Com expectativas ainda desancoradas, Copom optou por manter a cautela, dizem economistas

Leitura de especialistas é que uma aceleração dos cortes na Selic é cada vez mais improvável, uma vez que as expectativas de inflação ainda estão desancoradas

Roberto de Lira

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O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central optou nesta quarta-feira (31) por uma comunicação neutra, reforçando que o atual ritmo de corte de 50 pontos-base na Selic continua a ser o mais adequado para conduzir a inflação em direção à meta. Os economistas avaliam que a falta de novidades também foi um reconhecimento que o cenário atual ainda exige cautela. O motivo é que, mesmo com a continuidade da desinflação, as medidas de preços subjacentes inspiram cuidados.  

Natalie Victal, economista-chefe da SulAmérica Investimentos, comentou que a decisão de hoje estava extremamente sinalizada pelo BC e que, portanto, não vai acontecer algum processo de revisão de projeções para a Selic ao final do ano. – A SulAmérica, por exemplo, estima os juros em 9% ao final do ciclo de cortes em 2024.  

Em entrevista ao canal do InfoMoney no Youtube, a economista destacou que o cenário mais benigno para a inflação observado entre outubro e dezembro parece ter ficado ara trás. Naquela época, lembrou, o país estava vivendo um momento de desaceleração da atividade econômica, num cenário pró-desinflação.

No final do ano passado, havia uma assimetria nos riscos que, pelo menos, abria uma porta para o BC discutir uma aceleração dos cortes. “Hoje, esse cenário mudou e a gente começou a ver alguns sinais um pouco mais chatos da inflação. E alguns sinais que podem preocupar um pouco o BC quando a salários, tem toda uma questão de inflação de serviços. A gente vê riscos mais balanceados”, afirmou.

Luis Cezário, economista chefe da Asset 1 Investment Company, acredita que o BC reforçou a mensagem de que continua confortável com a estratégia de reduzir a taxa Selic gradualmente em meio a um cenário no qual as expectativas de inflação permanecem desancoradas, a economia doméstica apresenta baixa ociosidade e o cenário internacional continua com incerteza elevada.

A economista chefe da CM Capital, Carla Argenta, também avaliou que, diante da baixa volatilidade da conjuntura internacional e da manutenção do cenário-base após eventos atípicos, o BC mantém sua estratégia de reduzir a taxa de juros em 50 pontos nas próximas reuniões, que tem se mostrado correta até aqui.

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“A decisão de política monetária dos EUA, que afastou a possibilidade de queda nos juros em breve, não altera a forma como o BC vislumbra a conjuntura macroeconômica e permite a manutenção da condução da política monetária”, defendeu Carla.

Rafaela Vitória, economista chefe do Banco Inter, também deu destaque na defesa que a autoridade monetária fez sobre a necessidade de “serenidade e moderação”, exatamente quando essa ancoragem das expectativas de inflação de longo prazo é apenas parcial. “O comunicado também manteve de fora do balanço de riscos a discussão fiscal. No entanto, ainda ressalta a importância da execução da meta na ancoragem das expectativas.”

Para Adriana Dupita, economista sênior para a Bloomberg Economics, as poucas mudanças no comunicado ilustram bem o dilema que o BC viverá ao longo deste ano. De um lado, há uma perspectiva de cortes de juros nas principais economias, o que poderia ajudar no processo de afrouxamento doméstico. De outro, a autoridade monetária lembra que cada vez mais o foco de suas decisões é a inflação de 2025, para a qual as expectativas permanecem congeladas em 3,5% desde julho do ano passado.

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“Esperamos cortes de meio ponto nas reuniões de março e maio, com o ritmo a partir daí ditado principalmente pelas notícias no front fiscal e pela evolução da expectativa de inflação. Por ora, projetamos a Selic em 9% ao final deste ano”, comentou Adriana

Andrea Damico, economista chefe da Armor Capital, viu uma comunicação “monocromática, sem muita cor” por parte do Copom. Para ela, o BC teria insumos até para subir um pouco suas projeções de inflação para 2024 e 2025, mas não o fez, mantendo as estimativas em 3,6% e 3,3%, respectivamente.

Um destaque citado pela economista foi que o Copom passou a reconhecer que 2025 já entra com maior peso no horizonte relevante do BC.