2 milhões de doses da vacina Oxford/AstraZeneca feitas na Índia não chegaram ao Brasil – e entrega deve atrasar ainda mais

Negativa por parte do governo indiano afeta diretamente os planos do Ministério da Saúde do Brasil na campanha de vacinação nacional

Allan Gavioli

(Mikael Sjoberg/Bloomberg)
(Mikael Sjoberg/Bloomberg)

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SÃO PAULO – A vacinação contra a Covid-19 já começou no Brasil, com uma enfermeira do Instituto Emílio Ribas recebendo a primeira dose da CoronaVac, vacina produzida pelo Instituto Butantan e pela farmacêutica chinesa Sinovac. Mas o governo federal pode ver atrasos em outra vacina prometida pelo Ministério da Saúde para o Plano Nacional de Imunização: a da Oxford/AstraZeneca.

Duas milhões de doses da universidade britânica e pela farmacêutica americana, fabricadas pelo laboratório indiano Serum, já deveriam estar em solo nacional. Na última quinta-feira (14), um avião brasileiro estava programado para decolar rumo à Índia para buscar essas doses. Entretanto, os imunizantes prometidas ao governo brasileiro não puderam ser entregues e o próprio Itamaraty confirmou que o país iria atrasar a entrega.

A negativa oficial da Índia ao Itamaraty aconteceu após uma série de desencontros entre o que foi anunciado pelo governo federal e o que os indianos planejavam. No mesmo dia em que a comitiva brasileira deveria partir para buscar as doses, o Ministério das Relações Exteriores da Índia já demostrava que o acordo poderia não acontecer.

O jornal indiano The Times of India afirmou que o ministro de Relações Exteriores Anurag Srivastava disse que a prioridade do governo indiano é operacionalizar a sua própria campanha de imunização.

“É muito cedo para dar uma resposta específica sobre o fornecimento a outros países. Ainda estamos avaliando os cronogramas de produção e a disponibilidade para tomar decisões a esse respeito. Isso pode tomar algum tempo”, disse Srivastava em coletiva de imprensa. Após o desencontro de expectativas entre o governo brasileiro e o governo indiano, o Itamaraty confirmou que a Índia não poderia atender a demanda nacional de prontidão.

Segundo informações do Ministério das Relações Exteriores, o ministro Ernesto Araújo telefonou para o chanceler da Índia, Subrahmanyam Jaishankar, no dia em que o site indiano Hindustan Times publicou uma notícia informando que, segundo fontes do governo indiano não identificadas na matéria, ainda não há previsão de quando a Índia autorizará o fornecimento dos imunizantes a outros países, incluindo o Brasil.

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De acordo com o Itamaraty, Jaishankar manifestou a intenção de atender ao pedido brasileiro “nos próximos dias”, mas não indicou uma data para que as doses da vacina sejam liberadas. Ainda segundo a pasta, o chanceler indiano atribuiu o atraso na liberação a “problemas logísticos” decorrentes das dificuldades de conciliar o início da campanha de vacinação no país de mais de 1,3 bilhão de habitantes ao fornecimento de imunizantes para outras nações.

Resposta brasileira

A negativa por parte do governo indiano afeta diretamente os planos do Ministério da Saúde do Brasil na campanha de vacinação nacional, que tem seu início marcado para esta segunda-feira. As duas milhões de doses do imunizante que virão da Índia estão nos cálculos do governo para garantir o início da vacinação.

Em entrevista à TV Bandeirantes, Jair Bolsonaro (sem partido) admitiu que o cronograma definido pelo governo federal para o transporte das vacinas seria atrasado em “no máximo três dias”. Na ocasião, o presidente também lembrou que a campanha de vacinação na Índia afetou diretamente a disponibilidade do país em ofertar doses para outras nações.

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“Foi tudo acertado para disponibilizar dois milhões de doses. Só que hoje, nesse exato momento, está começando a vacinação na Índia. um país com 1 bilhão [de habitantes]. Então, resolveram aí atrasar um ou dois dias até que o povo comece a ser vacinado lá. Porque lá também tem as pressões políticas de um lado e de outro. Isso daí, no meu entender, daqui a dois ou três dias no máximo, nosso avião vai partir e vai trazer esses dois milhões de vacinas para cá”, afirmou Bolsonaro na última sexta-feira (15).

Após a fala de Bolsonaro, três dias se passaram e as vacinas continuam em solo indiano. O próprio Instituto Serum da Índia tem prazos diferentes para garantir a entrega. Segundo o The Times of India, o diretor do instituto, Adar Poonawalla, informou no último sábado (16) que acredita que os imunizantes devem ser enviados ao Brasil em duas semanas. A expectativa de Poonwalla foi confirmada pelo canal de notícias americano CNN.

Nesta segunda-feira (18), a coluna do jornalista Jamil Chade no portal de notícias UOL informou que o próprio governo federal ainda não tem uma data exata para o fornecimento das doses ao Brasil, citando fontes diplomáticas em Brasília.

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Segundo a coluna, o impasse maior é justamente a demanda indiana com a sua própria vacinação. Além disso, a Índia possui um olhar geopolítico em relação as doses. O país estuda conceder vacinas a preços simbólicos primeiramente a países vizinhos, como Sri Lanka, Bangladesh e Nepal. O objetivo é fortalecer a influência do país na região, disputada também pela China.

Também nesta segunda-feira, Bolsonaro postou uma foto ao lado do embaixador da Índia, Suresh Reddy. Na publicação, porém, o presidente não deu detalhes sobre qual foi a pauta discutida no encontro e apenas informou que se reuniu com o representante indiano pela manhã.

Avião foi deslocado para outras funções

Primeiramente, o plano do governo federal era utilizar uma aeronave para realizar o transporte das vacinas da Índia ao Brasil. A aeronave, que estava no Recife (Pernambuco) desde a última quinta-feira, iria para Campinas (São Paulo) e seguiria até Mumbai pegar o imunizante. Porém, precisou retornar à metrópole do interior de São Paulo na madrugada do último sábado (16), após o fracasso na negociação entre o governo brasileiro e a Índia para a importação imediata da vacina.

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O avião foi redirecionado para outro uso nacional. A aeronave da Azul Linhas Aéreas A330neo foi utilizada para levar cilindros de oxigênio a Manaus, capital do Amazonas, que vive um colapso na saúde.

De acordo com a companhia, na aeronave que iria para a Índia, foram enviados 40 cilindros ao Amazonas. Em nota, a Azul informou que o pedido para levar oxigênio a Manaus foi feito pelo Ministério da Saúde.

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Allan Gavioli

Estagiário de finanças do InfoMoney, totalmente apaixonado por tecnologia, inovação e comunicação.