China faz sua reunião “Duas Sessões” enquanto tenta passar mensagem de retomada econômica

Reuniões políticas mais importantes do país asiático acontecem neste final de semana, em meio ao otimismo com a recuperação da atividade

Roberto de Lira

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Um momento de quase euforia econômica é o pano de fundo que antecede o maior evento político da China, chamado “Duas Sessões”, marcado para começar neste final de semana. No sábado (4), começa a primeira reunião da CCPPC, a conferência consultiva política do povo chinês. No domingo (5) os quase 3.000 membros do Congresso Nacional do Povo (NPC) se encontram pela primeira vez desde o Congresso do PCC de outubro, que concedeu ao presidente Xi Jinping mais um mandato de cinco anos à frente do gigante asiático.

Embora o CCPPC seja apenas consultivo, ele é valorizado no país por ter entre seus integrantes representantes de toda a sociedade chinesa, incluindo empresários de vários setores. E esses membros não são necessariamente do Partido Comunista Chinês.

A agência de notícias Xinhua informou que a reunião está prevista para terminar no dia 11 de março.

Já o Congresso Nacional do Povo é o principal órgão de decisões legislativo e começa seu encontro no domingo (NPC).

Será nesse encontro que o primeiro-ministro Li Keqiang vai se despedir do cargo que ocupa há 10 anos, passando a responsabilidade para Li Qiang, um fiel aliado de XI Jinping que nunca ocupou nenhum cargo importante no governo central.

Foco na economia

A passagem de bastão política é importante, mas é também nesse encontro que a China apresenta suas projeções e metas macroeconômicas oficiais para o ano, como o crescimento do PIB, a taxa de inflação ao consumidor e os resultados fiscais.

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Também é esperado que um novo presidente do Banco Popular da China (PBoC, o Banco Central local) e outros altos cargos econômicos sejam anunciados, além de diretrizes sobre a política monetária e estímulos para impulsionar o crescimento.

E isso acontece num momento no qual a economia chinesa experimenta uma forte retomada, alavancada pela retirada de restrições impostas durante a pandemia de covid-19 – que entre idas e vindas durou praticamente três anos.

Nesta semana, foi divulgado que o Índice de Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) industrial chinês subiu para 51,6 em fevereiro, indicando que a atividade do setor saiu do território de contração pela primeira vez nos últimos sete meses.

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O PMI de serviços, por vez, foi a 55,0 em fevereiro, atingindo o maior nível desde agosto passado.

Segundo a agência Xinhua, ao comentar a evolução do setor de manufatura, o escritório nacional de estatísticas NBS destacou que o índice de perspectivas de negócios ficou no melhor nível em 12 meses, com o otimismo compartilhado por todos os setores pesquisados, com destaque para o automobilístico, de equipamentos em geral, têxtil e de processamento de produtos agrícolas.

Os investidores estrangeiros também estão ansiosos para aproveitar as oportunidades da recuperação econômica da China.

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O Ministério do Comércio chinês informou recentemente que o investimento estrangeiro direto (IED) na parte continental da China, aumentou 14,5% em termos anuais em janeiro, para 127,69 bilhões de yuans em janeiro. Em dólares, os aportes cresceram 10%,  para US$ 19,02 bilhões.

A pujança tem atraído a atenção do mercado. O The Wall Street Journal destacou que os investidores adicionaram mais de US$ 2 bilhões líquidos neste ano a fundos mútuos baseados em empresas chinesas negociados nos Estados Unidos, segundo dados da Refinitiv Lipper.

O índice MSCI China, que acompanha as empresas chinesas listadas nos EUA, Hong Kong e na parte continental da China, subiu cerca de 45% desde o último mês de outubro. Um estimativa recente do Goldman Sachs vê um potencial aumento de 24% no índice até o final de 2023.

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Otimismo com o PIB

As projeções de PIB estão seguindo essa tendência. O Fundo Monetário Internacional (FMI revisou sua projeção para o crescimento da economia chinesa em 2023 de 4,4% (em outubro) para 5,2% (em janeiro).

A Moody’s Investors Service fez o mesmo e recentemente e aumentou sua estimativa de 4% para 5% de crescimento real do PIB tanto em 2023 como em 2024. O Deutsche Bank vê um potencial ainda maior e já prevê uma alta de 6% neste ao, ante 4,5% da estimativa anterior.

Em relatório divulgado nesta semana, a Julius Baer, no entanto, fez um ajuste pontual, prevendo um PIB 5,3% maior em 2023, ante os 5,2% anteriores. A projeção de 2024 foi reduzida um pouco, de 4,9% para 4,7%.

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Para a Julius Baer, embora o sentimento empresarial tenha melhorado e as atividades de consumo e serviços estejam se normalizando, os dados de crédito chineses sugerem que o sentimento de consumidores e potenciais compradores de residências permaneceu fraco em janeiro e que a demanda reprimida pode diminuir após uma recuperação inicial.

Um projeção mais realista evita uma frustração como a que ocorreu em 2022, quando as autoridades chinesas saíram das reuniões com uma projeção de crescimento de 5,5% para o ano e colheram um resultado de apenas 3% ao final do exercício.