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Com a inflação ainda muito alta e disseminada, o Banco Central (BC) deve ter dificuldade de interromper o ciclo de alta de juros agora. Em entrevista ao Estadão/Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado, o economista-chefe do Citi Brasil, Leonardo Porto, afirma que, embora o banco mantenha a projeção de Selic chegando a 13,75%, vê riscos de os juros continuarem subindo após a reunião do Copom da primeira semana de agosto.
Porto acredita que, uma vez no pico, a Selic deve ficar intacta até, pelo menos, o fim do primeiro semestre de 2023. Para ele, se os impostos federais zerados nos combustíveis retornassem no ano que vem, levariam a inflação para 5,2%. O Citi, contudo, trabalha com a possibilidade de nenhum dos líderes nas pesquisas eleitorais ter pressa em reverter a desoneração.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
O Citi manteve a previsão de inflação para 2023, apesar da reversão de parte das desonerações dos combustíveis no fim deste ano. Por quê?
Nós temos várias desonerações. A desoneração do ICMS dos Estados, consideramos permanente. As desonerações de imposto federal sobre combustíveis, que têm vencimento no fim do ano, têm impacto de 70 pontos-base (0,7 ponto porcentual). Como nossa projeção é de 4,5%, deveria subir para 5,2%. Mas temos de assumir uma hipótese: será que vai voltar mesmo? Achamos que é mais provável que o presidente a ser eleito em outubro, com nível de preços de combustíveis ainda elevado, opte por estender isso. Então, esses 70 pontos não sobem a inflação, mas pioram o fiscal porque a arrecadação federal sai da nossa conta do ano que vem.
Não acha que começa a se desenhar um cenário fiscal muito difícil para 2023?
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O que importa para o investidor é a dinâmica de médio e longo prazos. Quem garante isso hoje é o teto de gastos, que está mais enfraquecido do que era em 2016. Preocupa muito mais como é que vai ser essa discussão do teto de gastos ou de uma nova âncora, seja no período eleitoral, seja no novo governo em 2023. Essa discussão é muito mais crítica.
No relatório mais recente, vocês apontaram risco para cima sobre a previsão de Selic, de 13,75%. O que está em jogo no cenário?
Não dá para parar (a alta dos juros) com inflação rodando sistematicamente a dois dígitos. Não estou falando aqui de inflação acumulada em 12 meses, estou falando da medida de núcleo calculada no mês da ponta e anualizada.
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Como tem acompanhado a pressão sobre a política de preços da Petrobras?
Do ponto de vista da governança, a Lei das Estatais foi um marco importantíssimo da independência das estatais. É um ativo que deveria ser preservado. Dar subsídio para o preço do combustível é uma decisão de governo. Que entre na conta orçamentária, no teto dos gastos, e corte outro gasto para dar o subsídio. Alterar a Lei das Estatais seria retrocesso.
O sr. vê tendências diferentes para a economia, a depender do resultado das eleições?
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Hoje, temos um cenário não muito diferente entre Lula e Bolsonaro na política fiscal, que é o calcanhar de aquiles na definição dos preços de ativos brasileiros. Estou muito mais preocupado com a volatilidade gerada pelo cenário global, que tem se tornado mais adverso a países emergentes.
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