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Entusiasta da ideia de o Brasil aproveitar o que tem dentro de casa para se tornar uma potência verde, inclusive como investidor, o ex-presidente do Banco Central e fundador da gestora Gávea Investimentos, Armínio Fraga, reconhece uma melhora da imagem do país no exterior sob a ótica ambiental. Internamente, porém, ele tem apontado para a ausência de maior controle dos gastos nas discussões sobre as medidas de ajuste das contas públicas com o novo arcabouço fiscal.
“O ajuste fiscal necessário vai além do necessário para colocar a dívida em uma trajetória de queda. O pessoal está se satisfazendo com esse nível de endividamento, eu acho que isso não é bom, não é o suficiente”, disse o economista, em entrevista ao Estadão/Broadcast, após participar do Brazil Climate Summit, em Nova York.
A seguir, os principais trechos da entrevista.
Em audiência pública na Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional, esta semana, o sr. disse que falta mais atenção aos gastos no governo. Pode explicar?
Eu acho que sim, falta muito. Mas não é surpreendente que um governo de esquerda não faça muita cerimônia para aumentar o tamanho do Estado. Agora, o endividamento público já pressiona bem o mercado, e as demandas para se repensar as prioridades do gasto são igualmente enormes, talvez maiores. Portanto, o ajuste fiscal necessário vai além do necessário para colocar a dívida em uma trajetória de queda. O pessoal está se satisfazendo com esse nível de endividamento, eu acho que isso não é bom, não é suficiente. Ou seja, além do necessário para gerar um superávit primário, precisaria abrir espaço para reformatar as prioridades do gasto público no País. É um enorme tema, mas isso não está em discussão.
Isso pode fazer com que o Brasil não consiga recuperar o grau de investimento?
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Existem muitos caminhos nessa direção, mas todos, no final das contas, exigem que a taxa de crescimento da economia seja maior do que a taxa de juros real e, de preferência, um superávit primário maior do que o planejado para os próximos anos. Essa seria a estratégia. Isso exige outros aspectos. Incertezas e falhas de desenho institucional, por exemplo, precisam ser reduzidas. Tem muita coisa para se fazer. De um lado, significa que a situação atual não é tão boa, mas sugere que o Brasil, acertando bem o seu passo, pode melhorar muito. Não estou dizendo que isso vai acontecer, mas isso é possível pelo menos tecnocraticamente falando. Politicamente, vamos ver.
E quanto à política monetária?
O Banco Central, usando o instrumento que ele tem, que é a taxa de juros, procura trazer a inflação para a meta. Se tiver dificuldade, é porque está precisando de ajuda dos outros instrumentos, que não controla, especialmente o fiscal. É um bom modelo, vencedor. Ao contrário do que às vezes se escuta, o BC naturalmente deveria fazer uma coordenação entre o fiscal e o monetário. Frequentemente, quando se ouve essa frase, ela aparece, na minha opinião, de cabeça para baixo: o BC deveria fazer a parte dele e reduzir os juros. Mas não é assim. Ele vai reduzir os juros, e o que vai acontecer? A inflação vai subir de novo? O BC tem de ter segurança para reduzir os juros. Um país como o Brasil, com a história que tem, não pode deixar a inflação subir mais. Se isso ocorrer novamente, o governo provavelmente vai enfrentar grandes problemas.
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No Brazil Climate Summit, em Nova York, o sr. disse que o Brasil tem potencial para ter um grande papel na agenda climática. E o governo Lula tem se esforçado para mudar a visão ruim do país durante a gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro. Qual a sua percepção?
Mudou, melhorou, sim. O Brasil realmente passou um período com uma reputação catastrófica, e dava a impressão de não ter apreço pelos grandes temas da área: mudança climática, biodiversidade, desmatamento, mineração ilegal. Isso mudou. O governo vem sinalizando que vai ter como prioridade essas questões e também prometeu anunciar em breve um plano mais completo. Eu vejo, portanto, as coisas andando. Agora, a expectativa é justamente de um plano mais completo, que seja transversal às várias áreas do governo.
O que falta?
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Uma vez feitas as sinalizações, agora é a hora de mostrar na prática que essas prioridades são para valer. É um trabalho difícil, a base do governo é muito fragmentada.
Qual a sua opinião sobre os sinais que o presidente Lula vem dando no exterior?
Eu ainda vejo o Brasil dando sinais, com o (Vladimir) Putin, com o (Nicolás) Maduro que, pelo amor de Deus, não nos ajudam em nada. Repito: o Brasil tem tudo para explorar a posição tradicional do Itamaraty outra vez. Interesse nacional e diálogo. O Brasil conversa. Agora, apoiar, tirar foto rindo com ditador, isso aí eu acho que é um atraso de vida completo.