Chance de alta na Selic cresce com projeções de PIB próximas de 3% no ano

Mesmo com expectativa de perda de força da economia no segundo semestre, viés do PIB no ano é de alta, dizem economistas; BC deve promover ciclo gradual de alta nos juros a partir de setembro

Roberto de Lira

Consumidores em supermercado no Rio de Janeiro (Foto: Sergio Moraes/Reuters)
Consumidores em supermercado no Rio de Janeiro (Foto: Sergio Moraes/Reuters)

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A evolução da economia brasileira surpreendeu novamente para cima no 2º trimestre e está levando a uma revisão pelos economistas do crescimento do PIB esperado para 2024 de patamares próximos a 2,5% para algo em torno de 3%. Com isso, aumentou a possiblidade também de o Banco Central iniciar em setembro um ciclo gradual de alta da Selic, avaliam os especialistas.

Segundo as análises, os crescimento do PIB – de 1,4% ante o primeiro trimestre do ano e de 3,3% em relação ao segundo trimestre do ano passado – foi praticamente generalizado, com a já esperada exceção da Agricultura, devido à sazonalidade.

A equipe de economistas do C6 Bank, por exemplo, destaca que o crescimento de 2,5% na soma dos dois primeiros trimestre do ano, colocou a evolução do PIB brasileiro como a maior entre os países que compõem o MSCI EM (índice de bolsa de mercados emergentes).

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Claudia Moreno, economista do C6 Bank, destacou que as contribuições positivas no segundo trimestre vieram da indústria (+1,8%) e do setor de serviços (+1%). Do lado da demanda, houve ainda crescimento de 2,1% nos investimentos em formação bruta de capital fixo, componente que mede especialmente os aportes em infraestrutura. 

Enquanto isso, o consumo das famílias, segmento que compõe uma parte importante do PIB e que tende a acompanhar o comportamento do setor de serviços, avançou 1,3%.

“Acreditamos que os fatores que impulsionaram a economia na primeira metade do ano, como safra recorde de grãos, reajuste do salário-mínimo e pagamento de precatórios, devem perder força na segunda metade. Por isso, esperamos uma forte desaceleração da atividade, que deve registrar uma expansão perto de zero no segundo semestre”, estimou a economista. 

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Mesmo com essa percepção, o C6 Bank deve revisar para perto de 3% sua projeção de crescimento para o PIB de 2024. “Para Em 2025, o PIB deve desacelerar, fechando o próximo ano com um aumento de 1,2%.”

Na XP, também há um viés de alta para a projeção do PIB, que foi revisada recentemente de 2,2% para 2,7%. Segundo Rodolfo Margato, economista da XP, cresceu bastante a probabilidade de que o PIB de 2024 mostre crescimento próximo de 3%.

Margato também destacou no período a força do consumo das famílias, que teve crescimento de quase 5% no 2º tri em relação ao mesmo trimestre de 2023. Ele destacou a recuperação do investimentos e o resultado da indústria, mas reforçou que o protagonismo sob a ótica da demanda foi mesmo o consumo.

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Ele lembrou que isso se refletiu também em vários componentes do lado da oferta, como em outros serviços, PIB de comércio com uma dinâmica bastante favorável e a própria indústria com uma retomada expressiva na transformação, construção civil e utilities. “Enfim, um crescimento disseminado na economia brasileira.”

Essa visão de atividade bastante sólida, segundo Margato, é positiva em ternos de geração de emprego e de renda, mas, ao mesmo tempo, representa um ponto de observação para a política monetária.

“Uma atividade mais forte do que o esperado, pode manter a inflação, sobretudo a de serviços, acima da meta”, disse o economista da XP, que prevê uma alta de 0,25 ponto percentual na Selic na reunião do Copom de setembro.

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Rafaela Vitória, economista chefe do Inter, disse que o crescimento mais acelerado, impulsionado pela expansão fiscal, não é sustentável considerando o atual patamar de juros que resulta em elevado déficit fiscal e aceleração preocupante da dívida pública.

“É necessária uma revisão das políticas públicas e uma maior harmonia entre a fiscal e monetária. Sem capacidade adequada pelo lado da oferta, com o hiato do produto positivo, a pressão inflacionária pode crescer e resultar em novo ciclo de aperto monetário pelo Banco Central, como já está precificado na curva de juros.”

Emprego, renda e consumo

Para a Guide Investimentos, a mais nova leitura do PIB corrobora a visão de que a economia brasileira fechou o 1º semestre de 2024 em forte expansão, com destaque para absorção interna em meio à manutenção de um mercado de trabalho aquecido e uma massa de rendimentos na máxima histórica, o que continua alimentando avanços do consumo das famílias e a alta do consumo de serviços.

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“A publicação também destaca o bom desempenho da indústria do lado da oferta e do aumento dos investimentos do lado da demanda em meio ao crescimento das importações de bens de capital e o forte desempenho do setor de construção”, diz o texto.

A avaliação é que o resultado ainda deixa uma herança estatística favorável para o restante do ano. E que, caso o PIB, a preços de mercado, se mantenha nos níveis atuais até o fim do ano, o crescimento da economia em 2024 seria de 2,87%.

“Em função disso, colocamos um forte viés altista na nossa projeção de crescimento, revisando preliminarmente de 2,2% para 2,9%. Com relação à política monetária, entendemos que o número, apesar de ser uma foto do passado, corrobora a nossa visão de que o BC já deverá começar a elevar a Selic em setembro, mesmo que através de um incremento gradual, de 0,25 p.p.”

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Igor Cadilhac, economista do PicPay, acredita que o hiato do produto – a diferença entre o PIB potencial e o realizado – continuará apertado por algum tempo. “O mercado de trabalho mantém sua tendência positiva, permanecendo em pleno emprego, com uma composição saudável e sucessivos recordes. Os rendimentos têm crescido de forma disseminada entre os diversos setores da economia, fortalecendo a massa salarial e, consequentemente, impulsionando a demanda interna”, afirmou.

Cadilhac destacou ainda a recuperação substancial em setores estruturalmente mais frágeis, como a indústria e a construção civil. “Por outro lado, os riscos negativos estão associados a um ciclo de juros elevados por mais tempo. Por ora, mantemos nossa projeção de crescimento de 2,5% para o PIB em 2024, mas o viés é altista.”

Para o Bradesco, a expectativa ainda é de desaceleração do PIB na segunda metade do ano, mas a surpresa com a divulgação de hoje sugere que esse movimento poderá ser gradual.

O Itaú, por sua vez, previu em análise um crescimento do PIB de 2,5% em 2024, considerando alguma desaceleração da atividade econômica durante o segundo semestre do ano devido à redução do estímulo fiscal e menos suporte do ciclo de crédito. No entanto, reconheceu que há um viés de alta em sua projeção para o ano.

Marcos Moreira, sócio da WMS Capital, também tem um expectativa de um viés de alta nas projeções de PIB para o ano, para um crescimento próximo de 3%, o que deve levar a um início de ciclo de aperto monetário pelo Copom. Ele explicou que a economia crescendo forte abre uma janela de oportunidade para o BC elevar a Selic, uma vez que o impacto disso na atividade pode ser melhor absorvido.