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O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil referente ao primeiro trimestre ano divulgado na quinta-feira (1) e que surpreendeu com uma forte alta de 1,9% ante o 4° trimestre de 2022, não pode ser considerado bom do ponto vista qualitativo porque representou mais um choque de oferta do que um desempenho que mostre uma tendência. Prova disso é que, perto de 90% do resultado veio de efeitos diretos e indiretos da força do Agronegócio. A afirmação é da economista Silvia Matos, coordenadora do Boletim Macro do FGV/Ibre.
Em palestra em evento do InfoMoney para o público corporativo, Silvia reconheceu que o PIB veio extremamente forte e além de qualquer estimativa, mas pediu cautela na análise do dados porque não foi um desempenho generalizado.
O efeito direto da Agropecuária foi 1,2 ponto percentual do dado final, calculou a economista. “Basicamente 75% é efeito direto do Agro. E tem o efeito indireto, via vários segmentos: agroindústria, setor de transporte e até o setor comércio sendo favorecido, dá mais ou menos uns 90%”, estima.
Além disso, ela destaca que a indústria extrativa também foi muito bem. “A gente diz que é um choque de oferta. Porque ele tem muito a ver com um choque positivo na produção de insumos básicos e de toda a cadeia logística, mas quando olha pela ótica da demanda doméstica, ela foi fraca”, explicou a economista do FGV/Ibre.
Os consumo das famílias cresceu apenas 0,2%, lembra, e o investimento caiu 3,4%, acima das estimativas. Ou seja, já são dois trimestres de queda no investimento. “Então, limpando esses efeitos mais atípicos de um choque de oferta e consumo de governo, o PIB foi fraco do ponto de vista da ótica da demanda, que é o mais importante para a gente”, afirmou.
Pressões
Silvia Matos acredita que o governo deve estar incomodado com essa abertura dos dados do PIB, embora o número final tenha vindo alto. “O governo com certeza não está contente. Está cada vez mais querendo incentivar consumo, incentivar desoneração e há pressão dos setores para gera mais demanda, gerar mais investimento. A gente percebe que o governo tem feito um esforço para tentar reduzir o efeito da política monetária”, comentou.
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Ele vê um problema em atender a esses interesses porque o País pode até colher um crescimento um pouco maior da economia, mas provavelmente a gente vai colher mais juro de equilíbrio, de juro real, com a economia mais alta.
Entre os problemas e desafios estruturais que a economia brasileira precisa superar para alcançar taxa sustentadas de crescimento, ela citou encontrar a melhor maneira de combinar políticas sociais com equilíbrio fiscal, pois a pressão por mais gasto social é generalizada.
Silvia afirmou que para isso, a busca na eficiência dos gastos é primordial. Uma sugestão é institucionalizar um sistema permanente de revisão de gastos públicos, conhecido internacionalmente como “Spending Reviews”, um modelo testado com sucesso em diversos países como Austrália, Canadá, Reino Unido, Holanda e Dinamarca.
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A restauração da estabilidade macroeconômica é outros fator a ser perseguido, embora ela diga que isso uma condição necessária para o crescimento, mas não suficiente. “A solvência fiscal é um elemento fundamental”, declarou.
Desafio da produtividade
Mas uma das questões mais importantes é o aumento da produtividade. “Não existe atalho para o crescimento econômico”, comentou. A economista lembrou que o Brasil teve um teve um período de ganhos nessa área, entre 2001 e 2010, período marcado por reformas macroeconômicas, crescimento global, commodities em alta e cenário de crédito expandido.
Nesse período de bonança, a Produtividade Total dos Fatores (PTF) média chegou a +1,5%. Mas o País “perdeu” a década seguinte, com a PTF ficando em -0,4% média entre 2011 e 2019. “A gente reverteu todos os ganhos de produtividade. O Brasil cresce pouco de uma maneira histórica porque não tem produtividade, não é eficiente”, afirmou.
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Com a pandemia, os setores com baixa produtividade foram penalizados e saíram de cena no início da pandemia, o que melhorou os números em 2020, mas à medida em que a economia voltou, os setores pouco produtivos voltaram a crescer. No final de 20202, a PTF estava 3,2% abaixo da verificada no quarto trimestre de 2019.
Silvia reconhece que não há solução fácil para escapar dessa armadilha, mas ela sugeriu avançar na longa agenda de reformas para aumentar a produtividade, caso contrário, o crescimento vai continuar muito baixo, independente do cenário internacional. “O diagnóstico já é mais do que conhecido, o receituário também”, disse.
Uma dessas reformas que dá um ar mais otimista é a Tributária, em tramitação no Congresso. “Muitos aspectos de nossa baixa produtividade é que a gente penaliza empresas produtivas e beneficia empresas improdutivas. Isso faz com o setor industrial seja o mais penalizado pelo sistema tributário”, comentou.
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Ela disse ainda que dos vários desafio para o Brasil alcançar o crescimento, está mais otimista com os resultados que virão da Reforma Tributária. “Demora para ter os efeitos, mas a gente pode ter aumento do PIB potencial”, previu.
Sobre a inflação, a economista da FGV/Ibre destacou que o País ainda está no meio do processo de controle inflacionário, não terminamos. Sobre o trabalho da política monetária, Silvia fez uma analogia a um tratamento contra um câncer. “É horrível, tem efeitos colaterais, mas gente está vencendo algo que é muito pior. A sociedade avalia que é importante ter inflação baixa”, comentou.” Estamos pagando um custo alto? Estamos. Mas a pergunta é: e se não fizesse isso, será que estaria colhendo uma inflação mais baixa?”, questionou.
Para ela, um dos elementos fundamentais para conseguir uma redução da demanda doméstica e ter expectativas ancoradas. Daí é importante que as pessoas acreditem que a meta de inflação seja respeitada. “Infelizmente, por questões políticas, tem se discutido uma mudança uma mudança de meta. E tem sido negativo”, disse