Ameaça de greve em portos dos EUA traz de volta o fantasma de desabastecimento

Associação que representa 45 mil estivadores nos portos da Costa Leste e da Costa do Golfo querem reajuste salarial de 77% escalonado em 6 anos; transporte de itens de carros até banana e café está ameaçado

Equipe InfoMoney

Porto de Long Beach, nos EUA (Foto: Mike Blake/Reuters)
Porto de Long Beach, nos EUA (Foto: Mike Blake/Reuters)

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Os estivadores de vários dos principais portos dos Estados Unidos anunciam uma greve a partir da meia-noite, num movimento que coloca em riscos o abastecimento de diversos itens de largo consumo interno, o que pode trazer pressões inflacionárias à frente, dependendo do prazo que durar a paralisação. Seria a primeira greve com essa dimensão desde 1977.

A Associação Internacional de Estivadores (ILA, na sigla em inglês), sindicato que representa 45.000 estivadores nos portos da Costa Leste e da Costa do Golfo, está em negociações com os empregadores desde junho para renovar o contrato que expira em 1º de outubro, mas as duas partes estão distantes de um acordo.

O líder da ILA, Harold Daggett, tem insistido que as empresa do setor estão vivendo anos de fortes lucro e disse não abrir mão de um reajuste salarial escalonado de 77% nos salários dos trabalhadores num prazo de 6 anos.

Os patrões, representados pela Aliança Marítima dos Estados Unidos, concordaram com um aumento de até 40% propostas que Daggett considerou “um insulto”.

A agência AP destaca que o possível desabastecimento de mercadorias varia de acordo com a especialização de cada porto. Baltimore e Brunswick, na Geórgia, por exemplo, são os dois principais portos de movimentação de automóveis, enquanto a Filadélfia tem um grande volume de frutas e vegetais.

Já o porto de Nova Orleans movimenta o café que vem, principalmente, da América do Sul e do Sudeste Asiático, além de produtos químicos do México e do Norte da Europa e produtos de madeira, como compensados, da Ásia e da América do Sul. Outro local a ser afetado é Port Wilmington, em Delaware, o principal porto de banana do país.

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E há uma série de outros produtos em risco, como cerejas, vinho e outras bebidas alcoólicas importadas. Entram na conta matérias-primas utilizadas pelos produtores de alimentos dos EUA, como cacau e açúcar.

Pressão sobre o governo

Por conta dessa ameaça de colapso, grupos comerciais que representam centenas de varejistas e fabricantes, que vão desde Walmart e Target até Caterpillar e General Motors, apelaram ao governo Joe Biden para intervir, alertando que uma paralisação poderia prejudicar os negócios e desencadear uma nova inflação durante a movimentada temporada de compras de fim de ano, informou o The Wall Street Journal.

Segundo o jornal, analistas de ações do JP Morgan estimam que uma greve portuária custaria à economia dos EUA entre US$ 3,8 bilhões e US$ 4,5 bilhões por dia, alguns dos quais seriam recuperados assim que as operações normais fossem retomadas.

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A Casa Branca até agora se recusou a intervir. Funcionários do governo Biden, incluindo os secretários de Transporte e Trabalho, se reuniram com os líderes de um grupo que representa os empregadores portuários na sexta-feira para incentivá-los a comparecer à mesa de negociações. Um funcionário da Casa Branca disse que o governo “esteve em contato” com o sindicato durante a semana.

Uma pessoa familiarizada com os esforços do governo disse que a Casa Branca acredita que as cadeias de suprimentos do país são resilientes e que a economia pode resistir a uma greve curta de até cerca de uma semana, disse o WSJ.

Por causa de temores de greve, muitos varejistas se anteciparam e redirecionaram as mercadorias para os portos da Costa Oeste, elevando os volumes de importação para os níveis mais altos desde o pico da pandemia de Covid-19, disse o jornal.

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O congestionamento de uma greve também afetaria as cadeias de suprimentos globais. Isso amarraria navios e contêineres necessários para as exportações da Europa e da Ásia.

O jornal destaca que os operadores de contêineres têm poucas opções se os portos fecharem. Os estivadores sindicalizados nos portos da Costa Oeste dos EUA não trabalharão em navios desviados. E portos alternativos, no Canadá e no México, são pequenos demais para lidar com os volumes de carga que os trabalhadores da ILA movimentam.