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O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil avaliou que o cenário econômico doméstico, marcado por resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas, demandava uma política monetária mais contracionista.
A informação está na ata da reunião realizada entre os dias 17 e 18, na qual o Comitê optou por elevar a taxa básica de juros (Selic) em 25 pontos-base, para em 10,75% ao ano.
Para os diretores, sem prejuízo do objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, a decisão de elevar os juros também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.
O Comitê disse ter optado por uma comunicação que reforça a importância do acompanhamento dos cenários ao longo do tempo, “sem conferir indicação futura de seus próximos passos, insistindo, entretanto, no seu firme compromisso de convergência da inflação à meta”.
“O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo ora iniciado serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.”
Após a análise do cenário, o Copom julgou que o início do ciclo deveria ser gradual de forma a, por um lado, se beneficiar do acompanhamento diligente dos dados, ainda mais em contexto de incertezas, tanto nos cenários externo como doméstico. Mas, por outro lado, que permitisse que os mecanismos de transmissão da política monetária que possibilitarão a convergência da inflação à meta já comecem a atuar.
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Assim, todos os membros do Comitê concordaram em iniciar gradualmente o ciclo de aperto de política monetária.
Na reunião, o Comitê debateu o ritmo e a magnitude do ajuste da taxa de juros, bem como sua comunicação. “Em virtude das incertezas envolvidas, o Comitê preferiu uma comunicação que reforça a importância do acompanhamento dos cenários ao longo do tempo, sem conferir indicação futura de seus próximos passos, insistindo, entretanto, no seu firme compromisso de convergência da inflação à meta.”
“Esse ritmo de crescimento da atividade, em contexto de hiato [a diferença entre o PIB potencial e o momento da atividade econômica] agora avaliado positivo, torna mais desafiador o processo de convergência da inflação à meta”, diz o texto.
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Além disso, foi dito na ata que a conjunção de um mercado de trabalho robusto, política fiscal expansionista e vigor nas concessões de crédito às famílias segue indicando um suporte ao consumo e consequentemente à demanda agregada. “Em síntese, à luz da atualização dos dados de atividade do período e dos modelos apresentados, o Comitê concluiu que o hiato está em campo positivo.”
O Comitê observou também que o continuado dinamismo no mercado de trabalho, verificando-se ganhos reais nos salários nos últimos meses. “Como não há evidência de aumento significativo de produtividade, tais ganhos podem refletir pressão no mercado de trabalho”, explicou.
A esse respeito, segundo a ata, alguns membros enfatizaram evidência de falta de oferta de trabalho em alguns setores.
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Discutiu-se então o impacto potencial do mercado de trabalho sobre a inflação. Argumentou-se que não há evidência ainda de que pressões salariais estejam impactando preços, mas ressaltou-se que o crescimento real de salários, em se mostrando persistente e acima de ganhos de produtividade, acabará tendo impacto sobre preços. “O Comitê nota, porém, que o momento e a magnitude desse canal de transmissão permanecem incertos.”
Cenário externo melhorando
Se as condições internas da economia se mostram mãos desafiadoras, o Copom disse ver os aspectos externos mais benigno do que na reunião anterior do Comitê, em julho.
Com relação aos Estados Unidos, a avaliação foi que permanece grande incerteza sobre o grau de arrefecimento das pressões no mercado de trabalho e da desaceleração da atividade econômica.
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“Nota-se que a economia norte-americana se encontra em um momento de inflexão, em que, naturalmente, há maior dificuldade na extração das tendências subjacentes das variáveis de emprego e atividade. De todo modo, o cenário-base do Comitê é de desaceleração gradual e ordenada da economia norte-americana.”
Sobre a desaceleração econômica chinesa e as variações de preços de commodities, os integrantes do Copom acreditam que o processo desinflacionário tem prosseguido em vários países, mas que permanecem desafios que não devem ser subestimados para o retorno das inflações às metas.
“Nesse aspecto, notou-se que, após um choque inflacionário global, que levou a uma resposta correlacionada dos bancos centrais, as dimensões peculiares de cada economia têm tido maior protagonismo, levando a uma menor correlação dos ciclos de política monetária entre os países.”
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Segundo o Copom, a resposta das políticas econômicas dos diferentes países a tal cenário também se mostra desafiadora.
De um lado, o Comitê destacou o papel das políticas fiscais como propulsoras da demanda após a pandemia, mas ressaltou que o espaço de atuação da política fiscal tornou-se mais limitado com o aumento da dívida pública e das preocupações com a sustentabilidade fiscal.
As políticas monetárias, por outro lado, em um ambiente tão incerto, mantêm-se reativas e dependentes dos dados na maior parte dos países, também trazendo inerente volatilidade aos mercados, como observado durante o período recente.
“Ademais, o Comitê reforçou que o compromisso dos bancos centrais com o atingimento das metas é um ingrediente fundamental no processo desinflacionário, corroborado pelas recentes indicações de ciclos cautelosos de política monetária em vários países.”
O Copom destacou ainda que a taxa de câmbio do real apresentou volatilidade no período, refletindo as diversas alterações no cenário doméstico e internacional. Mas o Comitê reiterou que não há relação mecânica entre a condução da política monetária norte-americana e a determinação da taxa básica de juros doméstica, tampouco entre a taxa de câmbio e a determinação doméstica da taxa de juros.
“Como usual, o Comitê focará nos mecanismos de transmissão da conjuntura externa sobre a dinâmica inflacionária interna e seu impacto sobre o cenário prospectivo. Reforçou-se, ademais, que um cenário de maior incerteza global e de movimentos cambiais mais abruptos exige maior cautela na condução da política monetária doméstica.”