SÃO PAULO — Do total de US$ 334,2 bilhões que o Brasil possuía em reservas internacionais no fim de maio deste ano, cerca de US$ 264,4 bilhões estavam alocados em títulos do Tesouro americano. É o quinto país com a maior posição em Treasuries no mundo.
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O líder é o Japão, que ultrapassou a China em maio de 2019 e atualmente possuí aproximadamente US$ 1,272 trilhão em títulos públicos dos Estados Unidos, de acordo com os dados mais recentes divulgados pelo Departamento do Tesouro americano.
Em segundo lugar, a economia chinesa tem cerca de US$ 1,082 trilhão de suas reservas internacionais em Treasuries. O Reino Unido e a Irlanda vêm logo em seguida, com posições de US$ 395,3 bilhões e US$ 271,5 bilhões, respectivamente.
Os dados foram compilados e ilustrados graficamente pelo site HowMuch.net (veja abaixo). Juntos, Japão e China representam US$ 2,353 trilhões ou 34,6% da dívida americana pertencente a países estrangeiros.
O mercado de títulos da dívida americana está em expansão há anos. Os recentes gastos com a pandemia de coronavírus aumentarão o déficit do país em 2020 para US$ 3,7 trilhões, o que indica que o Tesouro deve continuar vendendo Treasuries no médio prazo, pelo menos.
Atualmente, o mercado de títulos do Tesouro americano totaliza US$ 25,7 trilhões, mas menos de US$ 7 trilhões estão em posse de investidores internacionais, como o Brasil. Os investidores americanos, o Federal Reserve e outras partes do governo dos EUA possuem cerca de 70% de toda a dívida nacional daquele país.
Dos dados compilados pelo HowMuch.net, chama atenção o fato de as Ilhas Cayman terem uma alta quantia em Treasuries, US$ 207,2 bilhões ou 3,04% de todos os detentores estrangeiros, apesar de ser um país bem pequeno. Por ser um “paraíso fiscal”, há muitos estrangeiros investindo por lá.
“O Brasil, por ter reservas muito altas, acaba tendo uma participação maior no mercado de dívida americano do que outros países da América Latina”, diz Marcel Balassiano, pesquisador da área de economia aplicada do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE), da Fundação Getulio Vargas (FGV).
Da região, além do Brasil, apenas o México e o Chile aparecem com posições relevantes de Treasuries no gráfico do site. O primeiro tem uma posição de US$ 40,9 bilhões em títulos do Tesouro do EUA, enquanto o segundo, de US$ 30,1 bilhões.
São montantes bem menores do que a posição do Brasil, mas também as reservas internacionais desses países são menores — a do México está em cerca de US$ 186,7 bilhões, enquanto a do Chile está em torno de US$ 36,8 bilhões.
“A principal razão de ter reservas são as volatilidades de mercado internacional, particularmente as financeiras. Na crise atual, por exemplo, qual foi a reação que vimos do mercado financeiro? Ele não quer instabilidade, ele quer segurança”, disse Simão Silber, professor doutor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP).
“Quando o país tem problemas, esse é o caixa que ele tem em dólar. Os países emergentes aprenderam a importância de ter uma reserva após grandes traumas, no final dos anos 1970 e começo dos anos 1980, depois com a crise da Ásia na década de 1990 e depois com a moratória da Rússia, por exemplo.”
“Todo mundo sacou que precisava ter um colchão de liquidez. Antes da crise de 2008, quando o mercado estava bombando e todo mundo estava otimista, os bancos centrais emergentes, em especial o do Brasil, aproveitaram para criar esse colchão de segurança”, explicou Silber.
Com os juros ainda em dois dígitos no Brasil e otimismo externo, muitos investidores aceitavam o risco de investir por aqui. Com isso, a entrada forte de dólares no país gerou um excesso de liquidez, e o BC foi às compras para compor sua reserva de emergência e manter a estabilidade do mercado.
“O Brasil era confiável, entrou muito dinheiro em Bolsa e títulos, e o BC comprou mais de US$ 300 bilhões. Foi uma decisão estratégica. Foi uma premonição. Ninguém sabia que no final de 2019 e começo de 2020 ia chegar a tempestade perfeita. O cenário atual é de economia bastante prejudicada pela pandemia, mas não há risco de quebra do país, já que temos uma reserva de mais de US$ 300 bilhões”, afirmou Silber.
“Os investidores internacionais estão fugindo do risco e tiraram o dinheiro dos países emergentes, como o Brasil. Assim, para não gerar uma falta de dólares no país, o BC consegue usar as reservas internacionais para prover a liquidez necessária para o equilíbrio do mercado. Se não fosse isso, o dólar que já subiu para perto de R$ 6, por exemplo, poderia estar em um patamar muito mais alto”, completou o professor da FEA-USP.
Os países têm boa parte de suas reservas internacionais em títulos do Tesouro americano e de outras economias desenvolvidas, como o Reino Unido e o Japão, porque eles são classificados pelas agências de risco como “triple A” (nota máxima possível, quando o risco de calote é o mais baixo que existe).
“Ou seja, são os investimentos mais seguros que existem e, com isso, o BC tem seu caixa rendendo juros em dólar e outras moedas mais fortes que o real em mercados que são bastante líquidos. Se o BC precisar do dinheiro na hora, é possível vender os papéis muito rapidamente”, concluiu Silber.
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