Brasil teve retomada surpreendente, mas duas questões definirão trajetória à frente, apontam Megale e Figueiredo

Risco fiscal e como será a reação da economia com gradativo fim dos estímulos serão acompanhados de perto, avaliaram economistas no FII Summit 2020

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O Brasil experimenta um cenário de retomada econômica mais expressiva do que as projeções no auge dos temores com a pandemia do novo coronavírus indicavam. Se, entre meados de março e abril, esperava-se que o Produto Interno Bruto (PIB) nacional fosse cair entre 7% e 9% em 2020, as expectativas agora passam a convergir para baixa de 5% ou até menos expressiva, de cerca de 4%.

Contudo, alguns setores não estão reagindo da mesma maneira e há algumas questões ainda em debate para entender como será o ritmo dessa recuperação, conforme apontaram Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos, e Luiz Fernando Figueiredo, fundador e CEO da Mauá Capital. São elas: a questão fiscal e como será a recuperação da atividade com a gradativa diminuição dos estímulos.

Megale e Figueiredo participaram nesta terça-feira (22) do painel “As perspectivas para a economia” no FII Summit 2020, maior evento de fundos imobiliários do país realizado pelo InfoMoney.

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“A confiança da indústria está maior do que no início na economia”, ressalta Figueiredo, apontando, porém, que a economia ainda deve operar em um patamar de ociosidade grande, uma vez que as projeções apontam para um crescimento do PIB de 3,5% no ano que vem – ou seja, sem voltar ainda ao patamar pré-pandemia.

“Isso quer dizer que o desemprego vai diminuir muito lentamente porque as empresas vão empregar a um ritmo mais lento e também porque, em momentos de choque como os de agora, elas também aprendem a trabalhar com menos gente”, avalia.

Para Megale, ainda há uma incerteza sobre a recuperação, uma vez que o mundo ainda está muito disfuncional: “há setores que estão sentindo uma retomada maior, mas têm receio em fazer um aumento de estoques. Isso porque não sabem se essa demanda vai durar por muito tempo tanto por conta da [incerteza com a duração da] pandemia quanto por conta do uso de instrumentos para manter a economia funcionando”. Entre as medidas, o economista cita o auxílio emergencial, programas de crédito e de manutenção de emprego.

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Nesse cenário, há superaquecimento em setores como de construção, varejo e muita ociosidade no setor de serviços, avalia. Ele ressalta que o programa de auxílio emergencial foi bem-sucedido e também levou a uma reação rápida dos agentes, consequentemente levando a uma queda menor do PIB. Contudo, os programas tendem a se reduzir à medida que a economia volte ao normal, o que gera incerteza sobre como será o ritmo da retomada quando os estímulos diminuírem.

Retomada no setor imobiliário: novas tendências e de olho nos juros

Com relação à retomada do mercado imobiliário, o economista-chefe da XP destaca que o segmento de construção sentiu pouco o efeito negativo da crise com a contaminação baixa pelo coronavírus dos trabalhadores do setor, além de se beneficiar de um cenário de juros baixos, o que favorece o financiamento de imóveis.

“Diante de uma pandemia, a pessoa pode pensar duas vezes em ir ao restaurante mas, para o investimento daqui 10 anos, as decisões de consumo são menos afetadas, como é o caso da compra de um imóvel. Outro fator a ser monitorado é como as mudanças após o distanciamento social, como o home office, vão afetar as decisões de consumo, se vão levar as pessoas a investirem mais na casa, procurarem imóveis maiores”, avalia Megale.

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Figueiredo aponta que os segmentos residencial e de logística (com maior demanda das empresas de e-commerce) acabaram se beneficiando nesse cenário, enquanto o comercial vai sofrer alguma redução de espaço com o aumento do home office, ainda que não seja a apontada no início da pandemia.

A questão fiscal 

O cenário de juros baixos, conquistado recentemente pelo Brasil, foi essencial para que o setor imobiliário passasse pela crise. Mas até quando ele vai continuar?

Tanto para Figueiredo quanto para Megale, com as projeções de inflação ancoradas, em um ambiente em que a ociosidade siga alta e em que o setor de serviços ainda demore para se recuperar, os juros devem seguir ainda no patamar atual, com a Selic a 2% ao ano, até meados de 2021.

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Contudo, um fator de incerteza e que será monitorado de perto pelo Banco Central é a trajetória da dívida pública brasileira, uma vez que o Brasil entrou na crise com dívida a 75% do PIB e sairá dela perto de 100% do PIB em meio às medidas para diminuir o impacto do coronavírus na atividade.

“O país sai da crise com uma dívida gigantesca. Administrar isso é complicado. O mínimo que temos que fazer é controlar despesas através do teto de gastos, com aumento dos gastos perto da inflação. Só que, como a dívida é muito alta, não estamos conseguindo fazer isso e também há uma discussão recente de prolongar auxílio e turbinar Bolsa Família (…) Faz sentido ampliar o programa, mas não faz sentido descumprir o teto, uma vez que a dinâmica [da dívida] vai ficar ainda pior, o que vai afetar expectativa de inflação, taxa de câmbio e, finalmente, a taxa de juros”, ressalta Megale.

Na avaliação de Figueiredo, enquanto houver ociosidade na economia, os juros vão ficar em nível estimulativo – bastante baixos – e, se houver alguma surpresa positiva na retomada da atividade, pode haver uma alta mais rápida nas taxas. “Mas isso também não quer dizer que [o juro]  tenha que subir muito”, ressalta.

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Ele também reforça: “o fiscal é o divisor de águas, com o fiscal descontrolado desancora tudo [todas as expectativas]”. O economista aponta que, no cenário atual do Brasil, a vantagem é que, com o juro no curto prazo é muito baixo, carregar essa dívida muito maior não vai custar tanto como em épocas anteriores.

“Isso quer dizer que temos um pouquinho mais de tempo para resolver a questão fiscal, mas é inescapável que a gente consiga sair desse vermelho e vá para algum superávit para reverter esse crescimento da dívida/PIB”, avalia Figueiredo.

Para o CEO da Mauá Capital, tanto a sustentabilidade do teto de gastos quanto a questão sobre a volta à agenda de reformas serão temas mais relevantes para o Brasil do que questões externas, como eleições nos EUA ou segunda onda de coronavírus na Europa.

O evento

O InfoMoney realiza o maior evento de fundos imobiliários do país, entre 22 e 24 de setembro.

Online e gratuito, o FII Summit – Fórum de Fundos Imobiliários reúne executivos de algumas das maiores construtoras e incorporadoras do país, além de economistas, analistas e gestores de FIIs, que vão discutir as tendências desse mercado nos seus diversos segmentos (comercial, hoteleiro, logístico e residencial).

Para participar do FII Summit, que conta com apoio da XP Investimentos, basta se cadastrar gratuitamente no site do evento. Confira a programação completa clicando aqui. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.