Comitê do Banco Central diz não ver necessidade de ajustes na política macroprudencial

Ata do Comef de maio cita que crédito continua a desacelerar, mas está compatível com a atual estágio do ciclo de política monetária

Roberto de Lira

Logo do Banco Central na fachada da sede (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)
Logo do Banco Central na fachada da sede (Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

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A despeito dos recentes eventos de estresse bancário em grandes economias, o Banco Central do Brasil avalia que sua política macroprudencial neutra segue adequada ao atual momento, uma vez que observa ausência de acúmulo significativo de riscos financeiros no Brasil. Portanto, considerando as expectativas sobre o crescimento do crédito nacional, não há necessidade de ajustes na política macroprudencial no curto prazo. A avaliação está na ata da última reunião do Comitê de Estabilidade Financeira (Comef), realizada nos dia 23 e 24 de maio.

Para o Comef, os preços dos ativos e o crescimento do crédito não representam preocupação no médio prazo, embora existam incertezas a serem acompanhadas. “Os principais ativos de risco da economia vêm seguindo trajetórias de preço moderadas. O crescimento do crédito desacelerou nas diversas modalidades, em especial na carteira de pessoas jurídicas e nas operações de maior risco junto às pessoas físicas”, diz o texto da ata, divulgada nesta quarta-feira (31).

“O Comef segue recomendando que as instituições financeiras mantenham a prudência na política de gestão de crédito e de capital”, diz o relatório.

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Sobre os episódio bancários recente, o Comitê avaliou que o sistema financeiro internacional experimentou momentos de estresse relevante. “A resolução de três bancos de porte médio nos EUA e questionamentos sobre a saúde financeira de um banco globalmente sistêmico na Suíça, que culminou na compra por outro, trouxeram preocupações sobre a estabilidade financeira nos países avançados, com consequente aumento da aversão global ao risco e impactos sobre os preços de diversos ativos financeiros”, comenta o texto.

Ainda segundo os integrantes do Comef, as autoridades têm atuado para restaurar a confiança nos sistemas financeiros e evitar o contágio para outras instituições e outras jurisdições. “O Federal Reserve (Fed) tem provido suporte aos bancos mais afetados, por meio de linhas de liquidez, enquanto os reguladores americanos vêm apresentando propostas de medidas para endereçar as vulnerabilidades no sistema financeiro”, destacou o texto.

De forma preventiva, continuou a Ata, várias jurisdições mantiveram ou aumentaram seus buffers contracíclicos de capital desde o último Comef, “levando em conta, segundo suas comunicações, o cenário de política monetária restritiva, condições de crédito mais apertadas, deterioração da capacidade de pagamento de dívidas das famílias, elevada incerteza sobre os desdobramentos do estresse bancário recente, e, em alguns casos, riscos nos mercados imobiliários.”

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No mercado interno, a avaliação é que o crescimento do crédito amplo continuou desacelerando nas diferentes modalidades e que esse movimento mostra-se compatível com a atual estágio do ciclo de política monetária. “Nas pessoas físicas, a desaceleração continuou maior nas operações de maior risco, como as ligadas a transações de pagamento. Nas pessoas jurídicas, aumentou a desaceleração do crédito bancário”, afirma a Ata.

Além disso, é comentado que o mercado de capitais seguiu reduzindo o seu ritmo de expansão, mas se mantém como fonte relevante de financiamento, principalmente para as grandes empresas. “As provisões mantiveram-se adequadas, acima das estimativas de perdas esperadas. O aumento das provisões está condizente com a maior materialização de risco, decorrente do crescimento do crédito em modalidades mais arriscadas, do elevado comprometimento de renda das famílias, da redução da capacidade de pagamento de micro e pequenas empresas, e de casos pontuais em empresas de grande porte”, diz o texto.

“A materialização de risco deve permanecer elevada no médio prazo, mas critérios mais restritivos nas concessões recentes têm colaborado para arrefecer o crescimento dos ativos problemáticos no crédito às famílias.”

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A Ata comenta ainda que o apetite ao risco das instituições financeiras na concessão de crédito às famílias e às empresas tem reduzido, mas o ambiente ainda demanda atenção. “Em relação às famílias, há desaceleração no ritmo de crescimento nas modalidades mais arriscadas, como cartão de crédito e crédito não-consignado. Na margem, observa-se maior conservadorismo nos critérios das novas concessões”, afirma.

Entretanto, o Comitê destaca que o comprometimento de renda e o endividamento permanecem em níveis historicamente elevados e a materialização de risco supera a do período da pandemia.

Com relação às empresas, o Comef comenta que houve desaceleração no ritmo de crescimento do crédito, mas não se percebe alteração relevante nos critérios de concessão. “O Comef avalia que é importante os intermediários financeiros continuarem preservando a qualidade das concessões, levando em conta, notadamente, a exposição total dos seus clientes junto ao Sistema Financeiro Nacional”.

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Um alerta é que persiste a aversão ao risco no mercado de títulos de dívida corporativa. “Eventos ocorridos no início do ano, aliados a condições financeiras mais restritivas, afetaram todo o mercado, e seus efeitos ainda não se dissiparam. O volume de emissões e os prazos reduziram, e os spreads aumentaram. O Comef segue acompanhando a evolução do mercado de crédito privado e está pronto para atuar em caso de disfuncionalidade.”

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