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O tom mais duro adotado pelo Comitê de Mercado Aberto (Fomc, na sigla em inglês) na ata de sua reunião encerrada em 1º de maio divulgada nesta quarta-feira (22) torna mais difícil que o Federal Reserve atinja um grau de confiança suficiente para começar a cortar os juros em setembro, dizem economistas.
E o mercado começa a se posicionar nesse sentido. A plataforma da CME FedWatch, por exemplo, começou a mostrar uma queda nessa possibilidade de corte na terceira das próximas reuniões do BC dos EUA: a probabilidade de início de flexibilização em setembro está agora em 49,7%, abaixo dos 51,6% de ontem e mais longe ainda dos 53,5% observado há uma semana.
A chance de manutenção das taxas, por sua vez, subiu de 34,3% para 40,1% desde ontem.
Para Andressa Durão, economista da ASA Investments, a ata trouxe clara piora na avaliação sobre a inflação e, apesar de não haver sinais de que próximo movimento de juros poderia voltar a ser de alta [a hipótese chegou a ser considerado, de acordo com o texto do Fomc], “a retirada do trecho que indicava taxa atual no pico e corte de juros ainda este ano sugere que o Fed está mais cauteloso e em dúvida sobre atual nível de restrição da política monetária”.
Andressa diz ainda que, avaliando os discursos dos membros do Fomc após a última divulgação da inflação ao consumidor (CPI), seria necessário um conjunto de dados consecutivos de inflação favorável, diferente do visto nos últimos meses, para que o board se torne confiante o suficiente em iniciar o processo de corte de juros.
“Levando em conta nosso cenário, achamos que os próximos quatro dados de inflação até a decisão de setembro ainda não serão convincentes. Já a última reunião do ano, quando também haverá revisão das projeções do comitê, ainda está na mesa, mantendo a possibilidade de um corte de juros pelo Fed ainda este ano”, avalia.
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“A ata divulgada hoje reforça a estratégia do Fed de manter a taxa de juros parada por mais tempo, enquanto avalia novos dados”, conclui.
Mercado de trabalho resiliente
Luca Mercadante, economista da Rio Bravo, também diz que a ata transmitiu bastante firmeza a avaliação que a trajetória de desaceleração da inflação não está se dando no ritmo desejado pelo Fomc. Além disso, foi destacado que a atividade e o mercado de trabalho permanecem resilientes.
“A avaliação do cenário feita pelo Fed é dura. O balanço de riscos é assimétrico para cima, a diminuição no ritmo de redução do balanço de ativos não tem como objetivo mudar o posicionamento do BC americano, e ainda foi considerada expressamente a possibilidade de que os juros voltem a subir caso o cenário não mostre a melhora esperada”, destaca.
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Mercadante também comenta que, em uma perspectiva mais de longo prazo, o Fed deu destaque à possibilidade de que o a política monetária tenha menos efeito sobre as variáveis econômicas, em virtude de um juro neutro mais elevado.
“A ata do Fed reforça a posição cautelosa do Copom frente ao cenário externo. A postura do BC americano na ata não abre muito espaço para uma discussão de cortes, indicando que a pressão externa deve continuar ao longo do ano.”
Já Danilo Igliori, economista chefe da Nomad, diz que os diretores do Fed optaram por deixar em aberto o que virá na sequência, ao enfatizar que os próximos movimentos de política monetária dependerão da evolução dos dados econômicos, particularmente com relação à inflação, atividade econômica e expectativas.
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“Houve grande ênfase na constatação de que os indicadores recentes de inflação não mostram progressos adicionais na direção da meta. O documento trouxe também mais detalhes sobre a alteração no ritmo nas vendas de títulos públicos, que deverá ser menor a partir de junho. Essa medida enfraquece o chamado aperto quantitativo.”
Para Igliori, os participantes do Fomc mostraram que estão dispostos a manter o atual nível de aperto por mais tempo se não houver evidências de progresso na direção do atingimento da meta, mas igualmente consideram afrouxar, no evento de um enfraquecimento inesperado nas condições do mercado de trabalho.
“Completando com a revelação de que vários membros estão inclusive dispostos a aumentar novamente a taxa de juros se os riscos de a inflação voltarem subir forem grandes o suficiente”, pondera.
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Em outras palavras, segundo o economista, os diretores esticaram o argumento da política baseada em dados, deixando em aberto ajustes para os dois lados novamente.
Dierson Richetti, sócio da GT Capital, um destaque na comunicação do BC americano é que ficou claro que, se for necessário, em virtude do controle da inflação, eles podem realmente apertar a política monetária. “Eles não têm problema com isso, mesmo com o mundo preocupado com isso”, comenta.
Outro ponto citado por Richetti foi o poder da deterioração do recurso financeiro das famílias de baixa renda nos Estados Unidos. “Isso é um dado impactante porque as famílias acabam se endividando e, consequentemente, isso é refletido na economia como um todo.”