Ata do Copom: BC buscou mais flexibilidade ao mudar sinalização de juros

Segundo o BC, ainda que a comunicação já contivesse uma condicionalidade embutida, avaliou-se que não trazia a flexibilidade requerida; para o BC, balanço do uso da indicação foi positivo

Roberto de Lira

Sede do BC, em Brasília (Foto: Adriano Machado/Reuters)
Sede do BC, em Brasília (Foto: Adriano Machado/Reuters)

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Embora o cenário-base avaliado pelo Banco Central não tenha se alterado substancialmente desde a reunião de janeiro do Comitê de Política Monetária (Copom), as maiores incertezas do cenário levaram o Banco Central a julgar apropriado obter maior flexibilidade de política monetária. Assim, o Comitê decidiu mudar sua orientação e antecipar uma redução de 0,50 ponto percentual na taxa de juros apenas para a próxima reunião, retirando o plural do chamado “guidance”.

A informação está na Ata da reunião do Copom realizada nos dia 19 e 20 de março e divulgada nesta terça-feira (26). Na ocasião, o BC optou novamente por reduzir a taxa básica de juros (Selic) em 0,50 p.p., para 10,75% ao ano, no sexto corte seguido.

“Tal alteração reflete tão somente uma análise de custo-benefício da utilização desse instrumento adicional de política monetária. Por fim, reforçou-se que seria um equívoco interpretar a mudança na sinalização futura como uma indicação de alteração do ciclo de política monetária compatível com o cenário-base”, diz o texto.

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Segundo o BC, ainda que a comunicação já contivesse uma condicionalidade embutida, avaliou-se que não trazia a flexibilidade requerida. “Além disso, argumentou-se que uma retirada tardia, possivelmente vista como uma promessa não cumprida, deveria ser evitada porque poderia ter impacto sobre a credibilidade futura da comunicação e provocar volatilidade excessiva”, explica a Ata.

Ainda segundo as explicações do Comitê, após todos os argumentos, foi concluído que cenário mais incerto reduzia o benefício da sinalização futura e elevava seus custos.

O Copom fez um balanço positivo sobre o uso da indicação condicional para as reuniões subsequentes ao longo das últimas reuniões, reforçando que “cumpriu seu papel de coordenar as expectativas, aumentar a potência de política monetária e reduzir a volatilidade”.

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“Notou-se que, até então, os benefícios da sinalização com horizonte alargado superaram os custos tanto na avaliação ex-ante quanto na avaliação ex-post.”

Incertezas

Ao detalhar as incertezas do cenário, a diretoria do BC citou que, na conjuntura internacional, o cenário desinflacionário se mostra mais incerto, em função de um contexto de atividade resiliente nos Estados Unidos e seu impacto nas condições financeiras globais.

“Além disso, os impactos da política monetária sobre a atividade e a inflação também geram incerteza na velocidade da desinflação em diversos países”, diz a Ata.

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Com relação à dinâmica inflacionária doméstica, a Ata comenta que, por um lado, há um comportamento benigno de alimentos e bens industriais, mas por outro, em função da atividade resiliente e das últimas divulgações, surgem dúvidas na velocidade de desinflação de serviços.

“O Comitê notou que um processo desinflacionário mais lento, tanto domesticamente quanto globalmente, não constitui o cenário-base, mas foi incorporado como fonte de incerteza. Esse aumento de incerteza prescreve cautela na condução da política monetária”, recomenda o texto.

O Comitê relembrou ainda que a incorporação de cenários e variáveis exógenas, como a dinâmica fiscal ou o cenário externo, “se dá por meio de seus impactos na dinâmica prospectiva de inflação, sem relação mecânica com a determinação da taxa de juros”.

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Ciclo

Sobre a extensão do ciclo de ajustes na política monetária, o Copom diz ter percebido a necessidade de manter uma política monetária ainda contracionista pelo horizonte relevante, para que se consolide a convergência da inflação para a meta e a ancoragem das expectativas.

Segundo a Ata, enfatizou-se novamente que a extensão do ciclo ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

“O Comitê mantém seu firme compromisso com a convergência da inflação para a meta no horizonte relevante e reforça que a extensão do ciclo refletirá o mandato legal do Banco Central.”

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Mercado de trabalho

Ao discutir o balanço de riscos, os diretores se detivera, “em profundidade na discussão do mercado de trabalho”. A avaliação foi que os aumentos salariais no período corrente podem estar ligados, em alguma medida, a pressões no mercado de trabalho.

“Alguns membros relembraram que, ao longo das últimas reuniões, o Comitê enfatizou os dados referentes a rendimentos, uma vez que permanece grande debate sobre o nível de aperto do mercado de trabalho em função de questões metodológicas das pesquisas de emprego, dos impactos da pandemia e da reforma trabalhista”.

Também foi observado por algum membros que a recuperação da produtividade observada em 2023 ocorreu primordialmente no setor agropecuário, enquanto rendimentos se mostraram pressionados de maneira disseminada, sugerindo que os rendimentos pressionados não devem ser explicados majoritariamente por ganhos de produtividade, mas por um fechamento do hiato do produto.

“Assim, em sua análise, o Comitê demonstrou maior preocupação com possíveis efeitos da ampliação de ganhos reais no período mais recente e da aceleração de crescimento observada nos dados referentes à massa salarial sobre a dinâmica prospectiva da inflação de serviços.”

Sobre a relação entre o mercado de trabalho e os preços na economia, foi destacada pelo Comitê a causalidade recíproca entre os preços e a dinâmica de rendimentos, suas respectivas defasagens e as elasticidades de impacto de um sobre outro.

“Ressaltou, ademais, que continuará incorporando os dados do mercado de trabalho em sua análise sem uma visão mecânica ou definitiva sobre quaisquer impactos ou relações. O Comitê seguirá atento à dinâmica dos rendimentos nas diversas pesquisas para melhor avaliar o grau de ociosidade no mercado de trabalho e seus potenciais impactos sobre a inflação de serviços.”

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