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Foi nítida a perda de potência da atividade econômica no quarto trimestre de 2022, segundo avaliação de analistas após a divulgação pelo IBGE na manhã desta quinta-feira (2) dos dados do Produto Interno Bruto (PIB). A economia contraiu 0,2% no quarto trimestre ante o trimestre anterior, mas fechou com crescimento de 2,9% no ano fechado. Os especialistas disseram que o impacto da política monetária contracionista já aparecem e que devem permanecer no início de 2023.
Rafaela Vitória, economista chefe do Banco Inter, ponderou que, apesar do bom crescimento no acumulado do ano (2,9%), a maior parte da alta foi concentrada no 1º semestre do ano, ainda refletindo a retomada do consumo das famílias pós pandemia e o ciclo investimentos que estava em curso.
No último trimestre de 2022, no entanto, ela destacou que já foi possível observar o impacto do ciclo de alta de juros em setores mais sensíveis, como a indústria da transformação, a construção e o comércio foram os destaques de queda.
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“Por outro lado, Serviços ainda apresentou crescimento de 0,2% no trimestre, mas em menor ritmo que o observado nos trimestres anteriores”, comentou, destacando os desempenho de TI e de serviços presenciais no período, que tiveram alta de 1,8% e 0,9%, respectivamente.
Para 2023, a expectativa da economista é de uma continuidade da tendência de desaceleração da atividade, mesmo com o impulso fiscal do aumento de gastos do governo com transferências.
“Esperamos crescimento no ano de 0,8%, puxado principalmente pela expectativa de forte alta da agropecuária de 8% no ano. A elevada taxa de juros ainda deve manter a atividade fraca na maior parte do ano, contendo a expansão do consumo e dos investimentos”, projetou.
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Ao explicar a perda de tração da economia no final do ano, Mirella Hirakawa, economista da AZ Quest, ressaltou, além do efeito da política mais restritiva imposta pelo Banco Central, os efeitos mais fracos da reabertura da economia e da reorganização entre o consumo de bens e de serviços, que foram mais pronunciados na primeira metade do ano.
“Na ótica da oferta, essa desaceleração está mais concentrada na indústria de transformação, com uma queda na margem de 1,4% e, na ótica da demanda, da Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), com queda de 1,1% na margem”, comparou.
Sobre o dado fechado de 2022 ter vindo em 2,9%, um pouco abaixo do consenso de 3% do mercado, Mirella atribuiu isso a revisões marginais feitas pelo IBGE dos últimos trimestres.
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Nesse PIB anual, a economista da AZ Quest, destacou que o principal driver foram os Serviços. Na ótica da demanda, o destaque foi do consumo das famílias, com uma alta de 4,3%.
Um dado negativo pelo lado da oferta no ano passado foi o desempenho da Agropecuária, com uma queda de 1,7%, explicada principalmente pela soja, com contração de 11,4%. Mas Mirella alertou que os levantamentos recentes da safra atual já apontam para uma direção contrária.
“Olhando para a frente, a Agropecuária possivelmente vai ser o maior fator de impulso para o crescimento da economia ao longo de 2023”, previu.
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A AZ Quest deve fazer em breve uma revisão para cima da projeção do PIB de 2023, tanto por conta da estimava para o Agro quanto pelo carrego estatístico de 0,2% do PIB do ano passado.
Perda de ritmo
Rodolfo Margato, economista da XP Investimentos, comentou sobre uma ligeira decepção com o desempenho da Agropecuária no último trimestre de 2022, uma vez que tinha uma projeção de crescimento expressivo, de 1,1% e o dado veio próximo da estabilidade (+0,3%). Essa foi uma das explicações para a diferença entre a estimativa de alta de 0,1% na margem ante o resultado oficial de -0,2%.
O economista destacou que houve uma desaceleração generalizada entre os componentes do lado da oferta no quarto trimestre. Além da surpresa negativa com o agronegócio, o PIB da Indústria contraiu 0,3%, após três trimestres consecutivos em alta.
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“Já o PIB de Serviços cresceu, é verdade (0,2%), porém muito abaixo do ritmo que vinha sendo observado, uma taxa de crescimento média de 1,1% nos cinco trimestre anteriores”, comparou Margato.
Pelo lado da demanda, ele citou que houve acréscimos no consumo, tanto das famílias quanto do governo, porém uma contração dos investimentos, com enfraquecimento da construção civil e menor consumo aparente de bens de capital. “Isso acabou neutralizado a elevação do consumo no período”, afirmou.
Do lado positivo, ele destacou um crescimento acentuado do setor externo, com um aumento de 3,5% das exportações e uma queda de quase 2% nas importações. “Isso representou uma contribuição líquida positiva de 1 ponto porcentual do setor externo para o PIB total pelo lado da demanda”, analisou.
Ele ainda citou que houve um consumo de estoques, com variação negativa de 1,9% no 4° trimestre, o que também contribuiu para um PIB menor. “Não fosse a variação negativa de estiques, provavelmente observaríamos um desempenho mais forme pelo lado da demanda”, ponderou.
De forma geral, o resultado divulgado pelo IBGE evidenciou a tendência de desaceleração da economia brasileira, em linha com a política monetária restritiva, num ambiente de elevação de juros, elevado grau de endividamento das famílias e condições do mercado de trabalho que vêm mostrando arrefecimento, disse o economista da XP.
Ele crê que isso deve continuar ao longo de 2023. “Os dados reforçam nossa projeção de 1% para o PIB deste ano, mais moderada após o salto de 2.9% no ano passado e com grande destaque para a Agropecuária.
“O setor primário foi uma surpresa baixista no quarto trimestre do ano passado, mas deve ter uma expansão pronunciada este ano, de pelo menos 8%, um fator de sustentação ao PIB bem relevante”, estimou.
Investimento encolhe
Andrea Damico, sócia e economista chefe da Armor Capital, também chamou a atenção para a forte queda dos investimentos, que estavam com performance muito positiva, de 4% e 2,6% nos trimestres anteriores e que caíram 1% no quarto trimestre.
“É um dado preocupante, mas foi em certa medida compensada por uma contribuição positiva do setor externo. A gente viu um crescimento grande das exportações e uma queda de importações. Neutralizou um pouco essa queda tão expressiva dos investimentos”, disse.
Mesmo com a desaceleração generalizada observada no último trimestre de 2022, Andrea acredita que o País deve apresentar crescimento no primeiro trimestre de 2023, ou seja, o risco de uma recessão técnica é pequeno.
Danilo Passos, economista da WHG, disse que a dinâmica da economia exposta nos dados do IBGE já era esperada, com no Serviços e Agro trazendo contribuição positiva do lado da oferta – e a Indústria em contração.
O mesmo raciocínio valeu para análise do demanda, com o consumo tanto das famílias como do governo puxando o PIB para cima e a parte de investimentos (FBCF) “jogando contra”. “Chamou um pouco a atenção os Estoques, que tiveram uma contribuição negativa pelo segundo trimestre consecutivo”, comentou.
Para ele, os dados apontam para um carregamento (carry over) de apenas 0,2% para 2023, ante uma projeção anterior de 0,5%, o que leva a um viés de baixa para o PIB fechado de 0,5%, nas contas da WHG.
Passos ainda vê a política contracionista do BC pegando forte a economia em 2023 e uma contribuição menos intensa do crescimento global, que ajudou no ano passado.
“Quando a gente pensa nesses fundamentos de médio prazo, tudo aponta para um crescimento mais fraco neste ano. O que pode ajudar a segurar a onda, principalmente no primeiro semestre é o PIB agrícola”, afirmou.
Renan Suehasu, sócio da A7 Capital, observou que o destaque positivo no ano passado ficou para as exportações, com crescimento de 5,5% favorecido por conta de um dólar muito forte. Além disso, ele citou o setor de Serviços, com crescimento de 4,2%, puxado pelo segmento de transporte (8,4%) comunicação (5,4%).
Outro componente com aumento significativo foi do consumo das famílias (4,3%), que Suehasu lembrou ter sido um setor que se beneficiou nos últimos meses com os incentivos e benefícios do governo.
Sobre o desempenho ruim do agropecuária em 2022 (teve um decréscimo de 1,7%), ele afirmou que pode estar relacionado a uma grande insatisfação da classe com relação ao resultados das eleições, o que pode ter prejudicado os investimentos desse setor.
2023 menos intenso
Daniel Sinigaglia, economista da Garde, disse que números do PIB vieram em linha a expectativa e reforçaram a visão de um crescimento mais baixo para 2023.
“Projetamos crescimento de 1,2% no ano, na esteira da forte expansão da atividade agrícola, que deve incidir mais fortemente sobre o primeiro trimestre.”
Para o Banco Original, os componentes do lado da oferta foram impulsionados pelo processo de reabertura econômica e os estímulos fiscais, com o setor de Serviços sendo o carro-chefe da economia no ano, avançando 4,2%.
Do lado da demanda, a alta dos serviços foi traduzida como aumentos marginais do consumo familiar, que se estabeleceu sobre atividades presenciais e turísticas.
“Paralelamente, a queda na produção e na importação de bens de capital afetou boa parte da formação bruta de capital fixo, à medida que as empresas decidem se iniciam novas operações ou fazem aplicações financeiras, em consequência dos juros mais altos”, comentou o banco
“Vale ressaltar que ambientes de alta incerteza e volatilidade cambial também tendem a impactar negativamente os investimentos.”
Para 2023, o banco cita a desaceleração global, os nossos desafios fiscais, as condições financeiras apertadas e as preocupações que cercam o mercado de crédito como fatores que levam a uma perda contínua de fôlego da atividade.
Pelo lado positivo, existe o contraponto a reabertura chinesa, as transferências de renda por parte do governo e um mercado de trabalho ainda aquecido, além de promessa de safras recordes no campo. “Juntando tudo, projetamos um crescimento de 0,7% do PIB em 2023.”
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