santos Dumont, no Rio (Fernando Frazão/Agência Brasil)

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Assim como aconteceu na quinta-feira (11) com os dados de vendas varejistas, os dados divulgados hoje pelo IBGE sobre o desempenho do setor de serviços em maio surpreenderam positivamente. O volume da atividade ficou estável, enquanto o consenso de analistas esperava queda.

A recuperação do consumo das famílias no mês – após queda em abril – e o efeito menos intenso que o projetado das enchentes no Rio Grande do Sul, explicam o resultado, segundo economistas.

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André Valério, economista sênior do Inter, lembra que havia ampla expectativa de variação negativa no indicador geral, em grande parte por conta da catástrofe climática em maio, mas que, a despeito disso, o volume de serviços no RS avançou 0,6%.

“Naturalmente, o impacto das enchentes foi sentido nos setores associados ao turismo, com o volume das atividades turísticas recuando mais de 32% no RS. Entretanto, o impacto no restante do país foi comedido. De modo geral, o resultado de maio mostra uma discrepância entre oferta e demanda”, explica.

Ele destaca que, pelo lado da demanda, os serviços prestados às famílias avançaram 3% em maio, recuperando as perdas de 2,7% observadas em abril. No ano, esses serviços acumulam alta de 5,3%. Isso, segundo o economista, como reflexo de um mercado de trabalho aquecido, permitindo a recomposição da renda em termos reais.

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Já pelo lado da oferta, os serviços de transportes e de informação e comunicação recuaram 1,6% e 1,1%, respectivamente.

“Portanto, vemos os serviços se mantendo em patamar robusto mais por conta de uma demanda discricionária, associada à alojamento e alimentação, enquanto os serviços pelo lado da oferta indicam uma perda de dinamismo do setor, refletindo as condições monetárias mais restritas”, analisa.

Leonardo Costa, economista do ASA, considera que as enchentes do Sul afetaram de maneira distinta os dados que medem a atividade doméstica. “A indústria sofreu o maior impacto negativo, seguido pela pesquisa de serviços, ainda que apenas com desaceleração. Por outro lado, o comércio apresentou crescimento, efeito do consumo emergencial”, afirma.

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A projeção do ASA para o PIB do segundo trimestre continua em +0,7% e, para o ano, permanece em 2,3%.

Claudia Moreno, economista do C6 Bank, é outra especialista a destacar a expansão dos serviços prestados às famílias em maio. “O segmento, que é um importante termômetro de crescimento do PIB, segue uma trajetória de recuperação e já alcançou o patamar pré-pandemia”, frisa.

Ela também comenta que havia preocupação com o efeito que as chuvas no Rio Grande do Sul poderiam causar para atividade econômica, mas que os dados do comércio e de serviços mostraram que o impacto foi menor do que o esperado.

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“Na nossa visão, os dados mais recentes de atividade sugerem que o PIB do 2º trimestre pode crescer mais de 1%. Adicionamos viés de alta para nossa projeção de crescimento de 2,2% para o PIB de 2024.”

Madonna e Dia das Mães

Igor Cadilhac, economista do PicPay, por sua vez, comenta que a ocorrência do Dia das Mães no mês e até show da cantora Madonna no Rio de Janeiro ajudaram a impulsionar o consumo das famílias no mês. “Por outro lado, o maior impacto negativo foi no setor de transportes (-1,6%), que ficou mais exposto aos desastres climáticos e teve uma queda no número de passageiros e cargas”, pondera.

“Na nossa avaliação, seguimos observando um bom momento da atividade econômica brasileira, que vem se beneficiando de um mercado de trabalho em pleno emprego, de um crescimento da massa de rendimento e da inflação bem-comportada. Olhando à frente, esperamos que esse cenário se mantenha ao longo do ano”, avalia.

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Cadilhac estima o avanço do comércio e a estabilidade dos serviços devem contrabalançar o recuo na indústria em maio. “Sendo assim, projetamos um Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) de 0,3% no mês. Para o PIB, por ora, esse maio melhor que o esperado coloca um viés de alta tanto para nossa projeção do segundo trimestre (0,3%) quanto para o fechamento do ano (2,1%).”

Matheus Pizzani, economista da CM Capital, por sua vez, destaca que o motor de crescimento para os serviços da famílias foi o segmento de alojamento e alimentação, com uma taxa de crescimento de 2,3%, que acabou se mostrando forte o suficiente para barrar um eventual recuo do indicador.

“Chama atenção a capacidade de crescimento do grupo mesmo em meio a um período sem efeitos sazonais muito fortes, que devem começar a atuar com mais significância a partir do mês de junho, deixando a explicação para tal comportamento como sendo reflexo de uma relação entre oferta e demanda mais forte por fatores orgânicos”, explica.

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Ele alerta que, quando combinado o movimento com a alta na inflação de serviços, que saiu de 0,05% em abril para 0,40% em maio, é possível inferir um cenário mais pessimista para a condução da política monetária. “A alta verificada nos preços dos serviços pode ter sido motivada por maior pressão no custo de produção das firmas do setor, trazendo complicações para a eficácia da política monetária”, diz.

“O resultado divulgado hoje, embora tenha surpreendido o mercado, está longe de sugerir um setor de serviços tão dinâmico quanto aquele observado em 2022 e 2023, sendo inclusive o pilar do crescimento de quase 3% do país nestes dois anos”, afirma.

A XP diz, em relatório, que o consumo das famílias permanece sólido, num contexto de expansão do rendimento disponível real. “Projetamos que o setor geral de serviços cresça 2,8% em 2024, próximo ao avanço de 2,4% registrado em 2023”, afirma o texto. A projeção para o crescimento do PIB em 2024 – atualmente em 2,2% – está com leve viés de alta.