BC esfria mais um pouco as expectativas sobre acelerar ritmo de cortes, dizem economistas

Avaliação é que Copom quer ganhar tempo e observar se cenário benigno aqui e no exterior vai se consolidar

Roberto de Lira

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Após o comunicado pós-reunião do Comitê de Política Monetária na semana passada ter frustrado uma parcela dos operadores de mercado que esperavam alguma sinalização de que o BC poderia acelerar em breve o ritmo dos cortes na Selic, os economistas avaliam que a Ata do Copom divulgada hoje veio num tom mais duro (“hawk”), esfriando ainda mais essas expectativas.

Após a leitura das mensagens da Ata, a avaliação é que o Comitê não vê necessidade de alterar o atual plano de voo, ainda que o cenário externo tenha evoluído desde a reunião de novembro e que a inflação subjacente doméstica tenha moderado.

“Na nossa opinião, a mensagem é que a inflação e a atividade estão esfriando em linha com as expectativas do Comitê, portanto não há necessidade de mudar o plano de voo do ritmo de corte de 50 pontos-base”, diz o relatório Macro da XP Investimentos.

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A XP cita como principal alteração que a Ata apresentou em relação ao documento da reunião anterior a descrição de um cenário global menos adverso. “Isso era esperado, uma vez que os mercados melhoraram acentuadamente nas últimas semanas. Ainda assim, a Ata reforça que ‘a incerteza, particularmente neste ambiente internacional volátil, recomenda cautela na condução da política monetária’”, pondera a análise.

Sobre as expectativas a respeito da “taxa terminal”, o patamar de juros no final do ciclo de cortes, A XP avalia que o Copom evitou esse debate, citando apenas que  fatores como  dinâmica fiscal brasileira ou o cenário externo são observados pelo seu impacto na dinâmica prospectiva da inflação, sem qualquer relação mecânica com a determinação da taxa de juros.

“Lemos isso como uma mensagem de que essas variáveis são relevantes para determinar a taxa terminal, mas em última análise ela será definida pela dinâmica da inflação. E não sabemos como essas variáveis irão impactar a inflação e as expectativas de inflação ao longo do tempo, diz a análise

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“Mantemos nosso cenário de que o ritmo de 50 pbs continuará e o Copom fará uma pausa com a taxa Selic ainda em território restritivo – em torno de 10,00% – devido ao viés expansionista da política fiscal”, conclui a XP.

Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, também captou essa opção pela cautela por parte do BC, ainda que tenha havido um reconhecimento de que cenário externo está mais benigno.

Ele destaca dois pontos de preocupação com a trajetória da inflação doméstica que o BC trouxe na Ata divulgada hoje. O primeiro comentário é a relação que o Comitê faz entre o consumo das famílias e investimentos, no parágrafo 7. “Eles mencionam que, com a resiliência do consumo das famílias e os dados fracos de investimento, isso pode causar um excesso demanda em relação à oferta e com potencial impacto inflacionário nos preços”, afirma Cruz.

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Outro ponto de atenção, citado no parágrafo 12, é sobre o potencial impacto do El Niño sobre a inflação de alimentos nos próximos meses ou trimestres.

“Sobre a decisão de política monetária, me parece que o BC tá bem convicto de fazer mais dois cortes de 0,50 p.p. nas próximas duas reuniões de 2024, chegando aos 10,75% com calma e aí sim depois pensar em acelerar o ritmo de corte de juros”, prevê.

O economista da RB Investimentos vê uma ansiedade entre os operadores, após a melhora do cenário nos mercados financeiros, para que o BC acelere já no começo de 2024, mas que o Copom deve optar por esperar e avaliar a tendência. “Quanto mais devagar ele for, melhor para ir avaliando o que está acontecendo no cenário externo e, claro, alguns impactos internos.”

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De olho no Fed

Para o Santander Brasil,, a Ata do Copom de hoje veio com uma mensagem muito alinhada com a declaração anterior, embora com um tom um pouco mais “hawkish” que esta última.

“Destacamos o reconhecimento de melhorias no cenário internacional, da resiliência maior que a esperada no consumo das famílias e as surpresas descendentes no componente de serviços subjacente da inflação”, diz a análise da equipe capitaneada por Ana Paula Vescovi.

Na avaliação do banco, para que o risco de aceleração no ritmo de cortes se consolide, existe uma dependência de uma consolidação mais clara dos cortes pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) no 1º trimestre de 2024. “Observamos, no entanto, que dada a nossa taxa terminal para o ciclo atual, a janela para tais cortes diminui.”

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Para 2024, o Santander Brasil continua projetando cortes de 50 pontos-base nas quatro primeiras reuniões do ano, antes de um corte final de 25 p.b., deixando a taxa Selic em 9,5% ao final do ano que vem.

“Continuamos céticos em relação a uma taxa terminal mais baixa durante este ciclo de flexibilização. As expectativas de inflação continuam não ancoradas, e o estreito diferencial de taxas de juros entre o Brasil e outros países, embora não cause pressão inflacionária atualmente, continua sendo um risco significativo.”

Para Alexandre Lohmann, economista chefe da Constância Investimentos, a Ata do Copom não abre a porta para uma mudança no ritmo de cortes. Segundo sua avaliação, o Comitê deixou claro entender que ainda há um caminho longo a percorrer para a ancoragem das expectativas e o retorno da inflação à meta.

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