China teve final de semana com grandes novos protestos contra política de covid-zero

Estopim para as manifestações foi incêndio residencial na região de Xinjiang, que matou 10 pessoas; restrições dificultaram fuga da tragédia

Roberto de Lira

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Estão ficando cada vez mais comuns na China protestos contra as rígidas normas de controle de circulação de pessoas com o objetivo de impedir a maior disseminação das infecções por covid-19. Neste final de semana, centenas de pessoas em várias cidades, especialmente em Pequim e Xangai, saíram às ruas exigindo amenização das medidas da política chamada de covid-zero.

O estopim para os novos protestos foi incêndio residencial em Urumqi, capital da região de Xinjiang, na quinta-feira, que matou 10 pessoas e feriu nove. Informações capturadas pela mídia ocidental em redes sociais chinesas dão conta de que o público atribuiu a maior dimensão da tragédia às restrições impostas pelas autoridades, que dificultaram a fuga das vítimas, bem como o atendimento mais rápido dos feridos.

A China registrou no domingo o quarto dia consecutivo de recorde de casos. No domingo (28), o registro de novas infecções ultrapassou a marca de 40 mil. Até 412 milhões de pessoas estavam sendo afetadas pelas medidas de bloqueio na China continental na semana passada, de acordo com a Nomura, uma corretora japonesa, ante 340 milhões na semana anterior.

Os protestos mais significativos ocorreram em campi universitários de grandes cidades como Xangai e Pequim, embora órgão de imprensa como a Reuters não tenham conseguido confirmar oficialmente as imagens de redes sociais – alguma já apagadas.

Após o incêndio, as autoridades de Xinjiang anunciaram no sábado que as restrições ao coronavírus seriam suspensas “em fases”, mas pequenas vigílias agendadas pelos estudantes viraram e protestos nas universidades de Pequim, Xian, Nanjing, Chongqing, Chengdu, Wuhan e outras cidades.

Segundo o South China Morning Post, o maior protesto ocorreu em Xangai, a cidade mais populosa e o centro financeiro da China, onde cerca de 300 moradores se reuniram na madrugada de domingo na Middle Wulumuqi Road. Em memória das vítimas de Xinjiang, eles trouxeram flores, velas e cartazes com os dizeres “Urumqi, 24 de novembro, aqueles que morreram descansem em paz” e gritando “Suspendam o bloqueio para Urumqi, suspenda o bloqueio para Xinjiang, suspenda o bloqueio para toda a China”, segundo um dos vídeos.

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Testemunhas disseram ao Post que alguns foram levados pela polícia quando o protesto foi interrompido, mas que os detidos não eram necessariamente aqueles que gritavam palavras de ordem.

No entanto, há poucos sinais de que o governo central da China tenha planos de afrouxar sua política de Covid zero. No domingo, o Diário do Povo, porta-voz do Partido Comunista Chinês, escreveu em artigo na primeira página manter-se “inabalável” com os controles existentes.

O governo enfrenta o dilema de amenizar as medidas e correr o risco de agravar ainda mais os números do novo surto da doença. Segundo um epidemiologista ouvido pelo Post, o país deveria acabar com os testes de PCR em massa e concentrar recursos em casos graves, aumentando as taxas de vacinação de idosos.

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O temor é que a chegada do inverno faça o país experimentar um onda de infecções pior que a do surto da primavera em Xangai, impulsionado pela variante Omicron e que levou a meses de bloqueio. Cerca de 600 pessoas morreram da doença na onda de março a maio, de acordo com um artigo publicado no jornal online China CDC Weekly em setembro. O número de infectados chegou a 650 mil.

Até 11 de novembro, cerca de 86% das pessoas com mais de 60 anos de idade foram totalmente vacinadas na China continental, com 68% recebendo doses de reforço. No entanto, entre a população com mais de 80 anos, a proporção de vacinados cai para 40%