5 anos da pandemia: veja os negócios mais impactados pela Covid-19

Análise das empresas que ganharam ou perderam demanda mostra como uma crise tem consequências diferentes entre as companhias

Leonardo Guimarães

Impacto do coronavírus na migração de mercados offline para online. (Foto: Divulgação/Fretebras)
Impacto do coronavírus na migração de mercados offline para online. (Foto: Divulgação/Fretebras)

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Há cinco anos, em 11 de março de 2020, um anúncio marcou a história da humanidade: a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretava estado de pandemia devido ao avanço da Covid-19. Além dos efeitos sanitários, a doença impactou profundamente os negócios. Os efeitos econômicos do isolamento social e novos hábitos de consumo derrubaram alguns setores, enquanto outros viram a demanda crescer após as mudanças. 

Uma das lições mais importantes da crise na economia foi sobre a necessidade de se adaptar rapidamente às mudanças e estar presente nos canais digitais, destaca Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos. A pandemia ainda “expôs a necessidade de ter planos robustos de contingência e as empresas que tinham reservas financeiras e estratégias de gestão de riscos conseguiram atravessar melhor a crise”. 

Confira alguns dos impactos mais marcantes:

Quem perdeu…

Educação 

O processo de digitalização nas instituições de ensino foi brutalmente acelerado pela pandemia de Covid-19. Em 16 de março de 2020, todas as atividades presenciais nas faculdades e escolas foram suspensas, o que obrigou as instituições de ensino superior a migrar para o Ensino à Distância (EaD) por um tempo.

A crise ainda afetou o bolso dos brasileiros e fez milhares de alunos abandonarem os estudos. Na Cogna (COGN3), dona da Anhanguera, Pitágoras e Uniderp, houve queda de 28,6% no número de alunos do ensino presencial em 2020. Apesar do avanço de 17,8% nas matrículas EaD, a empresa fechou o ano com prejuízo de R$ 589 milhões, já que o online rende menos para as empresas do setor. 

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As empresas do setor listadas na Bolsa ainda não recuperaram o valor de mercado perdido por causa da pandemia. Ânima (ANIM3) caiu 77,8% nos últimos cinco anos, Cogna (COGN3) perdeu 75,11%, Yduqs (YUDQ3) recuou 69,2%. Cruzeiro do Sul (CSED3) listada mais tarde, em fevereiro de 2021, acumulou perda de 75,6% desde então. 

Enquanto o setor enfrentou os desafios da pandemia, “a tecnologia se mostrou essencial na evolução do ensino, permitindo a simulação de interações reais, como reuniões de negócios e conversas informais”, diz Eduardo Santos, vice-presidente sênior e diretor-geral da EF Education First para América Latina.

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Turismo 

Entre os setores mais afetados pelos fechamentos, o turismo brasileiro amargou queda de 59% no faturamento em 2020, segundo o Ministério do Turismo. Após 20 trimestres de prejuízo, a CVC (CVCB3) conseguiu lucro líquido no quarto trimestre de 2024. As ações, porém, ainda despencam 85,6% desde o início da crise sanitária no Brasil. 

Outro destaque do segmento nos últimos cinco anos foi a 123 milhas, que entrou com pedido de recuperação judicial em agosto de 2023. O principal impacto na empresa aconteceu na reabertura da economia, quando houve aumento da procura por viagens após a flexibilização nas regras de circulação. Os preços de passagens aéreas e hospedagens dispararam e a companhia não conseguiu pagar os custos de viagens já contratadas com preços promocionais. 

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Aviação 

O impacto da pandemia no setor aéreo foi imediato: em 2020, houve queda de 53% no número de passageiros e de 29,6% no transporte de cargas na comparação com o ano anterior, segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). 

A crise foi o gatilho para a recuperação judicial da Latam nos Estados Unidos, processo que se arrastou de maio de 2020 a novembro de 2022. A Gol (GOLL4) está em recuperação judicial nos EUA e pretende sair da condição até maio. Já a Azul (AZUL4) também foi fortemente afetada pela queda de demanda, mas chegou a um acordo com credores que evitou a RJ. 

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Negociadas a R$ 3,74 atualmente, as ações da Azul despencaram 84,8% nos últimos cinco anos. No mesmo período, os papéis da Gol amargam queda de 87,4%. 

Leia também: Economia global ainda sofre efeitos da pandemia, diz Roberto Dumas, do Insper

Restaurantes 

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Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (ABRASEL) estima que 40% dos restaurantes especializados em comida a quilo fecharam no Brasil até junho de 2021 por conta da pandemia de Covid-19. A contagem mostrava 335 mil bares e restaurantes até o momento e 1,3 milhão de postos de trabalho extintos. 

Haroldo Silva, vice-presidente do Corecon-SP, comenta que houve migração para o consumo online, “prejudicando os negócios que não se digitalizaram”. Além disso, “essas empresas continuaram com seus custos quase que totalmente mantidos, mas sem receita”. 

… e quem ganhou?

Streaming

Os serviços de plataformas como Netflix, Spotify, Prime Video, YouTube Music, Disney+ e Globoplay se tornaram parte do cotidiano da maioria dos brasileiros após a pandemia. Um levantamento do Instituto FSB Pesquisas mostrou que 75% dos brasileiros usavam plataformas de streaming em 2022. 

Outra pesquisa, feita em 2021 pela Kantar IBOPE Media, mostrou que estar mais tempo em casa por causa do distanciamento social foi determinante para 30% na decisão de assinar as plataformas que entregam entretenimento. 

Em agosto do ano passado, a Serasa mostrou, em pesquisa, que os brasileiros assinam, em média, dois serviços de streaming e gastam R$ 100 por mês com as assinaturas. 40% disseram ter medo de se endividar por conta das várias assinaturas nas plataformas. 

Logística 

O setor de logística foi outro dos beneficiados pelo aumento de demanda com os novos comportamentos de consumo pós-pandemia. Com mais pessoas comprando online e varejistas brigando para chegar mais rápido às casas dos consumidores, as empresas do segmento portuário, rodoviário e ferroviário conseguiram captar resultados melhores. 

Com isso, os fundos imobiliários que investem em galpões logísticos alugados para empresas de comércio eletrônico foram os “vencedores” do setor na pandemia

Computação em nuvem

O aumento exponencial do tráfego na internet durante o isolamento social gerou uma rápida expansão da infraestrutura global, com destaque para os serviços de computação em nuvem. Em entrevista ao site CrazyStupidTech, Matthew Prince, CEO da Cloudflare, afirmou que a pandemia de Covid-19 desempenhou um papel crucial na aceleração das tecnologias de redes e nuvem. 

O crescimento do online também desencadeou uma série de investimentos em inteligência artificial, mas as grandes empresas de tecnologia ainda não têm geração de receita tão relevante com IA como já é possível com a nuvem. 

As divisões de computação em nuvem de Amazon (AWS), Microsoft (Azure) e Google (GCP) não param de crescer. A receita da AWS subiu 30% no quarto trimestre de 2024 em comparação com o mesmo período do ano anterior, para US$ 28,79 bilhões. A Microsoft teve aumento de 21% na receita, que chegou a US$ 40,9 bilhões, enquanto a Alphabet, dona do Google, faturou US$ 11,95%, 30% que o registrado no 4T23.