BNDES deve devolver R$ 90 bilhões à União este ano

O valor será utilizado para abater a dívida pública, no que Guedes tem chamado de "a despedalada final"

Estadão Conteúdo

Sede do BNDES, no Centro do Rio de Janeiro
Sede do BNDES, no Centro do Rio de Janeiro

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O ministro da Economia, Paulo Guedes, concluiu na semana passada uma negociação com o BNDES, intermediada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), para a devolução de R$ 90 bilhões que haviam sido injetados pelo Tesouro Nacional no banco estatal e que, por ordem do órgão, devem retornar à União.

O valor será utilizado para abater a dívida pública, no que Guedes tem chamado de “a despedalada final”, em referência à quitação da dívida do BNDES com o governo federal. Os recursos foram injetados no banco entre 2008 e 2014, durante os governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Dilma Rousseff (PT) para irrigar a política de campeões nacionais. Foi estabelecido um cronograma de devolução nos últimos anos, mas o banco de fomento vinha ‘pedalando’ a devolução.

Com a devolução prevista, o Ministério da Economia prevê abater 1 ponto porcentual da dívida pública neste ano, fazendo com que ela feche 2022 ao redor de 77,6% do PIB. O valor corresponde ao patamar de endividamento encontrado pela atual equipe econômica quando assumiu a pasta, em janeiro de 2019.

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Guedes tem se dedicado a essa negociação nas últimas semanas, em reuniões com ministros do TCU, em especial com o relator Aroldo Cedraz e também com Jorge Oliveira, a quem coube a relatoria do pedido de urgência na tramitação do acordo. A palavra final da corte deverá ser dada no próximo dia 14, quando o tema tem previsão de ser levado a plenário.

O TCU havia determinado, em 2021, que o banco fizesse as devoluções em um cronograma estabelecido em negociação com a Economia. No ano passado, o BNDES deveria ter repassado R$ 100 bilhões à União, mas acabou efetuando um pagamento menor, de R$ 63 bilhões. Neste ano, a previsão era a de que o banco pagaria pouco mais de R$ 30 bilhões à União, mas como não devolveu toda a quantia de 2021, o governo federal passou a buscar um valor superior para liquidar esse passivo.

Além da questão econômica, o equacionamento dessa dívida tem também um valor político, uma vez que a crítica à gestão no BNDES na época dos campeões nacionais é parte do discurso de Jair Bolsonaro contra o PT.

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A administração do banco estatal resistia em fazer os pagamentos com o argumento de que, juridicamente, não poderia causar prejuízo à instituição, nem reduzir os parâmetros de segurança bancária de Basiléia, um acordo internacional que visa garantir solidez ao sistema financeiro. Por isso, Guedes recorreu à intermediação do TCU.

O BNDES, no entanto, registrou lucro de R$ 11,7 bilhões no segundo trimestre, mais de 120% superior ao do mesmo período do ano passado, o que abriu espaço para o pleito da Economia. Um dos argumentos sempre lembrados contra o banco é que os elevados resultados engordam também os bônus pagos aos executivos, o que desestimularia a devolução de maneira espontânea.