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Entre as muitas dúvidas sobre o início do ciclo e a extensão dos cortes nas taxas de juros nos Estados Unidos previstos para 2024, mais um fator tem sido agregado às análises de economistas e casas de investimentos em todo o mundo: se as eleições presidenciais americanas, marcadas para 5 de novembro, podem influenciar nessas decisões.
Embora não se questione a isenção da diretoria do Federal Reserve, é inegável que o trabalho da autoridade monetária seja alvo, no mínimo, de questionamentos nesses períodos.
Caio Megale, economista chefe da XP, citou essa dúvida na segunda-feira (15) durante um painel sobre macroeconomia no Onde Investir 2024, evento gratuito e online que o InfoMoney está realizando nesta semana.
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Ele associou essa incerteza a uma quadro conjuntural que se estabeleceu desde o final do ano passado, quando as tensões na região do Mar Vermelho interferiram no transporte marítimo e, por consequência, nos preços dos fretes internacionais.
Embora a XP ainda mantenha a projeção de que o Fomc vai começar a flexibilização em maio, Megale admitiu que uma influência dessas questões geopolíticas nos preços dos produtos é um fator a ser considerado.
“Se a inflação der um repique, por conta dos custos globais, o Fed pode pensar que maio é cedo (para cortar os juros) e jogar um pouco para a frente. Aí começa a ficar perigosamente perto da eleição”, lembrou.
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Ele explicou que os bancos centrais, normalmente, não gostam de fazer mudanças em períodos eleitorais, até para mostrar uma certa isenção. Assim, preferem começar um ciclo de cortes ou de apertos nos juros antes, para passar pela eleição dando continuidade ao trabalho, ou até realizar todo o ajuste antes da disputa.
Político ou econômico?
“Se postergar essa decisão para o 2º semestre, eleva o risco de misturar o debate político com o econômico, afetando até as próprias expectativas de inflação”, alertou, acrescentando que a disputa nos EUA este ano terão uma característica polarizada e populista, retirando bastante a racionalidade das visões para a economia. “E as contas públicas lá também estão bastante desorganizadas. Certamente, ninguém vai falar em ajustar as contas, mas de aumentar gastos ou cortar impostos”, previu.
O Morgan Stanley também analisou essas questões num relatório nesta semana. E comparou transcrições de debates dentro do Fomc em anos eleitorais. A conclusão é que as eleições nos EUA, em geral, não influenciam as políticas monetárias. Mas que os participantes do colegiado discutem frequentemente a incerteza que esses período eleições trazem aos consumidores e às empresas. Ou seja, o impacto econômico da disputa, antes e depois das eleições.
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Curiosamente, a eleição trouxe uma mudança em 2024: a reunião de novembro do Fomc está marcada para quarta-feira (06) e quinta-feira (07), uma vez que a terça-feira (5) é o dia da votação.
Em 2002, lembra o banco, o presidente Alan Greenspan comentou uma mudança similar dizendo que “se fosse no dia anterior, teríamos um problema”.”
Duas linhas de pensamento levam a esta conclusão. A Fed considera-se independente e afirmou muitas vezes o seu compromisso com os seus mandatos. Já o atual presidente, Jerome Powell, disse em discurso sobre a independência do banco central que “não pensamos em política (…) Faremos as coisas que consideramos certas para a economia (…_ quando pensamos que é o momento certo”.
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O relatório do Morgan Stanley ponderou, no entanto, que os participantes do Fomc citam com maior frequência o impacto que as eleições têm na política fiscal, tanto antes como depois das eleições. E que falam mais sobre eleições em alguns anos do que em outros, especialmente em períodos de recessões econômicas, como em 1990 e 2008.
Mas não foram encontradas provas nas transcrições das reuniões que apoiassem a ideia de que o Fomc alterou o curso da política por causa das eleições, reforçou o banco.
Sem padrão
Nos 16 anos de eleições presidenciais desde 1960, não é possível encontrar nem um padrão discernível de decisões, o que comprovaria a tese de imparcialidade. Nesses períodos, o Federal Reserve aumentou as taxas sete vezes (medidas desde dezembro anterior até às eleições de Novembro), baixou os juros em outras sete reuniões, e optou pela manutenção duas vezes (em 2012 e 2016).
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Mas essa isenção não foi seguida em 100% das vezes. Mickey Levy, professor visitante na Hoover Institution e membro do Shadow Open Market Committee, lembrou em artigo recente no The Wall Street Journal, que o presidente do Fed em 1972, Arthur Burns, manteve propositadamente as taxas baixas para ajudar a reeleger o presidente republicano Richard Nixon.