Ação do governo contra inflação onera pobres, dizem economistas

Os economistas estão prevendo um quadro no qual as famílias mais pobres convivem com preços altos por mais tempo

Estadão Conteúdo

(AndreyPopov/Getty Images)
(AndreyPopov/Getty Images)

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Ao combinar redução de impostos com expansão de gastos sociais, a resposta do governo contra os efeitos da escalada inflacionária no bolso dos brasileiros produz distorções na dinâmica de preços com consequências socioeconômicas e monetárias.

Os economistas estão prevendo um quadro no qual as famílias mais pobres convivem com preços altos por mais tempo, os juros demoram em voltar a cair e, no fim, a inflação termina o ano que vem ainda mais alta do que se previa antes das medidas.

Embora a desoneração dos combustíveis seja eficiente em derrubar abruptamente o índice oficial de preços, a ponto de a deflação – ou seja, redução de preços – ser consenso no mercado ao IPCA deste mês, o pacote do governo gera pressão inflacionária nos demais produtos, seja por aumentar a renda disponível ou deslocar gastos, seja por elevar a percepção de risco fiscal, pressionando, assim, tanto o câmbio quanto as expectativas de inflação.

Como consequência, enquanto os preços administrados – aqueles regulados pelo setor público, como combustíveis e energia elétrica – caminham para fechar o ano perto do zero, sendo que a deflação é uma possibilidade considerada, os preços livres, aqueles regidos pelas forças do mercado, incluindo alimentação, que tem maior peso no orçamento das famílias de baixa renda, devem mostrar inflação mais persistente e próxima do patamar dos dois dígitos.

“Os preços livres seguirão pressionados, sendo que o ônus maior deve recair sobre os brasileiros mais pobres. Os auxílios trazem, num primeiro momento, sensação de maior poder de compra, mas que num prazo de dois a três meses é consumida pela inflação”, comenta a economista-chefe da CM Capital, Carla Argenta.

“Para as pessoas de classe média, a tendência é que a desinflação seja mais percebida, já que o teto do ICMS causou redução significativa dos preços da gasolina [consumida por essa camada da população]”, acrescenta a economista.

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Auxílios devem ir para o consumo e pressionar preços

Com a criação e ampliação de auxílios a famílias carentes, caminhoneiros e taxistas a partir da aprovação da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) dos benefícios, também conhecida como PEC das bondades, o governo injeta na economia R$ 41 bilhões que, pelas restrições financeiras do público beneficiado, devem se converter totalmente em consumo.

É de se esperar, assim, pressão sobre os preços. Entre os resultados previstos por economistas, esses recursos podem fazer com que a inflação continue alta nas regiões do País mais dependentes de programas sociais.

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A inflação dos serviços, já em aceleração e a qual o Banco Central (BC) é sensível nas decisões sobre os juros, tende também a ganhar novo impulso, não apenas pela renda adicional gerada pelo pacote, mas também pela possibilidade de a economia com os combustíveis, agora mais baratos, ser direcionada a gastos em restaurantes, salões de beleza e viagens, entre outros.

A depender de como a conta é feita e das variáveis consideradas, as estimativas de economistas variam bastante, indo de impactos marginais, praticamente desprezíveis, à eliminação de quase toda a contribuição vinda do corte de impostos estaduais, dado o teto do ICMS, e federais aplicados nas vendas de gasolina e etanol.

Há, porém, consenso na avaliação de que o pacote de bondades anula, no mínimo, os efeitos secundários – isto é, o repasse aos demais produtos – da redução do ICMS da energia, onde o imposto estadual também passou a ter um teto de 17%.

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Estrategista de inflação da Renascença DTVM, Andrea Angelo lembra que a liberação de recursos a populações com alta propensão a consumir, como a antecipação do décimo terceiro salário a aposentados e a autorização de saques de até mil reais do FGTS, ajudou a dar um fôlego aos preços que não estava nas previsões do mercado no início do ano, levando o IPCA ao pico de pouco mais de 12% em doze meses até abril.

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