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A China, que foi o motor de crescimento da economia global nas últimas décadas, tem visto suas taxas de crescimento anual encolher no período mais recente. Entre 1980 e 2008, o gigante asiático cresceu a taxas superiores a 10% ao ano e acabou atingindo o status de segunda economia do planeta. A partir da crise global no final daquele período, o PIB chinês passou a avançar para cerca de 7% ao ano e, agora, desacelera para patamares estimados em 5% anuais. O que isso pode significar para um mundo ainda muito interdependente em termos econômicos?
Em primeiro lugar, explica Kaian Arantes Oliveira, economista da gestora Parcitas Investimentos, é preciso separar os aspectos mais conjunturais, de curto prazo, das mudanças estruturais que toda a sociedade chinesa tem passado. Assim, os resultados apresentados entre 2020 e 2022 receberam um influência grande da crise da pandemia de covid-19 e precisam ser considerados separadamente na análise.
De fato, o PIB chinês avançou apenas 0,4% no segundo trimestre em termos anualizados e 3,9% no terceiro trimestres de 2022, com previsão de encerrar o ano com uma evolução pouco acima dos 3%, segundo estimativas do Banco Mundial. Esses solavancos estão diretamente ligados à crise sanitária: em 2020, a economia local avançou apenas 2,3% (a menor em mais de quatro décadas) e, com a retomada do ano seguinte, avançou 8,1% (a mais alta em 10 anos).
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Assim como outros países, a China enfrentou um período de desaceleração das exportações pela desaceleração global e também tem sofrido com um setor de serviços deprimido por medidas rígidas de controle da pandemia, que duraram mais de dois e que só começaram a ser abrandadas no final de novembro passado.
Mas Oliveira destaca que há um componente estrutural na desaceleração chinesa e que ele ela esperado. “É normal uma economia ir reduzindo o crescimento ao longo do tempo, a partir do momento em que ela atinge uma maturidade. No início, tem muito para crescer e muito rápido, porque há coisas básicas a serem feitas”, explicou.
Até o início da década de 1990, a China era uma economia quase rural, que passou então por um forte processo de processo de urbanização, com construção de fábricas, de residências nas cidade e de toda uma infraestrutura para suportar esses avanços. Ou seja, antes a China crescia 10% sobre bases ainda muito baixas e hoje estima-se que crescerá perto de 5% ao ano sobre uma economia que em 2021 atingiu 114 trilhões de yuans (cerca de US$ 16 trilhões).
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Claro que isso trará implicações para o crescimento global, mas mesmo nesse ponto ainda pairam algumas dúvidas. Caso as políticas locais tenham um foco no consumo interno e do desenvolvimento de um parque tecnológico de ponta e em projetos de transição, como hoje está se configurando, os chineses podem começar a demandar menos commodities, alertam especialistas mundo afora.
Projeções apontam mesmo para essa tendência. O último guia sobre a China divulgado pela JP Morgan Asset previu que a renda per capita dos chineses vai passar dos cerca de US$ 10 mil de hoje para até US$ 20 mil no final da década, o que colocará o país definitivamente na relação das nações de alta renda, com maturais mudanças no perfil de consumo.
E tudo na China precisa ser dimensionado para cima. Hoje, da população estimada 1,4 bilhão de pessoas, um grupo de 400 milhões de indivíduos estão no nível de renda média, o que torna esse mercado para consumo no mais promissor do mundo.
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Para o Brasil, esse novo quadro pode diminuir um pouco a demanda de parte da nossa pauta de exportações. A Parcitas calcula que 1% a menos de crescimento na China impacta de 0,2% a 0,5% no Brasil, a depender dos termos de troca (uma razão entre os preços de exportação e os de importação.
Proteína
Porém, setorialmente pode haver ganhos substanciais. Como lembrou recentemente em entrevista ao InfoMoney Marcos Troyjo, presidente do New Development Bank (NDB), esses avanços em renda per capita trazem uma mudança sensível na dieta da população, que passa a consumir mais calorias e nutrientes. Kaian Oliveira, da Parcitas, acredita que esse possível crescimento mais voltado para a demanda interna pode ajudar na comercialização de carnes e da soja brasileiras, por exemplo.
Os setores a serem mais impactados estão de olhos nessas oportunidades. Na última apresentação de resultados anuais da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o diretor de Mercados, Luís Rua, disse que a China, principal cliente internacional do segmento, deverá manter uma demanda pujante pela proteína brasileira, “o que se somará às demandas dos novos mercados conquistados, e a manutenção do aquecimento das compras de determinados países da Ásia.”
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A projeção do setor é de elevar as exportações de cortes de aves em 8,5% em 2023 e as de suínos em 12%. Nos dois casos, os principais destinos são a China.
Claro que toda a região asiática espelha as oscilações do gigante vizinho e podem apresentar alguma desaceleração, mas especialistas em comércio exterior e analistas de mercado acreditam que existam oportunidades de o Brasil se favorecer dos diferentes estágios de crescimentos desses países e ainda do processo de criação de cadeias mais locais de produção, em meio a questionamentos sobre a globalização.
E é preciso colocar na balança ainda a disputa geopolítica entre Estados Unidos e China, que tem gerado algum desinvestimento americano em áreas como semicondutores, no sentido de reduzir a dependência explicitada na crise de fornecimentos que se seguiu à pandemia de covid-19. Pela proximidade e relação estreita, o México já está se favorecendo desse novo cenário.