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O desempenho dos ativos financeiros brasileiros no início deste ano tem superado o de outros mercados emergentes em 2024, impulsionado por fatores internos e externos. No cenário doméstico, a política econômica reagiu ao quadro macroeconômico.
O Banco Central intensificou a alta dos juros e interveio no mercado cambial, enquanto o governo conseguiu aprovar um conjunto de medidas para conter o crescimento das despesas. Os especialistas da XP Investimentos destacaram em relatório que é por conta desse movimento de política monetária mais restritiva que a economia começou a mostrar sinais de desaceleração.
No cenário internacional, a XP Investimentos observa que os primeiros movimentos do governo de Donald Trump, nos Estados Unidos, foram menos agressivos do que o esperado pelos mercados, enquanto os preços das commodities, especialmente o petróleo, mostraram recuperação.
A inflação no Brasil continua pressionada no início deste ano, com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de janeiro registrando alta de 0,11%, influenciado pelo bônus de Itaipu — um desconto na conta de luz de consumidores residenciais e rurais que tiveram um consumo inferior a 350 kWh –, mas com uma composição considerada preocupante pelos especialistas. A inflação de serviços, que reflete a demanda interna aquecida, atingiu 8,2% na média móvel de três meses, o maior patamar desde setembro de 2022.
O aumento dos preços de bens industriais e alimentos também preocupa, com projeções de alta de 4,7% para bens industrializados e 9,6% para alimentos consumidos em casa. Os analistas da XP preveem que o setor de proteínas deve sofrer novo choque de preços no último trimestre, enquanto os preços administrados, como combustíveis, devem continuar subindo ao longo do ano. A projeção da corretora para o IPCA deste ano segue em 6,1%, acima do teto da meta de inflação.
Outro ponto abordado pelos analistas em relatório é a de que a política monetária seguirá restritiva para conter as pressões inflacionárias. A XP projeta a taxa Selic terminal em 15,50%, com altas de 1,00, 0,75 e 0,50 ponto percentual nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom). Segundo os estrategistas, a inflação elevada e a desancoragem das expectativas justificam a manutenção de juros altos por mais tempo.
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A política fiscal expansionista, impulsionada pelo crescimento dos gastos do governo central e de estatais, adiciona dificuldades ao controle da inflação e amplia a necessidade de uma política monetária mais dura. A XP avalia que, caso a taxa de câmbio estabilize e a desaceleração da economia se intensifique, o Copom pode encerrar o ciclo de alta da Selic já em maio, antecipando a última elevação prevista.
Para 2026, a política monetária deve começar a surtir efeito, conforme a corretora, contribuindo para reduzir a pressão sobre a demanda e estabilizar a taxa de câmbio. A XP projeta inflação de 4,5% no próximo ano, ainda no limite superior da banda de tolerância da meta. A evolução do cenário econômico dependerá do comportamento da taxa de câmbio, da resposta da atividade econômica às taxas de juros elevadas e do impacto das políticas fiscais.
Para os analistas, a desaceleração da economia e os primeiros sinais de acomodação no câmbio indicam que os esforços do Copom começam a ter efeito, mas eles também afirmam que ainda há incertezas sobre a trajetória da inflação e a necessidade de ajustes adicionais na política monetária. “Continuamos a projetar elevação de 2,0% para o PIB de 2025. Nosso cenário prevê um ritmo de crescimento trimestral médio de 0,2% este ano, frente a 0,9% no ano passado. O arrefecimento da atividade deve ficar mais evidente a partir do 2º trimestre”, afirma a equipe da XP em relatório.
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Influências da política externa
Do outro lado da moeda, de acordo com a corretora, a economia dos Estados Unidos mantém um ritmo forte, impulsionada pelo consumo interno e pelo mercado de trabalho aquecido, enquanto a inflação segue acima da meta de 2%. O núcleo do índice de preços ao consumidor (CPI) e do deflator do consumo (PCE) continuam elevados, o que levou à revisão das expectativas para a política monetária.
A XP Investimentos não prevê mais cortes de juros nos EUA porque as atuais condições financeiras parecem suficientes para equilibrar o crescimento e os riscos inflacionários. Apesar disso, os analistas deixam claro que há incerteza sobre futuras decisões do Federal Reserve, especialmente diante das políticas tarifárias e de imigração do governo Trump, que podem aumentar a pressão sobre os preços.
A valorização do real no início do ano foi impulsionada por fatores externos e domésticos. O dólar recuou para R$ 5,83, recuperando parte das perdas registradas no final de 2024, apoiado pela recuperação moderada dos preços das commodities e pelo alívio nas tensões comerciais. Mesmo com a volatilidade, a XP manteve suas projeções para o câmbio, estimando R$ 6,20 por dólar no final de 2025 e R$ 6,40 em 2026. O aumento da incerteza fiscal e o impacto das eleições no Brasil podem gerar novas oscilações, enquanto o comércio global segue sob efeito das decisões protecionistas dos EUA.
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O déficit em transações correntes do Brasil mais que dobrou em 2024, atingindo US$ 55,9 bilhões, equivalente a 2,55% do PIB, principalmente devido à redução do saldo comercial e ao aumento das despesas com serviços. Para 2025, a XP projeta um déficit menor, de US$ 52,5 bilhões (2,6% do PIB), com melhora na balança comercial devido à desaceleração econômica e à desvalorização cambial. O investimento direto no país deve cair levemente, chegando a US$ 60 bilhões em 2025.
A XP acredita que o Brasil, por enquanto, não parece ser um alvo direto das medidas comerciais dos EUA, e o impacto de possíveis barreiras tarifárias deve ser mais setorial do que macroeconômico, considerando a pauta exportadora concentrada em petróleo e aço.