Banco Mundial sugere que A. Latina e Caribe invistam em integração regional e economia “verde”

Relatório do Bird defende que países devem encontrar maneiras de ganhar atratividade e aproveitar as tendências de "nearshoring”

Roberto de Lira

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As economias da América Latina e do Caribe têm se mostrado relativamente resilientes diante do aumento do estresse de dívida, assim como da inflação e do aumento da incerteza, mas têm desafios grandes nos próximo anos, que podem comprometer suas perspectivas de recuperação. A afirmação está no relatório O Potencial da Integração – Oportunidades em uma Economia Global em Transformação, divulgado nesta terça-feira (4) pelo Banco Mundial.

O estudo destaca que o PIB regional crescerá 1,4% em 2023, uma taxa abaixo do esperado, e que as ligeiras recuperações estimadas para 2024 e 2025 (de uma elevação de 2,4% nesses dois anos), são muito baixas para fazer que se conquiste um progresso significativo na redução da pobreza.

Entre os fatores que contribuem para essa expectativa estão os preços de commodities mais baixos, as taxas de juros mais altas nos países desenvolvidos e a recuperação ainda considerada instável da China. O relatório destaca que o atual estresse do sistema bancário nos EUA e Europa e sua ressonância nos setores financeiros e nos fluxos de capital da América Latina e Caribe ainda são desconhecidos e podem acrescentar problemas á região.

Segundo o Banco Mundial, para impulsionar o crescimento, os países devem preservar sua resiliência conquistada com muito esforço e aproveitar as oportunidades únicas que as tendências da economia global oferecem no ‘nearshoring’ – movendo a produção para mais perto dos mercados domésticos  – e da indústria verde.

“A região se recuperou amplamente da crise pandêmica, mas infelizmente voltou aos baixos níveis de crescimento da década anterior”, disse em nota Carlos Felipe Jaramillo, vice-presidente do Banco Mundial para a América Latina e o Caribe.

“Os países precisam acelerar urgentemente o crescimento inclusivo, para que todos se beneficiem do desenvolvimento, e isso exigirá a manutenção da estabilidade macroeconômica e o aproveitamento das oportunidades que a integração comercial oferece hoje”, acrescentou.

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Em média, os desequilíbrios fiscais na região permanecem altos, esperados em 2,7% do PIB em 2023, corroendo ainda mais o espaço fiscal já apertado, e estima-se que os níveis de dívida atinjam 64,7% do PIB este ano, ligeiramente abaixo dos 66,3% em 2022.

Situação fiscal e monetária

O estudo destaca ainda que a inflação regional – excluindo a Argentina e a Venezuela – é de 7,9%, inferior à dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (9,4%) e do Leste Europeu (18,8%), embora acima da inflação do Leste Asiático (4,7%). Esse relativo sucesso nos preços domésticos, segundo estudo, reflete a resposta precoce e agressiva das autoridades monetárias regionais, o que levou a quedas da inflação em vários países.

O Banco Mundial lembra que as autoridades do Chile e do Brasil já fizeram uma pausa em novos aumentos de juros e que, na maioria dos países da ALC, as expectativas inflacionárias permanecem ancoradas e as metas do Bancos Centrais devem ser alcançadas em 2024.

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O Banco Mundial comenta que a queda das taxas de crescimento deve-se apenas parcialmente a esse aperto monetário. A taxa de crescimento de 2,4% prevista para 2024, por exemplo, é mais ou menos o nível registrado na região ao longo da década de 2010, antes da crise e da inflação. Em uma perspectiva mais ampla, desde 1980 a ALC vem divergindo do nível de renda do G7, caindo de 43,7% para 31,6%, enquanto a Ásia subiu de 5,2% para 25,4%.

Segundo o estudo, as mudanças na economia global estão oferecendo novas oportunidades de crescimento que exigirão uma integração mais forte. A devastação causada pela pandemia nas cadeias de suprimentos e as altas tensões geopolíticas criaram uma demanda para diversificar os fornecedores e aproximá-los de casa, criando possibilidades para a região capturar elos nas cadeias de valor centradas nos Estados Unidos e na Europa.

No entanto, diz o estudo, a região parece estar ficando menos integrada. A exposição comercial, medida pelas exportações de mercadorias e serviços mais as importações sobre o PIB, permanece entre as mais baixas do mundo. E tem estado praticamente estagnada nos últimos 20 anos. Excluindo-se o México, a China tornou-se o principal parceiro comercial da região, mas principalmente em commodities primárias.

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Investimento direto

Ao mesmo tempo, o investimento direto estrangeiro (IED) direcionado à região vem caindo tanto em termos absolutos quanto em parcela dos fluxos crescentes para o mundo em desenvolvimento – uma queda de 16,4% em termos absolutos e de 9,5% como parcela do IED total direcionado aos mercados emergentes desde 2010.

Além disso, as tendências variam entre as sub-regiões. O IED interno aumentou quase 40% México na última década, enquanto caiu 9% na América do Sul. Os fluxos para a América Central e Caribe permanecem menos claros, pois as estatísticas disponíveis incluem grandes fluxos financeiros para o Panamá e quatro ilhas principais.

“A região da ALC continua sendo uma das menos integradas, enquanto a abertura comercial e os fluxos de IDE permaneceram estagnados ou diminuíram nos últimos 20 anos. Os países devem encontrar maneiras de ganhar atratividade e aproveitar as tendências de nearshoring”, disse William Maloney, economista-chefe para América Latina e Caribe do Banco Mundial.

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“Além disso, alavancar a extraordinária vantagem comparativa da região na produção de energia sustentável, commodities necessárias para as indústrias verdes emergentes e o capital natural único da região oferece uma nova fonte potencial de crescimento, mas exigirá políticas para facilitar o acesso aos mercados globais, capital e tecnologia”, defendeu.

O relatório sugere uma série de políticas de avanço da integração que os países devem considerar para aproveitar essas oportunidades. Isso inclui políticas de longo prazo, como redução de riscos sistêmicos, aumento de investimentos em infraestrutura tradicional e digital e melhoria do capital humano, bem como opções de curto prazo, como preservação da estabilidade macroeconômica, promoção de avanços regulatórios alfandegários e de transporte e melhoria das agências de promoção de exportação e investimento.