Ata do Copom: comitê mostrou especial preocupação com deterioração de expectativas e citou política fiscal

Para os diretores do BC, política expansionista pode pressionar a demanda agregada ao longo do horizonte de projeções

Roberto de Lira

Sede do Banco Central do Brasil, em Brasília (iStock)
Sede do Banco Central do Brasil, em Brasília (iStock)

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O Comitê de Política Monetária (Copom) demonstrou especial preocupação com a deterioração das expectativas de inflação de prazos mais longos em sua última reunião, realizada entre os dias 31 de janeiro e 1° de fevereiro, quando optou novamente por manter a taxa Selic em 13,75% ao ano.

Segundo a ata da reunião divulgada nesta terça-feira (7), tal deterioração pode ter ocorrido por diversas razões, desde uma possível percepção de leniência do BC com as metas estipuladas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), até uma política fiscal expansionista, que pressione a demanda agregada ao longo do horizonte de projeções, ou a possibilidade de alteração das metas de inflação ora definidas.

De acordo com o documento, a conjuntura particularmente incerta no âmbito fiscal, com expectativas de inflação se distanciando da meta em horizontes mais longos, demanda maior atenção na condução da política monetária. “O Comitê avalia que tal conjuntura eleva o custo da desinflação necessária para atingir as metas estabelecidas pelo CMN. Nesse cenário, o Copom reafirma que conduzirá a política monetária necessária para o cumprimento das metas”, afirma.

Os diretores do BC explicaram na ata da reunião que, para atingir as metas estabelecidas, uma vez observada a desancoragem das expectativas, é necessário se manter ainda mais atento na condução da política monetária e assim reduzir o custo futuro da desinflação.

Política fiscal

Para o Comitê, estímulos de demanda devem ser avaliados considerando o estágio do ciclo econômico e o grau de ociosidade na economia, sendo a política monetária a variável de ajuste macroeconômico utilizada para mitigar os efeitos porventura inflacionários da política fiscal.

O Comitê informou ainda que discutiu na reunião os impactos do cenário fiscal sobre a inflação. Segundo essa análise, foi enfatizado que o efeito líquido da condução da política fiscal sobre a inflação é muito dependente das condições macroeconômicas e financeiras vigentes.

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“Assim, ao analisar os múltiplos canais, incluindo o movimento nas condições financeiras advindos de juros futuros, e atualizar as hipóteses de trajetória fiscal para incorporar o orçamento sancionado para 2023, o Comitê avalia que as perspectivas para a atividade não tiveram alteração relevante”, comenta a ata.

Alguns membros notaram que as medianas das projeções de déficit primário do Questionário Pré-Copom (QPC) e da pesquisa Focus para o ano de 2023 são sensivelmente menores do que o previsto no orçamento federal, possivelmente incorporando o pacote fiscal anunciado pelo Ministério da Fazenda. “O Comitê manteve sua governança usual de incorporar as políticas já aprovadas em lei, mas reconhece que a execução de tal pacote atenuaria os estímulos fiscais sobre a demanda, reduzindo o risco de alta sobre a inflação.”

Condução da política monetária

O Copom informou ainda que optou novamente por dar ênfase ao horizonte de seis trimestres à frente em suas projeções, mas antecipou que, para o próximo trimestre, voltará a utilizar o horizonte usual, referente aos anos-calendário, uma vez que o horizonte de seis trimestres coincidirá com o ano-calendário de 2024, não havendo assim mais efeito direto decorrente das mudanças tributárias no horizonte usual.

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O colegiado iniciou seu debate avaliando se a estratégia traçada anteriormente de juros estáveis seria suficiente para a convergência da inflação para suas metas. Para tanto, analisou os principais determinantes da trajetória de inflação e como eles se comportaram no período mais recente.

Sobre o hiato do produto, foi observada uma desaceleração da atividade, do crédito e, mais recentemente, do mercado de trabalho, conforme o comitê já esperava, dadas as defasagens de política monetária. “Nesse sentido, alguns membros ressaltaram que a desaceleração deve prosseguir e é necessária para que os canais de política monetária atuem e ocorra a convergência da inflação para suas metas. Notou-se, ademais, que as perspectivas de crescimento econômico não mudaram significativamente no período recente”, diz a ata da reunião.

Para os diretores do BC, a inflação de serviços tem apresentado moderação, mas segue em nível incompatível com a meta. O foco do Comitê na inflação de serviços se deve ao fato de ela responder à inércia inflacionária e à atividade econômica de forma mais direta, e espera-se que ambos os fatores provoquem menor pressão inflacionária ao longo do horizonte.

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Balanço de riscos

No balanço de riscos, a avaliação é que as pressões inflacionárias globais se atenuaram, mas ainda há bastante incerteza sobre como se dará a desaceleração da inflação e tal processo tende a ser não linear. “Os riscos devem persistir enquanto observarmos um mercado de trabalho apertado em várias economias avançadas”, diz o documento.

Do ponto de vista de riscos domésticos, no tema fiscal, há dois conjuntos de riscos que se interseccionam, afirma o relatório da reunião.

Em primeiro lugar, a revisão do arcabouço fiscal diminui a visibilidade sobre as contas públicas para os próximos anos e introduz prêmios nos preços de ativos e impacta as expectativas de inflação.

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Em segundo lugar, no que tange aos estímulos fiscais, o Copom seguirá acompanhando seus impactos sobre atividade e inflação e reforça que, em ambiente de hiato do produto reduzido, os impactos sobre a inflação tendem a se sobrepor aos impactos almejados sobre a atividade.

“Alguns membros notaram que a execução do pacote apresentado pelo Ministério da Fazenda deveria atenuar o risco fiscal e que será importante acompanhar os desafios na sua implementação. Por fim, o risco de um hiato do produto mais estreito do que o avaliado persiste e o Comitê seguirá avaliando os dados e os modelos para um entendimento mais minucioso.”

Com relação aos riscos de baixa para a inflação, os preços das commodities internacionais em moeda local se reduziram, mas o Comitê avalia que o risco de desaceleração mais acentuada da atividade econômica global permanece no horizonte, apesar do processo de reabertura da China reduzir, em algum grau, esse risco.

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“Nesse aspecto, o Comitê seguirá acompanhando de um lado o processo de retirada de estímulos fiscais e monetários nas economias avançadas e, de outro, o processo de reabertura da China.”

Assim, o Copom afirmou ter optado pela manutenção da taxa de juros, reforçando a necessidade de avaliação, ao longo do tempo, dos impactos acumulados a serem observados do intenso e tempestivo ciclo de política monetária já empreendido.

O Comitê avaliou que, diante dos dados divulgados, projeções e expectativas de inflação, balanço de riscos e defasagens dos efeitos da política monetária já em território significativamente contracionista, era apropriado manter a taxa de juros no patamar de 13,75% a.a.

“O Comitê reforçou que é necessário manter a vigilância, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por um período mais prolongado do que no cenário de referência será capaz de assegurar a convergência da inflação.”