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O icônico episódio em que a possibilidade de investir no Fundo Verde se esgotou em menos de dois minutos no Itaú Unibanco, em fevereiro, teve nome e sobrenome como causa. É Luis Stuhlberger, o gestor que conseguiu rentabilidade acumulada de 18.681% desde que o Verde foi criado, em 1997, enquanto a valorização do CDI, usado como parâmetro de comparação, foi de 2.230%.
Um dos principais méritos para esses resultados foi o fato de Stuhlberger ter sabido ler, com precisão acima da média, os movimentos políticos e econômicos do País, marcados por muitas incertezas, ano após ano. E, evidentemente, ganhar dinheiro em cima disso.
Quem acompanha os trabalhos da Verde Asset, hoje com R$ 52 bilhões sob gestão, não deve ter estranhado a assinatura de Stuhlberger na carta dos economistas, divulgada no fim de semana passado. Nela, mais de 1,7 mil economistas, empresários e banqueiros pedem medidas efetivas no combate à pandemia – com críticas muito duras ao governo federal.
A mais recente carta do Verde a seus cotistas, de fevereiro, tinha exatamente o mesmo tom. Stuhlberger diz que, se fosse analisar a carta dos economistas, a conversa duraria cinco segundos. “Ela é óbvia por si só e o que tenho a acrescentar ao que está escrito é nada”, diz. “Ela é completa, é longa, traz a referência de onde saíram os números.”
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Resolveu, então, fazer uma leitura pessoal e uma reflexão sobre os 12 meses de pandemia, o que o País perdeu e suas perspectivas daqui para frente. Os principais trechos da entrevista exclusiva ao Estadão/Broadcast:
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Qual foi sua reação à carta dos economistas?
No ato em que subscrevi a carta, pensei: “Estou aqui dizendo: ‘votei em 2018, acreditei na sua proposta, mas você (presidente Jair Bolsonaro) não vai ter mais o meu voto’. Nos últimos dias, ao pensar sobre a carta, comecei a passar em revista os 12 meses da minha vida na pandemia. Se eu morasse em Marte, chegasse hoje na Terra e fosse informado sobre como o Executivo brasileiro lidou com a pandemia nos últimos 12 meses, eu diria que era mentira, uma história surreal. Digo 12 meses porque, na quarta-feira, o pronunciamento oficial do presidente foi claramente uma capitulação do que ele havia falado desde março de 2020. É claro que, de vez em quando, vai ter uma recaída, mas não deixa de ser uma capitulação. Certamente, o Brasil foi o pior país do mundo na condução do combate à pandemia. Se fosse possível dois países terem regimes opostos nas políticas de combate à pandemia, eu diria que seriam a China e o Brasil.
Como assim?
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A China, de forma ditatorial, colocou todos os moradores de Wuhan em casa, com os produtos a serem consumidos entregues uma vez por semana. Se a sociedade brasileira tivesse atendido aos apelos de Bolsonaro, que taxou a pandemia de “gripezinha, mi-mi-mi, de vamos levar uma vida normal, todo mundo pega e a gente recomeça sem esse aborrecimento todo”, seriam 7 milhões de brasileiros mortos. Esse número é um cálculo aproximado do que aconteceu durante a gripe espanhola, quando morreram 3% da população, em relação ao Brasil de hoje. Poderia ser mais gente porque, claro, nem na gripe espanhola a vida foi normal. As pessoas também usaram isolamento social e a atividade econômica caiu. Não é uma acusação ao presidente, mas uma tentativa de entender como ele pensa. Nessa visão utilitarista do Bolsonaro, se morressem 3% das pessoas e sobrassem 97% para recomeçar, estaria tudo bem. Isso, evidentemente, jamais vai acontecer, porque vivemos numa democracia. Mas é essa a impressão que ele passa com o enfrentamento dos últimos 12 meses, ao ir ao Supremo Tribunal Federal (STF) para tolher a ação de prefeitos e governadores, dizer que o direito de ir e vir está na Constituição e não se pode impedir ninguém de trabalhar. É como se os prefeitos e governadores adorassem que o PIB tenha caído, sendo que eles estão desesperados por ter o sistema de saúde colapsando.
Por que o presidente capitulou agora?
Talvez por força da tragédia com a nova cepa ou porque o (o ex-presidente) Lula entrou no circuito. Ou a própria nova posição da Câmara dos Deputados, com o (presidente) Arthur Lira (PP-AL) sendo muito crítico.
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Nos últimos dias, banqueiros e empresários reuniram-se várias vezes com os líderes do Congresso. O que eles querem? Trocar ministros? Fazer pressão sobre o presidente?
O empresariado tem buscado atuar de maneira a ajudar, e evita criticar. As associações empresariais e os grandes empresários nunca são contra nenhum governo. Empresário nenhum quer encrenca e briga com o governo. Tem sido assim desde sempre. O que querem é lidar com a pandemia da melhor forma. Querem importar vacinas. Se não competirem para pegar doses com o governo, quanto mais rápido (a iniciativa privada vacinar), melhor. As vacinas trazidas pelo governo só vão chegar no segundo semestre, com exceção de uma dose mínima de Pfizer com previsão para maio, junho. Na verdade, a gente tem de correr. Os empresários querem é isso, mais nada. Querem é que o pesadelo acabe.
O pesadelo vai acabar?
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Vai, mas o problema é que vamos começar a importar vacinas – que até agora eram produzidas no Brasil com insumos vindos de fora – com 6 a 9 meses de atraso. Podíamos ter tido a Pfizer entregando 20 milhões de vacinas no Brasil em janeiro. Foi uma chance que o Brasil jogou fora. Em janeiro, fevereiro e março, 50 milhões de pessoas podiam ter sido vacinadas, mas fomos para o fim da fila.
O que significou esse atraso?
O custo do atraso é tranquilamente de 1,5% a 2% de perda no PIB este ano, algo em torno de R$ 130 bilhões a R$ 140 bilhões. Se for somado ao custo do auxílio emergencial, podese falar numa perda de R$ 200 bilhões no ano. Era muito melhor ter gasto esse dinheiro em vacinas.
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Há algo a ser feito agora, para que parte das perdas econômicas seja reduzida?
O ponto de menor custo e maior benefício é o uso de máscara boa. O número de brasileiros que usa máscaras é grande, mas a maioria tem as de má qualidade, por causa do preço. Se o governo distribuir máscaras de boa qualidade, gastará muito menos proporcionalmente por evitar contaminações.
O sr. acredita que o governo vá mudar?
O governo já mudou. Está havendo a importação de vacinas, sendo reduzidas deficiências e criado o grupo para combater a pandemia. Com muito atraso e um custo de vidas imenso, mas está sendo feito.
Como o Verde está se posicionando?
Tem algo importante que mexeu com o cenário de investimentos que é o Supremo Tribunal Federal (STF). A eleição do ano que vem está longe, mas houve uma mudança substancial nas perspectivas. A um custo imenso financeiro e de vidas, a pandemia está começando a ser resolvida. Mas a questão que vem do Supremo mexeu muito com meios subjetivos.
Como o sr. vê a próxima eleição?
Para mim, existe 90% de certeza de que o segundo turno no ano que vem será disputado entre Bolsonaro e Lula. Está longe, mas já se começa a pôr probabilidade no preço dos ativos, nos juros. Não se sabe qual Lula teremos em 2022: o do PT da última eleição, mais à esquerda, ou o de 2003 a 2008. Por conta do que aconteceu com a imagem do Bolsonaro na pandemia e com o Lula de volta, o cenário de longo prazo chegou nos preços muito antes do que se imaginava.
O sr. não vê outra alternativa para 2022?
Se tivéssemos um único candidato do centro, haveria três disputando o primeiro turno, com uma chance de uma alternativa a Lula e Bolsonaro ir para o segundo turno. Mas, na prática, isso não existe. Os empresários – e eu estou junto a eles – estão literalmente apavorados com a hipótese de ter de escolher num segundo turno entre Bolsonaro e Lula, no ano que vem. O empresariado está desesperadamente buscando um candidato do centro. Nunca, na minha vida, votei em branco, porque sempre acho que existe um mal menor. Dessa vez, se for Bolsonaro contra Lula, vou ter de votar em branco, porque não há mal menor entre os dois. É um recado para o presidente, no sentido de que melhore, porque há muitas pessoas e eleitores que pensam como eu.
Há algum nome do centro mais viável?
É muito cedo para dizer. Minha opinião pessoal, ainda que arriscando errar, entre os nomes que estão aí é o do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite. Nos outros, vejo mais problemas. Do ponto de vista dos candidatos mais ao centro, uma coisa é enfrentar o Bolsonaro. Outra é enfrentar o Bolsonaro e o Lula. O (governador de São Paulo João) Doria (PSDB-SP) e o (apresentador) Luciano Huck têm muito a perder se tiverem poucos votos. Mesmo se perder, Leite é novo e seu nome se tornaria conhecido nacionalmente para, em 2026, ter mais chances. Ele é um candidato bom, que está fazendo um governo muito bom. Mas outros podem entrar na corrida. O Doria, não só por ter feito a Coronavac como pelo esquema das vacinação, vai sair vitorioso (em termos políticos).
O sr. teme algum tipo de bolha na Bolsa, com o grande número de ofertas de ações e a entrada em massa de pessoas físicas?
Não, isso faz parte do cenário de juros baixos, que é uma conquista do Brasil. Não vamos ter mais dois dígitos de juros. Estamos em outro patamar de inflação e vamos colher os frutos econômicos disso.
O que isso significa?
O dinheiro que vem para o Brasil está sendo investido em debêntures de infraestrutura, fundos imobiliários e estruturas de crédito. É um dinheiro que, para render, está indo para a economia real. Passamos com esse dinheiro improdutivo no CDI por 26 anos. Com essa mudança, o resultado aparece na eficiência. Novos negócios estão sendo gerados para serem financiados via instrumentos modernos criados pelo mercado, pelo Banco Central, pela Comissão de Valores Mobiliários. Tudo isso é possível com a Selic mais baixa e cria uma nova dinâmica econômica. Mesmo indo a 5%, essa nova realidade não vai deixar de existir. A Selic não vai ser mais de dois dígitos. Só isso é um grande fator de otimismo. É a tal história: o governo precisa ajudar para o Brasil melhorar? Não. Basta não atrapalhar que a gente vai andar.
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