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Embora os dados de criação de vagas no mercado de trabalho americano ainda tenham se mostrado fortes – os 223 mil empregos divulgados no payroll superaram as estimativas do mercado – o detalhamento da informações do Departamento do Trabalho mostrou sinais positivos de que a política monetária do Fed começa a mostrar seus efeitos. Os analistas destacam a desaceleração em alguns setores e a perda de força na alta dos salários como indicativos dessa tendência.
Angelo Polydoro, economista da ASA Investments, destacou que o salário médio por hora nos EUA aumentou 4,6% nos últimos 12 meses em dezembro, ante o dado revisado de 4,8% em novembro (o anterior era de 5,1%). Segundo ele, é totalmente inesperada essa desaceleração porque o esperado é que o payroll recue primeiro e que isso vá desembocar em salários mais fracos depois. “Mas a gente viu desaceleração de salário”, comentou.
Ele ponderou que o patamar atual ainda não é compatível com a tarefa de combate à inflação pelo Fed, mas que a queda é bem-vinda. Numa conta rápida, um ganho de produtividade de 1,5%, aponta que um aumento de salário de 3,5% seja compatível com a meta de 2% de inflação. Polydoro destacou que trajetória pode caminhara para isso.
“A taxa anualizada de três meses caiu para 4,13% de aumento (dos salários). Se o dado for confirmado na próxima leitura, pode levar o Fed a ter alguma esperança de moderação na inflação de serviços”, previu o economista da ASA
Carlos Vaz, CEO e fundador da Conti Capital, também disse acreditar que o fato de o payroll do mês ter sido superior às estimativas não muda a leitura do cenário. “O mercado de trabalho esteve um pouco mais forte do que se esperava e os dados são condizentes com essa percepção. Vejo que há alguns meses o setor está mais flexível e isso é essencial para que o Federal Reserve possa apostar em reduzir o ritmo do aperto monetário com um pouco mais de segurança, apesar de algumas ressalvas”, afirmou.
Vaz avalia que o trabalho nos EUA ainda está aquecido, mas que dá sinais de desaceleração, que são importantes e suficientes para que se possa repensar a alta dos juros,” embora já saibamos que o ciclo contracionista seguirá por mais tempo.”
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Para ele, o dado é bem-vindo para o combate à inflação e animador para quem deseja ver boas condições do mercado de trabalho, apesar do enfraquecimento da atividade econômica. A previsão do CEO da Conti Capital é que o Fed vá seguir com aumentos de juros, entre 25 e 50 pontos base, durante todo o ano de 2023, e que com isso conseguirá entregando o que se espera no final do ano: um pouso suave da economia americana.
Arthur Mota, economista do BTG Pactual, também acredita que o mercado está desacelerando, mas não num ritmo suficiente para alterar percepções de que ainda se encontra aquecido, uma vez que a criação em torno de 200 mil vagas por mês é um patamar alto pela média histórica.
Ele também viu como “boa surpresa” a alta menor do ganho médio por hora (era esperada uma lata de 0,4% no mês e foi divulgada uma elevação de 0,3%, puxada especialmente pelos rendimentos na área de saúde e educação, que por vez foram os segmentos que mais geraram vagas no mês. Mota acredita que o Fed ainda vai enxergar o mercado de trabalho apertado, o que aponta a necessidade de seguir com o atual ciclo de juros um pouco mais intenso.
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Já Rafaela Vitória, economista chefe do Banco Inter, afirmou que o payroll de dezembro confirmou a sequência de dados melhores do mercado de trabalho nesta semana (o Jolts anunciado ontem mostrou uma queda na abertura de postos de trabalho em novembro).
Ela também destacou que os salários desaceleraram, em meio à notícia de que o número de vagas criadas foi maior que esperado e que a taxa de desemprego voltou a cair. Segundo escreveu em sua conta no Twitter, a boa recepção dos número de hoje sugerem que “o mercado parece que escolher o dado para ancorar a expectativa de um Fed mais dovish”.