Ata do Copom: mercado de trabalho e atividade têm divergido do esperado

Cenário adverso exige a manutenção da política em patamar contracionista por tempo suficiente, conforme documento da reunião do dia 19; inflação de serviços assumiu papel preponderante

Roberto de Lira

Prédio do Banco Central em Brasília - 11/06/2024 (Foto: Adriano Machado/Reuters)
Prédio do Banco Central em Brasília - 11/06/2024 (Foto: Adriano Machado/Reuters)

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O Comitê de Política Monetária do Banco Central avaliou em sua última reunião que o mercado de trabalho e a atividade econômica domésticos, em particular o consumo das famílias, têm surpreendido e divergido do cenário de desaceleração previsto pelo colegiado, o que exige a manutenção da política em patamar contracionista por tempo suficiente, segundo dados da Ata do Copom divulgada hoje.

Na reunião encerrada no último dia 19 de junho, o Copom manteve a taxa básica de juros (Selic) em 10,50% anuais, interrompendo um ciclo de cortes que começou em agosto de 2023.

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Segundo os diretores do BC, o nível de juros precisa ser mantido em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. “O Comitê se manterá vigilante e relembra, como usual, que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta”, diz o texto.

O Copom lembrou que houve nova elevação das projeções de inflação tanto para 2024 quanto para 2025 e que as expectativas de inflação apresentaram desancoragem adicional desde a reunião anterior.

“Além disso, o cenário externo se mantém adverso, relacionado à visão dos agentes de mercado de que as taxas de juros em países desenvolvidos permanecerão elevadas por um período mais longo”, diz a Ata do Comitê.

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O Copom também informou que debateu na reunião que o atual processo desinflacionário no Brasil deixou de receber contribuição dos preços de bens industriais e da alimentação no domicílio, com a inflação de serviços, que tem maior inércia, assumindo um papel preponderante na atual dinâmica.

Os diretores do BC consideram que o ambiente externo tem se mostrado mais adverso, em função da incerteza elevada e persistente sobre a flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e quanto à velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países.

Enquanto isso, os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. “O Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes”, adverte a Ata.

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Em relação ao cenário doméstico, o Copom diz que o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado maior dinamismo do que o esperado.

“A inflação cheia ao consumidor tem apresentado trajetória de desinflação, enquanto medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes. As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,0% e 3,8%, respectivamente.”

Fiscal

O Comitê não mudou sua percepção sobre o desenvolvimento da política fiscal, citando que apenas que os fatos recentes impactam a política monetária e os ativos financeiros. O Copom repetiu que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.

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“Políticas monetária e fiscal síncronas e contracíclicas contribuem para assegurar a estabilidade de preços e, sem prejuízo de seu objetivo fundamental, suavizar as flutuações do nível de atividade econômica e fomentar o pleno emprego.”

Expectativas desancoradas

O Comitê avaliou na reunião por unanimidade que se deve perseguir a reancoragem das expectativas de inflação independentemente de quais sejam as fontes por trás da desancoragem observada no momento e ressaltou que a reancoragem das expectativas de inflação é vista como elemento essencial para assegurar a convergência da inflação para a meta.

“O Comitê avalia que a redução das expectativas requer uma atuação firme da autoridade monetária, bem como o contínuo fortalecimento da credibilidade e da reputação tanto das instituições como dos arcabouços fiscal e monetário que compõem a política econômica brasileira. O Comitê não se furtará de seu compromisso com o atingimento da meta de inflação e entende o papel fundamental das expectativas na dinâmica da inflação.”