Citação de riscos fiscais e horizonte relevante ampliado foram as novidades do do Copom, dizem analistas

Especialistas acreditam que BC fez alusão à crise no Reino Unido para alertar sobre riscos de expansão fiscal no Brasil em 2023

Roberto de Lira

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O maior peso dado a 2024 no horizonte relevante para a política monetária e o alerta sobre a maior sensibilidade dos mercados aos fundamentos fiscais, inclusive em países avançados, foram as duas maiores mudanças no comunicado do Comitê de Política Monetária (Copom) que chamaram a atenção dos analistas. O Copom manteve os juros em 13,75% ao ano nesta quarta-feira (26) e destacou que segue vigilante com relação à inflação.

Em entrevista ao canal do InfoMoney, a economista chefe da Armor, Andrea Bastos Danico, disse acreditar que o Banco Central aproveitou a crise nos mercados de câmbio e dívida no Reino Unido – após um criticado plano de corte de gastos – para passar um recado para o Brasil, que vive um período eleitoral que mostra riscos de expansão fiscal. Para ela, foi uma espécie de aviso: “não faz igual, olha as consequências”.

Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, concorda com essa visão. “Neste contexto de eleição, mostra um BC também vigilante com a política fiscal de um novo governo. Em virtude desse comentário dá para considerar o comunicado ligeiramente ‘hawkish’”, afirmou.

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Patrícia Pereira, estrategista-chefe da MAG Investimentos, também avaliou que essa citação do quadro externo foi a única mudança relevante do comunicado em relação à reunião de setembro. “Foi um aviso de como isso pode ser danoso para países emergentes”, afirmou.

As duas especialistas da Armor e da MAG têm uma visão semelhante sobre o quadro atual para a inflação, que mostra alguma descompressão nos núcleos e também nos preços de serviços. Mas elas divergem sobre o momento no qual o B deve começar a cortar os juros.

Para Andrea, isso pode acontecer na passagem do primeiro para o segundo trimestre de 2023, por conta de o horizonte relevante para a política monetária começar a observar apenas 2024. Patrícia, no entanto, acredita que os juros só devem cair no segundo semestre, por conta dos problemas no exterior, que está com inflação ainda alta e uma possível necessidade de juros mais altos por um prazo mais longo. “Isso vai trazer volatilidade para os emergentes, advertiu.

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Olhando para a frente

O analista de renda fixa da Suno Research, Vinicius Romano, destacou o trecho do comunicado onde o Copom deixa claro seu objetivo de não apenas consolidar o processo de desinflação, mas também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas no horizonte relevante, que é de seis trimestres à frente.

O peso maior dado a 2024 no horizonte relevante de política monetária foi uma das “novidades” do comunicado, segundo Romano. Outras “pequenas mudanças” citadas por ele são a “maior sensibilidade” dos mercados em relação a fundamentos fiscais, inclusive em países avançados, e o comentário que a atividade econômica brasileira sinalizou ritmo mais moderado de crescimento. No último o comitê, lembrou Romano, o Copom citava ritmo “acima do esperado”.

Para Mirella Hirakawa, economista da AZ Quest, a opção pelo horizonte relevante móvel de 18 meses mostra uma previsão ancorada. Para ela, o comunicado foi um pode ser considerado um pouco mais “dovish” que o anterior.

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Para Rafaela Vitória, economista chefe do Banco Inter, a mensagem dura de que o Comitê “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado” não deve se concretizar, devido ao cenário de queda da inflação. “Só mesmo se o fiscal em 2023 não colaborar”, alertou, em sua conta no Twitter.

Idean Alves, sócio e chefe da mesa de operações da Ação Brasil, disse que o Copom seguiu a expectativa do mercado e trabalha com um cenário base que engloba muitas incertezas no radar, dentre as quais a desaceleração da atividade econômica global, a queda dos preços das commodities internacionais em real, e o risco de “efeito rebote” dos impostos “represados” em 2022.

Leia mais: Como investir na renda fixa com Selic de 13,75% às vésperas da eleição? Pós-fixados sim, prefixados talvez

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“Vigilância é a palavra de ordem para o Comitê, de que o a taxa mantida não exclui a possibilidade de novas altas caso o processo de desinflação não caminhe como o esperado, e essa mensagem é fundamental para o mercado”, disse. Esse tom vigilante também foi destacado por Roberto Padovani, economista chefe do Banco BV.

Leonardo Costa, economista da ASA Investments, citou uma outra novidade no comunicado, que foi a mudança nas projeções de inflação do Copom para 2023 (4,8%) e 2024 (2,9%) e para os administrados de 9,4%, para 2023, e 3,8%, para 2024. Isso pode ser uma mudança na previsão sobre o juro neutro, embora modesta”, comentou.

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