Agronegócio deve ter maior crescimento em 5 anos e ser único motor do PIB em 2023

Ibre/FGV calcula que setor avançará 8% no próximo ano, depois de encolher 2% neste; Santander projeta expansão 7,5% e queda de 0,3%, respectivamente

Estadão Conteúdo

Plantação de soja em Mato Grosso (Paulo Fridman/Corbis via Getty Images)
Plantação de soja em Mato Grosso (Paulo Fridman/Corbis via Getty Images)

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A agronegócio deve voltar a crescer em 2023, após recuar em 2022, e ser o motor da economia brasileira no ano que vem — talvez o único. O Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas (FGV), calcula que o Produto Interno Bruto (PIB) do setor avançará 8% no próximo ano, depois de encolher 2% neste.

Já o Santander espera uma queda de 0,3% no PIB do agro neste ano e uma expansão de 7,5% no próximo. Se os números projetados se confirmarem, será o maior crescimento do setor desde 2017 (quando a alta foi de 14,2%).

Parte do resultado positivo esperado para 2023 será apenas efeito da comparação com um 2022 fraco, dizem economistas, e as projeções otimistas ocorrem porque a safra deve ser recorde. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) diz que a safra de grãos, cereais e leguminosas deve alcançar 293,6 milhões de toneladas em 2023, uma alta anual de 11,8%.

Para o Ibre, o setor será o único a crescer de forma expressiva em 2023, quando o PIB do Brasil deve ficar praticamente estagnado. “Nossa projeção de PIB está abaixo do mercado. Tem casas que apontam 1% e nós estamos com 0,2% — isso com o agro, que é 10% do PIB, avançando 8%. Então projetamos uma queda pesada da atividade em geral”, afirma Marina Garrido, economista do instituto.

A alavanca da economia deverá ser principalmente a soja e o milho. O economista Gabriel Couto, do Santander, lembra que a safra de milho de 2021 foi comprometida pela seca e que, em 2022, o problema foi com a soja. A expectativa agora é ter safras boas das duas commodities. “Se tivermos a safra de soja cheia, que é o que esperamos, isso impulsionará o PIB agrícola”.

Couto diz que o Santander não espera que a desaceleração global prevista para 2023 tenha impacto no agronegócio brasileiro (por ora). “Não estamos vendo o produtor tirando o pé do acelerador. Ainda que ele resolva estocar grãos, a produção estará lá. O impacto do desaquecimento da economia global tende a ser no médio prazo”.

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Luiz Carlos Corrêa Carvalho, presidente do conselho diretor da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), diz que os produtores conseguiram plantar soja e milho na época correta neste ano e a tendência é que a colheita de 2023 seja boa — com isso, o valor bruto da produção deve crescer ao menos 5%, para mais de R$ 1,3 trilhão. Além da soja e do milho, Carvalho destaca que as produções de cana-de-açúcar, frutas e hortaliças também estão indo bem.

Importância do clima

O presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja), Antonio Galvan, faz uma ressalva: ele diz que as previsões dos economistas consideram que o clima vai favorecer a produção — o que não ocorreu nos últimos anos. “Ter uma safra recorde, como se espera, é questão exclusiva de clima. Temos condições técnicas de fazer essa safra anunciada, só que é cedo para dizer que ela será realidade. Nos últimos anos, enfrentamos problemas de clima e tivemos perdas grandes”.

Couto, do Santander, diz que a previsão que se fazia em 2021 para o setor agrícola era de uma alta superior a 5% em 2022, mas, conforme os meses foram passando, o número foi sendo revisto para baixo, até se chegar à atual retração de 0,3%. O economista diz, no entanto, que as secas que prejudicaram o setor nos últimos dois anos podem estar relacionadas ao fenômeno La Niña, que deve perder força a partir do segundo trimestre de 2023.