Conselho de Campos Neto para o próximo presidente do BC: “saiba dizer não”

Para presidente do BC, é normal haver críticas aos juros no Brasil, devido ao histórico e, seja quem for o nome que o sucederá, ele precisará ser firme e técnico em suas decisões

Equipe InfoMoney

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O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, tentou em entrevista ao jornal O Globo publicada nesta terça-feira (20) minimizar os atritos entre a autarquia e o governo federal a respeito da política monetária e disse esperar que uma liderança do BC seja julgada por suas realizações técnica e não por posições políticas.

Ao futuro presidente do BC, cujo nome ainda não é conhecido, ele aconselhou que ele saiba dizer não. “É normal ter crítica ao Banco Central, é normal ter crítica a juros, ainda mais o Brasil que tem um histórico de juros altos. O meu conselho é que ele seja firme, seja técnico, seja íntegro e saiba dizer não.”

Em entrevista à jornalista Míriam Leitão, Campos Neto evitou responder às declarações recentes do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que chegou a chamá-lo de “inimigo do país”. “É um discurso mais político do que técnico. Sou técnico, então não entro no campo político. O que vai ficar quando eu sair do BC são as entregas que fiz”, destacou.

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Ele listou entre os trabalhos por fazer ante do final do seu mandato as novas fases do Open Finance, atualizações do Pix e a entregar da inflação na meta.

Técnico x político

Sobre episódios políticos controversos, como o fato de ter ido votar em 2022 trajando uma camisa da seleção brasileira, naquele momento mais identificada com os apoiadores de Jair Bolsonaro, ele admitiu que hoje, ponderando sobre o ato, teria feito diferente.

“O voto é um ato privado. Não acho que seria surpresa, as pessoas não achariam que eu não ia votar desta forma. Teria feito diferente, mas acho que, no fim das contas, a autonomia e a independência se fazem pelo que eu fiz ao longo do tempo no Banco Central. Fizemos a maior alta de juros em período eleitoral dos países emergentes”, lembrou.

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Já no episódio da homenagem que do governador Tarcísio de Freitas, ele negou ter dito que voltaria para o setor público num hipotético governo dele.

“Esse episódio não é verdade. Eu tive uma homenagem no Mato Grosso, do governador Mauro Mendes. Não teve nenhuma repercussão na mídia. (…). Em seguida veio o convite para fazer em São Paulo porque é o lugar onde eu moro. Teve um convite para fazer um evento na cidade do Rio de Janeiro, porque eu sou do Rio. Depois para um evento em Minas. Eu entendi que era um reconhecimento do trabalho do Banco Central. Não vejo nenhum problema nisso”, minimizou.

Ele disse esperar eu seu sucessor também não seja julgado por preferências pessoais ou amizades. “Aliás, eu espero que a pessoa que venha me suceder aqui não seja julgada nem pela cor da camisa com a qual ele votou, nem pelas reuniões que ele fez, nem pelos jantares que ele fez, e sim pelas decisões técnicas que tomou”, repetiu.

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Sucessão no BC

Ele também disse não saber quem será o próximo presidente do BC, embora haja uma especulação em relação ao diretor Gabriel Galípolo. “Independentemente de quem seja, espero que seja julgado pelas coisas técnicas. É impossível você estar no Banco Central e não ter proximidade com o governo ou com alguns agentes políticos. Porque precisa do governo e dos agentes políticos para fazer seus projetos.”

Além de Galípolo, ele elogiou Paulo Picchetti, diretor que também foi indicado pelo presidente Lula. “É excelente. O Paulo é uma pessoa espetacular. Tenho certeza de que quando eu sair daqui a gente vai ser muito amigo. Muito técnico, a gente discute bastante. O Gabriel é uma pessoa que eu sou bastante próximo, inclusive acabamos de conversar, a gente troca muita mensagem.”

Sobre o trabalho do ministro Fernando Haddad, Campos Neto disse que ser ministro da Fazenda é muito difícil. “Tem um livro que diz que é o pior emprego do mundo, que eu acho que está bem certo. É muito difícil o trabalho de fiscal no Brasil. Você tem um Executivo que às vezes quer fazer uma coisa que não é exatamente o que o ministro quer. Tem um Congresso que tem as suas direções e tem todo um tema do Orçamento ter transladado bastante para o Congresso”, listou.

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Sobre as críticas de Haddad de que teria recebido muitos problemas fiscais da gestão anterior, Campos Neto disse que sua análise técnica é que a realidade está no meio.

“Não é nem verdade que não foi passado nada e nem é verdade que foi passado um número tão grande. O Bolsa Família era promessa de campanha dos dois. Um pedaço do precatório de fato ficou uma dívida para frente, mas não é o volume total porque um pedaço foi pago naquele ano. E tem um processo de desoneração, eu não teria feito daquela forma”, declarou.